Lula lança maior Plano Safra da história e cobra responsabilidade social do agro
Presidente destaca crescimento econômico, defende fim de privilégios fiscais e afirma que preservar é condição para liderar produção global de alimentos
Publicado 01/07/2025 15:43 | Editado 01/07/2025 16:03

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva lançou nesta terça-feira (1º) o Plano Safra 2025/2026, o maior da história do país, e aproveitou a cerimônia para reafirmar o novo momento econômico do Brasil. O programa prevê R$ 516,2 bilhões para a agricultura empresarial e R$ 89 bilhões para a agricultura familiar, totalizando R$ 605 bilhões em crédito rural — parte de um ciclo de mais de R$ 1,7 trilhão desde o início do governo.
“Eu ando muito satisfeito com o que está acontecendo no Brasil. Se está acontecendo no governo, está acontecendo na vida de cada um de vocês”, afirmou Lula, destacando o protagonismo crescente do país no cenário internacional.
O presidente fez questão de exaltar a contribuição do setor agrícola ao crescimento do país, mas foi enfático ao cobrar contrapartidas sociais e ambientais: “Preservar é produzir mais. Quem não entendeu isso não entendeu o que é ser um empresário civilizado.”
Do campo ao clima: uma nova consciência produtiva
Em seu discurso, Lula alertou para os impactos das mudanças climáticas e citou fenômenos extremos recentes, como jogos suspensos nos EUA por calor e tempestades, para reforçar a urgência da transição ecológica na produção rural. “Estamos aprendendo a produzir mais em menos hectares, graças à preservação da natureza e à tecnologia.”
O presidente elogiou a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e defendeu a recuperação de 40 milhões de hectares de terras degradadas. “Essas terras podem gerar desenvolvimento com a floresta em pé”, declarou.
O Plano Safra incorpora critérios ambientais em seus financiamentos, com juros reduzidos para produtores que adotarem práticas sustentáveis e restrições para crédito em áreas de risco climático.
Comida para todos: Lula cobra equilíbrio entre exportação e soberania alimentar
Ao mencionar os avanços nas exportações, o presidente fez um apelo pela valorização do mercado interno. “Não posso saciar a fome dos outros sem lembrar da nossa. Produzimos 59 bilhões de ovos por ano, e de repente o preço dispara. Cadê a explicação?”, questionou Lula, cobrando responsabilidade dos empresários com os preços no país.
O presidente também citou conversas com líderes como Emmanuel Macron, Narendra Modi e Yoon Suk-yeol para ilustrar os esforços do governo em promover os produtos brasileiros mundo afora.
Tributação justa: “O rico tem que contribuir mais”
Lula voltou a criticar os privilégios fiscais e defendeu abertamente a taxação progressiva sobre grandes fortunas e lucros, citando a resistência de elites econômicas. “Quando a gente diz que quem ganha mais de R$ 1 milhão tem que pagar um pouco mais, há uma rebelião. São 140 mil pessoas que precisam contribuir para beneficiar 10 milhões.”
Ele também criticou o lobby no Congresso e elogiou a taxação de apostas online, como parte do esforço do governo para recuperar a capacidade de investimento do Estado.
Economia em alta e recado à oposição: “Não vamos pedir PIX para ninguém”
Lula celebrou o crescimento médio de 3% ao ano, a queda na inflação e o câmbio estável, reforçando o papel da equipe econômica, especialmente do ministro da Fazenda, Fernando Haddad. “Poucos países do mundo têm um ministro da Fazenda com a seriedade do Haddad. Esse país está precisando de um pouco de seriedade.”
Rejeitando a política econômica do governo anterior, o presidente lembrou que sua gestão quitou dívidas com o FMI e acumula US$ 370 bilhões em reservas. “O teto de gastos era uma camisa de força. O novo arcabouço é realista e justo”, afirmou, criticando pedidos de empréstimos internacionais.
“O pobre não é o problema. É a solução”
Encerrando sua fala, Lula reforçou a centralidade dos mais pobres no modelo econômico do governo. “Quanto mais o pobre ganhar, mais vocês vão ficar ricos. O trabalhador não é só assalariado, é consumidor”, afirmou.
Para ele, o Brasil está no caminho de se tornar novamente a sexta economia do mundo: “Esse país será do tamanho que a gente quiser. Só precisamos diminuir os privilégios para dar um pouco de direitos aos que não têm nada.”
Haddad: “Plano Safra é uma só engrenagem: justiça social com desenvolvimento”
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, também discursou no lançamento e defendeu a integração das políticas para o campo com os eixos da reforma tributária, da sustentabilidade e da industrialização rural.
Segundo Haddad, o novo ciclo é o terceiro plano recorde consecutivo, impulsionado pela supersafra e pela queda do dólar, o que contribuiu para a deflação de alimentos. “As coisas estão voltando ao nosso plano de voo desde o início.”
Ele defendeu a reforma tributária como forma de acabar com a exportação de impostos, beneficiar cooperativas e pequenos agricultores e modernizar o sistema. “Talvez seja a mudança mais dramática que o nosso sistema tributário vai viver.”
40 milhões de hectares e nova fronteira verde
Haddad destacou o programa Ecoinvest, que será lançado no fim de julho com o BNDES para financiar a recuperação de pastagens degradadas. “Vamos começar com um milhão de hectares. Isso será diferencial competitivo com qualidade ambiental.”
O ministro alertou para o risco do protecionismo internacional e defendeu o fortalecimento da imagem verde do agro brasileiro. “Nossos concorrentes vão usar qualquer pretexto para deixar de importar nossos produtos.”
Infraestrutura, PAC e recado à oposição
O ministro também ressaltou a retomada dos investimentos em logística pelo novo PAC. “Na década passada evitamos um apagão logístico. Agora vamos fazer 30 concessões de rodovias. Se entregarmos metade, já será quatro vezes mais do que o governo anterior.”
Por fim, Haddad ironizou os críticos do crescimento econômico: “Tem gente dizendo que a economia estar bem em 2026 é um problema. Mas o lado que interessa é o do Brasil.”
Plano Safra 2025/26: produção, inclusão e sustentabilidade
Com o slogan “Força para o Brasil crescer”, o Plano Safra 2025/26 prioriza a modernização do agro com responsabilidade ambiental. Além dos R$ 516,2 bilhões para grandes e médios produtores, o governo destinou R$ 89 bilhões para a agricultura familiar, com juros reduzidos, ampliação de crédito para máquinas, incentivo à agroecologia e combate à fome.
Pela primeira vez, será exigido cumprimento do Zoneamento Agrícola de Risco Climático como pré-requisito para o crédito rural. Também foram integrados programas de inovação, ampliado o apoio à construção de armazéns e criado um mecanismo de financiamento à recuperação de áreas degradadas.
O Plano institucionaliza o Pronara, programa de redução do uso de agrotóxicos, e fortalece o uso de bioinsumos. “Essa é a economia que estamos construindo”, concluiu Haddad.