Peronismo lança campanha “Argentina com Cristina” em meio a tensões por unidade
Mobilização nacional denuncia a proscrição de Cristina Kirchner e marca início da disputa eleitoral; unidade do peronismo é o desafio eleitoral
Publicado 29/06/2025 16:42

Com atos realizados simultaneamente de Ushuaia a La Quiaca, o peronismo argentino deu início à campanha “Argentina con Cristina”, mobilização federal organizada pelo Partido Justicialista nacional com apoio de partidos, sindicatos e movimentos sociais. A jornada tem como principal bandeira a denúncia da proscrição política de Cristina Fernández de Kirchner, ex-presidenta e figura central da estratégia eleitoral do campo progressista.
Enquanto ainda não há definições sobre as listas para as eleições do dia 7 de setembro, o deputado Máximo Kirchner percorreu Villa Tranquila, em Avellaneda, acompanhado do senador provincial Emmanuel Santalla. “Vamos para frente, povo por povo, metro por metro”, disse Máximo. “Para que em 2027 possamos reconstruir uma Argentina que nos abrace a todos.”
Kicillof pressiona por protagonismo na província
Em paralelo à mobilização nacional, o Movimento Direito ao Futuro (MDF), liderado pelo governador Axel Kicillof, que tenta se afirmar como candidato do peronismo, realizou plenárias em diferentes regiões da província de Buenos Aires. De Santa Clara, o ministro Carlos Bianco — braço direito do governador — voltou a exigir respeito à condução política de Kicillof, e avisou: “Se não houver acordo, podemos sair com uma lista própria”.
Bianco desenhou três cenários possíveis: unidade plena, listas conjuntas com proporcionalidade ou, na pior hipótese, ruptura e candidaturas separadas, o que, segundo ele, facilitariam o avanço do presidente Javier Milei. “Com o peronismo dividido, entregamos a bola para a motosserra”, alertou.
Otermín tenta apaziguar, mas cenário é de incertezas
Responsável por intermediar os diálogos entre Kicillof e Máximo Kirchner, o prefeito de Lomas de Zamora, Federico Otermín, buscou acalmar os ânimos. “Tudo o que está acontecendo é positivo. Até o dia 19 de julho, muita tinta vai correr, mas chegaremos juntos a um bom porto”, disse. Nos bastidores, porém, cresce a desconfiança entre os grupos.
A dificuldade para definir as cabeças de chapa nas oito seções eleitorais da província é um dos principais entraves. A Terceira Seção, onde se concentram cerca de 5 milhões de eleitores, virou foco de tensão: mesmo sendo um nome cotado, Máximo Kirchner estaria relutante em se candidatar ali, e o setor ligado a Kicillof não se comprometeria a fazer campanha para ele. “Cristina resolvia esse problema”, reconheceu um dirigente do PJ.
Disputa por liderança opõe “lapiseira” a unidade
A principal divergência gira em torno da liderança política do processo eleitoral. Para os aliados de Kicillof, ele, como governador, deve comandar o processo na província. “Seu papel vai além da função institucional. Axel deve conduzir a estratégia”, disse o prefeito de Morón, Lucas Ghi. Já setores ligados ao PJ nacional sustentam que Cristina, Máximo e Sergio Massa também têm legitimidade para definir os rumos do peronismo.
Pelas redes sociais, o ex-prefeito Paco Durañona ironizou a postura de Bianco: “Consolida-se a ‘Sin Chistar’, agrupação conduzida por Axel e seu alter ego Bianco na busca por consensos”.
Massa alerta: “Ou é peronismo ou é Milei”
O Frente Renovador, liderado por Sergio Massa, já delegou ao ex-ministro da Economia a tarefa de definir os nomes nas listas. Diante da possibilidade de rompimento, Massa foi claro: “Se não houver unidade, vamos sozinhos”. Segundo um articulador, a ideia é lançar Juan Andreotti ao Senado pela Primeira Seção e usar figuras de projeção para disputar outras regiões.
Ainda assim, Massa lembrou aos mais de 200 congressistas do FR: “A unidade se constrói com generosidade. Não há espaço para mesquinharias. Ou é peronismo ou é Milei.”
Congresso estadual será decisivo
Enquanto os bastidores fervem com reuniões e articulações, o Congresso do PJ da província de Buenos Aires, marcado para sábado, 5 de julho, em Merlo, deve ser o momento-chave para definir alianças e selar (ou não) a unidade. Presidido por Fernando Espinosa, o encontro pode consolidar uma chapa única — ou confirmar o racha.
Com Cristina como centro simbólico, o desafio agora é encontrar a fórmula política que una o território e evite que a disputa interna pavimente o caminho para a direita.
Do Página 12