IA atrapalha o aprendizado? Estudo aponta riscos para jovens
Pesquisa divulgada pelo MIT Media Lab revela que uso excessivo de ferramentas como ChatGPT compromete memória, atenção e criatividade, afetando a aprendizagem de longo prazo
Publicado 04/07/2025 10:36 | Editado 04/07/2025 11:02

Um estudo conduzido pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos, acende um alerta sobre os impactos negativos do uso da inteligência artificial generativa no aprendizado, especialmente entre jovens estudantes. Segundo a pesquisa, o uso intensivo de ferramentas como o ChatGPT pode comprometer a capacidade de memorização, o engajamento cognitivo e até mesmo o sentimento de autoria dos textos produzidos por quem recorre a essas tecnologias.
A pesquisa, divulgada este mês pelo MIT Media Lab, investigou os impactos da utilização de LLMs — sigla em inglês para Large Language Models, ou modelos de linguagem em larga escala. Trata-se de um tipo de inteligência artificial projetada para entender e gerar textos que se assemelham à linguagem humana. A LLM é usada em ferramentas como o ChatGPT, Claude.ai, Gemini (do Google), e é o que possibilita verdadeiras conversas com a IA.
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No paper, os pesquisadores mostram preocupação. “Ao longo de quatro meses, os usuários do LLM apresentaram desempenho inferior consistentemente nos níveis neural, linguístico e comportamental. Esses resultados levantam preocupações sobre as implicações educacionais de longo prazo da dependência do LLM e ressaltam a necessidade de uma investigação mais aprofundada sobre o papel da IA na aprendizagem”.

O experimento contou com 54 participantes, com idades entre 18 e 39 anos, divididos em três grupos: um que utilizava exclusivamente o ChatGPT para escrever redações, outro que recorria a mecanismos de busca tradicionais (como o Google), e um terceiro grupo que não utilizava nenhum apoio externo, confiando apenas na própria capacidade intelectual. Em sessões posteriores, os grupos foram reconfigurados para medir mudanças nos padrões cognitivos.
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Os resultados chamam atenção: o grupo que usou o ChatGPT apresentou a menor atividade cerebral, com redes neurais menos conectadas, indicando baixo esforço cognitivo durante a escrita. Além disso, esses participantes também demonstraram baixa capacidade de lembrar e citar trechos dos textos produzidos — um forte indício de comprometimento da memória de curto prazo e da internalização do conteúdo.
A pesquisa intitulada “Your Brain on ChatGPT” (Seu Cérebro no ChatGPT) e liderada pela cientista do MIT Media Lab, Nataliya Kos’myna, também apontou que os textos gerados com apoio da ferramenta foram mais homogêneos entre si, com vocabulário e estruturas repetidas, e que os próprios autores relatavam menor sensação de “posse” sobre suas obras. Em contrapartida, os estudantes que escreveram sem ajuda tecnológica tiveram maior engajamento cerebral e demonstraram uma melhor lembrança e compreensão dos argumentos utilizados em seus textos.
Apesar dos textos produzidos com IA terem sido bem avaliados por juízes reais e por um sistema automatizado, o estudo aponta que a dependência desses sistemas pode criar uma “dívida cognitiva” — um acúmulo de lacunas mentais por falta de estímulo ao raciocínio, à memória e à reflexão crítica.
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“Os benefícios do uso de IA na educação existem, mas os riscos para o desenvolvimento cognitivo são reais e mensuráveis, especialmente quando a ferramenta substitui o pensamento autônomo”, afirmam os autores.
Para educadores e formuladores de políticas públicas, o estudo serve como um alerta: é preciso refletir sobre o equilíbrio entre o uso de tecnologias na aprendizagem e a preservação das habilidades mentais que tornam o ser humano capaz de pensar criticamente, resolver problemas e construir conhecimento com profundidade.
Para ver a íntegra do estudo, clique aqui.
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