Trump e Putin negociam cessar-fogo na Ucrânia
Estados Unidos e Rússia discutem proposta de trégua de 30 dias, enquanto Ucrânia e aliados questionam motivações de Moscou. A estratégia de Trump oscila entre o diálogo e o ultimato
Publicado 17/03/2025 14:56 | Editado 18/03/2025 18:56

O presidente dos EUA, Donald Trump, confirmou nesta segunda-feira (17) que discutirá com Vladimir Putin, na terça (18), a “divisão de certos ativos” na Ucrânia, incluindo territórios ocupados e centrais energéticas. A proposta de cessar-fogo de 30 dias, mediada por Washington e aceita pela Ucrânia na semana passada, enfrenta resistência russa. O Kremlin exige que Kiev renuncie a cinco regiões anexadas (Donetsk, Luhansk, Kherson, Zaporíjia e Crimeia), abandone a candidatura à OTAN e substitua seu governo.
Trump afirmou que “muito trabalho foi feito no fim de semana” e expressou otimismo: “Temos uma boa chance de pôr fim a esta guerra”. No entanto, fontes próximas às negociações revelam que os EUA pressionam por um acordo que inclua a retirada de tropas ucranianas de Kursk, região russa parcialmente ocupada por Kiev desde agosto de 2023.
As condições de Moscou: cessar-fogo ou estratégia de ganho tempo?
Putin afirmou apoiar “em princípio” a trégua, mas levantou três obstáculos:
- Retirada ucraniana de Kursk: “Todos sairão sem lutar, ou se renderão?”.
- Risco de rearmamento ucraniano: “Como garantir que a Ucrânia não usará os 30 dias para mobilizar tropas?”.
- Fiscalização do acordo: “Quem monitorará 2.000 km de frente de batalha?”.
Analistas veem nas demandas uma tentativa de consolidar vantagens. A Rússia quer tempo para retomar Kursk e enfraquecer a posição ucraniana nas negociações. Enquanto isso, a Ucrânia enfrenta escassez de soldados e perdas territoriais no leste, onde tropas russas avançam lentamente.
Pressão ocidental e a desconfiança de Kiev
A UE e o Reino Unido ampliam a pressão sobre Moscou. Em uma cúpula virtual no sábado, 30 países aliados de Kiev decidiram por “sanções coletivas” caso a Rússia rejeite a trégua. A chanceler da UE, Kaja Kallas, acusou: “As condições de Putin mostram que ele não quer paz”.
Já Volodymyr Zelensky, que substituiu o chefe do Estado-Maior ucraniano neste domingo, critica a postura russa: “Putin mente sobre a complexidade do cessar-fogo. Tudo pode ser controlado”. Ele também denunciou a “decepção” de Trump ao vincular o acordo à entrega de territórios, reforçando que “sanções devem ser intensificadas”.
O jogo de risco de Trump: entre a mediação e as ameaças
A estratégia de Trump oscila entre o diálogo e o ultimato. Enquanto o enviado Steve Witkoff negocia em Moscou, o secretário do Tesouro, Scott Bessent, advertiu: “Os EUA imporão novas sanções se a Rússia não cooperar”. Desde 2022, Washington liderou mais de 21 mil penalidades contra entidades russas, afetando setores como energia e defesa.
Porém, há ceticismo sobre concessões. Trump tem histórico de ceder a Putin. Se os EUA apoiarem demandas russas, a Ucrânia ficará encurralada. A tensão ficou clara na semana passada, quando os EUA suspenderam brevemente ajuda militar a Kiev após um desentendimento entre Trump e Zelensky.
O que esperar após a ligação de terça-feira?
Especialistas apontam três cenários:
- Acordo simbólico: Uma trégua curta, sem compromisso com fronteiras, apenas para alívio humanitário.
- Estabilização de frentes: Congelamento das linhas de combate, favorecendo a Rússia.
- Colapso das negociações: Retomada de ataques em larga escala, com EUA intensificando sanções.
Enquanto Putin evita “adiantar detalhes”, Zelensky mobiliza tropas e aliados. Para o mundo, a chamada de terça não definirá apenas o futuro da Ucrânia, mas testará os limites da diplomacia em um conflito que já deslocou 12 milhões e matou mais de 500 mil.