Guerra tarifária de Trump abala economia dos EUA e gera revolta em 12 estados
Medidas protecionistas do governo elevam custos, retraem investimentos e causam ação judicial inédita de governadores contra a política comercial da Casa Branca
Publicado 24/04/2025 15:53 | Editado 24/04/2025 18:12

O impacto da guerra comercial iniciada por Donald Trump começa a aparecer com mais nitidez nos indicadores econômicos dos Estados Unidos. Dados divulgados pela S&P Global mostram que o PMI Composto – um dos principais termômetros da atividade econômica – caiu de 53,5 para 51,2 pontos entre março e abril, o menor nível em 16 meses. Embora ainda acima do ponto de inflexão dos 50 pontos, o índice sinaliza para um crescimento cada vez mais tímido da economia norte-americana.
“O PMI ainda não aponta contração, mas sim uma desaceleração preocupante”, explica Felipe Uchida, sócio da Equus Capital. Ele destaca que a escalada tarifária promovida pela Casa Branca gerou um ciclo de alta de custos, retração nas exportações e deterioração da confiança do empresariado – especialmente no setor de serviços, responsável por cerca de 70% do PIB dos EUA.
Serviços em alerta e confiança em queda
O PMI de Serviços caiu de 54,4 para 51,4 no mesmo período, com destaque para o recuo na confiança dos empresários. Segundo a S&P Global, o otimismo em relação aos próximos 12 meses atingiu o menor nível desde o início da pandemia de covid-19. Para Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos, “o protecionismo pretendia fortalecer a indústria, mas acabou gerando incerteza, encarecendo a produção e afugentando investidores”.
Esse ambiente volátil se reflete também nos preços: bens e serviços subiram no maior ritmo em mais de um ano, com destaque para os produtos manufaturados – diretamente impactados pelas tarifas impostas a países como China, México e Canadá.
Estados se rebelam: processo na Justiça contra Trump
A resposta política ao cenário econômico veio nesta quarta-feira (23), quando 12 Estados norte-americanos protocolaram uma ação conjunta contra o governo Trump no Tribunal de Comércio Internacional, em Nova York. A acusação: abuso da Lei de Poderes Econômicos de Emergência Internacional para impor tarifas sem a devida autorização do Congresso.
Liderados por procuradores-gerais de estados como Arizona, Nova York e Connecticut, os autores do processo alegam que as tarifas causaram “instabilidade econômica sem precedentes”, afetando empresas, empregos e famílias. “O esquema tarifário de Trump é insano, economicamente irresponsável e ilegal”, disparou Kris Mayes, do Arizona. William Tong, de Connecticut, chamou as tarifas de “um imposto disfarçado sobre os americanos”.
Varejo em suspense: consumo antecipado e negócios paralisados
As tensões tarifárias também bagunçaram o consumo e o planejamento no setor varejista. As vendas subiram 1,4% em março, mas, segundo o Departamento de Comércio, o motivo seria a antecipação das compras para evitar os aumentos de preços. “O setor está operando no escuro. Os fornecedores estão perdidos com tanta instabilidade”, diz Lee Peterson, vice-presidente da WD Partners.
Grandes redes como Walmart, Target e Home Depot se reuniram com Trump no início da semana para discutir a situação. A Target, uma das mais afetadas, acumula queda de 32% em suas ações em 2025. “Os investidores estão receosos. Todos estão adiando planos de expansão ou novos investimentos”, relata Peterson.
Reações internacionais e tendências de adaptação
Além da pressão interna, o governo Trump enfrenta críticas externas. O Ministério do Comércio da China voltou a pedir a suspensão das tarifas, classificando-as como “ameaças e coerção”.
Enquanto isso, o setor varejista tenta se adaptar. Algumas redes estão apostando na rotatividade rápida de estoques e na economia circular, com foco em produtos usados. “Esse mercado vai explodir, principalmente se os problemas nas cadeias de suprimentos persistirem”, aposta Peterson.
Caminho incerto para a economia norte-americana
À medida que o cenário se desenrola, uma coisa parece cada vez mais evidente: as tarifas que deveriam proteger a economia americana podem estar se tornando seu calcanhar de Aquiles. O risco de estagflação – crescimento fraco com inflação alta – volta ao radar dos analistas. E a contestação judicial de uma dúzia de Estados revela um país cada vez mais dividido quanto à condução de sua política econômica.