China pode construir mais de 40 reatores nucleares ao mesmo tempo
Investimento recorde e avanços tecnológicos colocam o país na vanguarda global da energia nuclear
Publicado 29/04/2025 16:09 | Editado 29/04/2025 17:49

A China está preparada para construir simultaneamente mais de 40 unidades de energia nuclear, conforme revela o Relatório de Desenvolvimento de Energia Nuclear da China 2025, divulgado no domingo (27) pela Associação Chinesa de Energia Nuclear (CNEA). A informação foi reportada pela emissora estatal CGTN. A China pretende construir 150 novos reatores nucleares entre 2020 e 2035.
Segundo o documento, a consolidação dos reatores Hualong One — projeto de terceira geração desenvolvido pelo país — impulsionou a capacidade de construção em série de usinas nucleares, tanto em território nacional quanto no exterior.
A China iniciou a operação do primeiro reator nuclear de quarta geração do mundo, para o qual afirma ter desenvolvido cerca de 90% da tecnologia. No geral, analistas avaliam que a China provavelmente está de 10 a 15 anos à frente dos Estados Unidos em sua capacidade de implantar reatores nucleares de quarta geração em escala. Muitas tecnologias nucleares de quarta geração são conhecidas há anos, mas a abordagem da China, apoiada pelo Estado, se destaca em sua implementação.
Em 2024, o investimento chinês na construção de energia nuclear bateu recorde, alcançando 146,9 bilhões de yuans (cerca de US$ 20,16 bilhões), um aumento de mais de 50 bilhões de yuans em relação ao ano anterior.
De acordo com Cao Shudong, vice-presidente executivo da CNEA, a China passou a dominar todo o ciclo de vida da engenharia nuclear: do projeto à operação comercial. “O país é capaz de construir simultaneamente 40 unidades de energia nuclear ou mais”, afirmou. Esse avanço é atribuído ao fortalecimento da pesquisa própria, ao progresso em inovação tecnológica e à adoção de técnicas modernas, como o içamento de cúpulas em larga escala.
Além da geração elétrica, o uso civil da energia nuclear está em expansão. No inverno 2024-2025, as usinas de Haiyang, Qinshan e Hongyanhe forneceram aquecimento para mais de 14 milhões de metros quadrados de áreas urbanas. A produção de isótopos também avançou: a China passou a produzir em massa carbono-14 com reatores comerciais, consolidando sua autossuficiência nesse setor.
Embora a China tenha se baseado em uma base tecnológica estrangeira, tornou-se a principal proponente mundial da energia nuclear. As empresas chinesas estão bem à frente de seus pares ocidentais, apoiadas por uma estratégia governamental abrangente que oferece amplo financiamento e coordenação sistêmica.
Analistas avaliam que os Estados Unidos e a China provavelmente estão em pé de igualdade quando se trata de esforços para desenvolver tecnologias de fusão nuclear, mas alertam que a capacidade demonstrada pela China de implantar reatores de fissão em escala lhe dá uma vantagem quando a fusão entrar em operação.
A cooperação internacional reforça essa tendência. No último ano, o país abriu 12 instalações de pesquisa nuclear para cientistas estrangeiros e iniciou projetos com Tailândia, Bangladesh, Hungria, Polônia e Nigéria, em áreas como medicina nuclear e agricultura irradiada.
De 2008 a 2023, a participação da China em todas as patentes nucleares aumentou de 1,3% para 13,4%, e o país lidera o número de pedidos de patentes de fusão nuclear.