Lula defende fim dos combustíveis fósseis e justiça social no Brics
Presidente cobra ações urgentes contra crise climática e desigualdades globais em discurso na cúpula do bloco em defesa da COP30 e da saúde pública
Publicado 07/07/2025 15:08 | Editado 07/07/2025 15:18

Em discurso incisivo durante a Cúpula do Brics nesta segunda-feira (7), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu que justiça climática passa necessariamente pelo combate à fome, à pobreza e às desigualdades. Segundo ele, a mudança do clima e o colapso ambiental não podem ser enfrentados sem justiça social.
“Justiça climática é apostar em ações comprometidas com o combate à fome e às desigualdades socioambientais. Apesar de ser um direito humano, bem público e motor de desenvolvimento, a saúde global também é profundamente afetada pela pobreza e pelo unilateralismo”, afirmou Lula na Sessão Plenária “Meio Ambiente, COP30 e Saúde Global”.
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O presidente alertou que o planeta está perto de cruzar o ponto de não retorno climático. “O aquecimento global ocorre em ritmo mais acelerado do que o previsto. As florestas tropicais estão sendo empurradas para seu ponto de não retorno. A Conferência de Nice, há poucas semanas, deixou claro que o oceano está febril”, disse.
Lula defendeu a transição justa e planejada para o abandono dos combustíveis fósseis e para o desmatamento zero. “Nosso desafio é alinhar ações para evitar ultrapassar um grau e meio de aumento da temperatura do planeta. Será preciso triplicar energias renováveis e duplicar a eficiência energética. É inadiável promover a transição justa e planejada para o fim do uso de combustíveis fósseis e para zerar o desmatamento”.
Fundo para florestas e novo modelo de desenvolvimento
O presidente anunciou o lançamento do Fundo Florestas Tropicais para Sempre, previsto para a COP30, que será sediada em Belém (PA). A iniciativa visa remunerar os serviços ambientais prestados pelos biomas e pelas comunidades tradicionais e indígenas.
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“Ao proteger, conservar e restaurar territórios, criamos oportunidades para comunidades locais e povos indígenas. Os países em desenvolvimento são os mais impactados por perdas e danos. São também os que menos dispõem de meios para arcar com mitigação e adaptação”, afirmou Lula. “Não seremos simples fornecedores de matérias-primas. Precisamos acessar e desenvolver tecnologias que permitam participar de todas as etapas das cadeias de valor”, concluiu.
Saúde, pobreza e desigualdades
Lula associou diretamente justiça climática ao direito à saúde e à dignidade humana. Ele afirmou que implementar o ODS 3 (saúde e bem-estar) requer mais que boas intenções — é preciso investimento.
“Não há direito à saúde sem investimento em saneamento básico, alimentação adequada, educação de qualidade, moradia digna, trabalho e renda. No Brasil e no mundo, a renda, a escolaridade, o gênero, a raça e o local de nascimento determinam quem adoece e quem morre”, disse.
O presidente também cobrou protagonismo da Organização Mundial da Saúde (OMS) nas respostas a pandemias e destacou iniciativas do Brics, como a Rede de Pesquisa de Tuberculose e a Parceria para a Eliminação de Doenças Socialmente Determinadas, que também foi lançada durante a cúpula.
“A consolidação da Rede de Pesquisa de Tuberculose, com o importante apoio do Novo Banco de Desenvolvimento e da Organização Mundial da Saúde, bem como a cooperação regulatória em produtos médicos são exemplos concretos do quanto já avançamos como grupo”.
Brics: peso global e papel do Brasil
O BRICS é formado por 11 países: Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia e Irã. O grupo atua como espaço estratégico de articulação política e econômica entre os países do Sul Global. Juntos, eles concentram 48% da população mundial, 36% do território do planeta, 40% do PIB global e mais de 21% do comércio internacional.
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Em 2024, o comércio do Brasil com o Brics atingiu US$ 210 bilhões, com destaque para exportações de soja, petróleo, minério de ferro, carne e celulose. Apenas no primeiro semestre de 2025, o intercâmbio comercial somou US$ 107,6 bilhões, com superávit brasileiro de US$ 10,4 bilhões.
A presidência brasileira do bloco em 2025 aposta na cooperação entre países em desenvolvimento e na defesa de uma governança global mais inclusiva e eficiente. Sob o lema “Fortalecendo a Cooperação do Sul Global para uma Governança mais Inclusiva e Sustentável”, o Brasil pretende aprofundar a integração econômica, social e ambiental entre os membros do grupo.
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