Trump volta a mirar o Brasil: tarifas abrem disputa por mercados globais
Ofensiva protecionista de Trump impõe tarifas a exportações brasileiras, pressiona indústria nacional e obriga o País a se reposicionar estrategicamente no comércio mundial
Publicado 25/04/2025 15:58 | Editado 26/04/2025 10:24

A volta de Donald Trump à Casa Branca tem sido marcada por uma escalada agressiva no protecionismo comercial. Em um movimento que impacta diretamente 185 países, o presidente norte-americano anunciou um “tarifaço” sobre produtos importados. Embora o Brasil tenha sido um dos menos afetados — com uma tarifa geral de 10% e 25% sobre o aço —, os efeitos colaterais são vastos e estratégicos.
As declarações de Trump foram além da economia. Em entrevista à Time Magazine, ele afirmou que países como Brasil, Índia e China “ficaram ricos” à custa dos EUA, ao imporem barreiras tarifárias sobre produtos americanos. Sem provas, acusou o Brasil de sobreviver “roubando” empregos e tesouros dos EUA, e garantiu que manterá tarifas elevadas até que empresas norte-americanas tragam suas fábricas de volta para casa.
O que Trump esconde nessa retórica é que Washington criou essa lógica globalista para se beneficiar de mão de obra mais barata, e agora se vitimiza reclamando dos efeitos disso em sua indústria local. O trabalhador menos qualificado nos EUA ficou alijado dos bons salários da indústria, enquanto as grandes corporações do país enriqueceram “fabricando” um forte operariado em principalmente na Ásia. Cidades como Detroit foram desmontadas juntas com suas fábricas de automóveis, gerando miséria e subúrbios abandonados.
Trump defende as tarifas como um “tremendo sucesso”, afirmando que bilhões de dólares estão sendo arrecadados e que empresas estrangeiras estão migrando para os EUA para evitar custos adicionais. “Não há tarifas se fizerem seus produtos aqui”, reiterou, destacando a visão de que a medida fortalece a economia local. Mais uma vez, ele acredita estar enganando seus eleitores, enquanto as bolsas e os índices econômicos do país são uma sirene estridente de como o mercado tem reagido de forma negativa às medidas de seu governo, gerando inflação e enormes perdas de valor nas empresas.
A medida impacta o Brasil de forma direta e indireta. Produtos de países que perderam competitividade no mercado norte-americano podem ser desviados para cá, inundando o Brasil com produtos de baixo custo, aumentando a concorrência.

O setor siderúrgico, por sua vez, enfrenta uma sobretaxa de 25% sobre o aço exportado aos EUA. A Abimetal-Sicetel alerta para uma possível “invasão silenciosa” de aço de outros países, pressionando a indústria nacional. A entidade defende medidas de defesa comercial urgentes, como ampliação de tarifas de importação e articulação com o governo federal.
Enquanto setores industriais enfrentam pressões, o agronegócio pode se beneficiar. A guerra comercial entre EUA e China cria espaços para o Brasil ampliar exportações de soja, carne e outros produtos, diante da saída forçada de concorrentes norte-americanos de alguns mercados asiáticos. No entanto, a volatilidade dos fluxos comerciais imposta pela guerra tarifária global exige cautela e preparo estratégico por parte dos exportadores brasileiros. Abre chances, mas exige novos paradigmas.
Mesmo diante das ameaças, o Brasil tem janela para crescer. A reconfiguração dos fluxos globais pode favorecer a inserção de produtos nacionais em mercados estratégicos, principalmente na Ásia. Para isso, será necessário reforçar infraestrutura logística, ampliar certificações internacionais e buscar acordos comerciais bilaterais ou via blocos regionais.
A possibilidade de empresas norte-americanas anteciparem compras do Brasil — como já se observa no setor automotivo — é uma brecha que pode ser explorada. Mas a ausência de uma resposta coordenada pode comprometer toda a cadeia produtiva.
Um tabuleiro em movimento
O “tarifaço” de Trump não é um episódio isolado, mas parte de uma estratégia de longo prazo que busca redesenhar o papel dos EUA na economia global, em nova ofensiva imperialista. Para o Brasil, ele representa mais do que um desafio comercial: é um teste de resiliência estratégica. A forma como o País responderá a essa pressão poderá definir sua posição nos mercados globais da próxima década.
Analistas internacionais preveem que a pressão inflacionária nos EUA forçará Trump a negociar. Para esses analistas, a economia norte-americana não suportará tarifas altas por muito tempo. A guerra de Trump não é apenas contra os adversários, mas contra o próprio tempo. Enquanto isso, a China mantém a postura rígida, mas sinais de abertura em setores como tecnologia e energia podem surgir após a reunião do Politburo do Partido Comunista, em julho.