China e Vietnã assinam acordos e críticam protecionismo
Em meio à guerra tarifária com os EUA, Xi propõe integração regional, critica tarifas unilaterais e projeta China como liderança estável no Sudeste Asiático
Publicado 14/04/2025 11:56 | Editado 15/04/2025 10:48

O presidente da China, Xi Jinping, desembarcou nesta segunda-feira (14) em Hanói, a capital do Vietnã, para uma visita de Estado que marca o início de uma ofensiva diplomática chinesa no Sudeste Asiático. Xi foi recebido no aeroporto por autoridades vietnamitas de alto escalão, incluindo o presidente Luong Cuong.
Em declaração escrita, o líder chinês celebrou sua quarta visita ao Vietnã e afirmou que os dois países formam “uma comunidade com futuro compartilhado de importância estratégica”. O gesto simbólico foi reforçado por dezenas de acordos assinados, como memorandos de cooperação em cadeias produtivas, infraestrutura ferroviária, segurança pública, tecnologias verdes e inteligência artificial.
A viagem ocorre em meio à escalada da guerra tarifária entre Pequim e Washington, intensificada após o governo Trump elevar para 145% as tarifas sobre importações chinesas. Em resposta, a China anunciou tarifas de 125%, suspendeu exportações de minerais críticos e iniciou uma estratégia de fortalecimento de alianças regionais.
O Vietnã é hoje um dos principais destinos de indústrias que migram da China para evitar tarifas dos EUA. Ao mesmo tempo, Hanói é alvo de tarifas de 46% por parte de Washington, o que levou o governo do Vietnã a intensificar negociações com os EUA.
Em artigo publicado no jornal oficial vietnamita Nhan Dan, Xi reiterou que “guerras comerciais e tarifárias não têm vencedores” e defendeu uma “globalização econômica benéfica e inclusiva”. Segundo o presidente chinês, o mundo vive uma “transformação turbulenta” e os países asiáticos devem aprofundar sua integração frente às “forças do unilateralismo e do protecionismo”.
Ele também conclamou os vizinhos a fortalecerem cadeias regionais de valor, promoverem a modernização compartilhada e apoiarem a multipolaridade.
A retórica foi acompanhada de ações concretas. Segundo a Reuters, foram assinados mais de 40 acordos entre China e Vietnã, incluindo cooperação em ferrovias (como a linha entre Haiphong e a fronteira chinesa), energia limpa, agricultura e turismo, além do reconhecimento recíproco de certificados de origem para exportações.
A VietJet, uma companhia aérea vietnamita de baixo custo, também firmou um memorando com a chinesa COMAC para uso de aviões C909 em rotas domésticas, uma vitória simbólica para a indústria aeroespacial chinesa.
Os acordos com o Vietnã também incluem cooperação ferroviária estratégica: Pequim quer avançar com projetos financiados por empréstimos chineses, como a ferrovia de bitola padrão entre Guangxi (China) e Haiphong (Vietnã), rota que pode reduzir a dependência das cadeias logísticas impactadas pelas tarifas. Outro aceno simbólico veio da decisão de Hanói de reconhecer a autoridade da aviação civil chinesa, abrindo caminho para operação regular dos aviões COMAC na região.
A visita do presidente chinês ocorre no ano em que se celebram os 75 anos de relações diplomáticas entre os dois países e o “Ano dos Intercâmbios Culturais China-Vietnã”. Xi Jinping ainda visitará a Malásia e o Camboja. Segundo o Guardian, Pequim pretende usar a viagem para se apresentar como potência responsável, contrastando-se com os EUA.
Em conversa com o presidente espanhol Pedro Sánchez, Xi declarou que a China e a União Europeia devem “se opor conjuntamente a atos unilaterais de intimidação”. Numa declaração mais incisiva, o ministério do Comércio chinês disse que os EUA devem “cancelar completamente as tarifas retaliatórias e voltar ao caminho certo do respeito mútuo”.
A viagem de Xi Jinping ao Vietnã representa mais do que uma visita de Estado: é uma investida geoestratégica em meio a uma nova fase da guerra comercial. Enquanto os EUA endurecem suas políticas tarifárias e pressionam seus aliados, a China busca se reposicionar como líder confiável, defensora do multilateralismo e promotora do desenvolvimento regional. Com dezenas de acordos firmados, gestos simbólicos e uma retórica centrada na estabilidade e cooperação, Xi reforça sua imagem de estadista diante de um mundo em reconfiguração.