Catadores enfrentam Kassab por inclusão na coleta seletiva

Catadores de material reciclável realizaram um ato público nas ruas de SP que pedia desde o fim da apreensão das carroças até o diálogo com o poder público. Manifestação terminou na em frente à sede da prefe

“Abaixo a repressão! Pelo direito ao trabalho e à cidade!”, gritavam catadores de material reciclável de São Paulo, num ato público que percorreu as ruas do centro da capital paulista, nesta terça-feira (20/06). A manifestação terminou em frente à sede da prefeitura. Os ativistas exigiam o fim da apreensão das carroças e da opressão contra os catadores, além de diálogo com o poder público, espaço para trabalhar na cidade e respeito à autonomia e à auto-organização das cooperativas.

Os manifestantes também reivindicavam livre circulação pelas ruas com as carroças, reconhecimento do trabalho deles pela sociedade e políticas públicas específicas que incluam a categoria na coleta seletiva. De acordo com o Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR), existem cerca de 20 mil catadores na cidade de São Paulo. Estima-se que, em todo o Estado, o número chegue a 50 mil.

Lideranças do movimento foram recebidas por assessores do prefeito Gilberto Kassab (PFL) e representantes da Secretaria Municipal de Serviços. Eles conseguiram oficializar a criação de uma comissão que vai discutir políticas públicas que garantam a inclusão social desses trabalhadores. A comissão será formada por quatro trabalhadores e um representante do movimento de defesa da população de rua, que terão acesso à secretaria e garantia de diálogo direto com o poder público municipal, conforme o compromisso assumido pelos representantes da prefeitura.

O MNCR avalia que esse foi um avanço importante, já que, até então, não havia nenhuma interlocução desse gênero com os catadores. A entidade pondera, no entanto, que é apenas o primeiro passo para chegar aos objetivos desejados. “Todo ano é votada na Câmara uma dotação orçamentária para a coleta seletiva, e ela não está sendo repassada para o catador. Não sabemos no que está sendo investido esse dinheiro”, disse Anderson Lopes Miranda, do Movimento Nacional de Luta e Defesa dos Direitos da População de Rua.

A categoria faz duras críticas à prefeitura paulistana, que, segundo eles, não dá suporte ao trabalho dos catadores organizados em cooperativas autogeridas ou autônomos. “Hoje muitas cooperativas não têm parceria com a prefeitura e estão precisando disso, mas ela não dá esse apoio, não quer negociação com as que não estão dentro do programa deles”, diz Eduardo Ferreira de Paula, diretor da Cooperativa dos Catadores Autônomos de Papel, Aparas e Materiais Reaproveitáveis (Coopamare), e integrante da articulação da cidade de São Paulo do MNCR. “Queremos um diálogo mais aberto com o poder público, em que a gente possa colocar nossas reivindicações junto ao prefeito para poder trabalhar conjuntamente”, completa.

O atual sistema de coleta seletiva implantado pela administração municipal atende hoje a apenas 700 catadores, em 13 centrais de triagem de material reciclável, geridas pelo poder público. A proposta que será levada pelos catadores à comissão recém criada é de que a prefeitura forneça infra-estrutura para que pelo menos 3.000 catadores sejam organizados pelo movimento em associações e cooperativas autogeridas.

“Coletamos 60 toneladas de material reciclável por dia, só na cidade de São Paulo, com nossos carrinhos e carroças, o que corresponde a 40% do total. Não ganhamos nada da prefeitura com isso”, denuncia o catador da região central Sérgio Bispo, que integra o MNCR. “Com toda a infra-estrutura que possui, a prefeitura faz 60%, gasta uma fortuna na coleta seletiva e não faz bem-feito. Nossa luta é para ser remunerado pelo nosso trabalho”.

Segundo Bispo, o governo municipal põe os catadores nas cooperativas geridas por ela para trabalhar por R$ 300, apesar de ganhar cerca de R$ 900 com cada um deles. “A gente vai sustentar de que jeito a família com esse dinheiro?”, questiona Bispo. Desde o ano passado, a categoria sofre com as ameaças da prefeitura de proibir a circulação dos catadores na região central da cidade, com o fechamento de diversas cooperativas desses trabalhadores no centro, algumas transferidas para a periferia, e com os casos de violência, apreensão e destruição dos carrinhos, carroças e do material coletado, por parte da Guarda Civil Metropolitana.

“Ainda existe esse projeto de tirar as cooperativas do centro, de debaixo dos viadutos. Por enquanto está parado, por conta das eleições. Mas, provavelmente, depois desse período, deverá acontecer uma repressão contra os catadores”, avalia Eduardo Ferreira, da Coopamare.