Produção industrial cresce sem gerar empregos, diz IBGE
Apesar de a atividade nas fábricas brasileiras ter aumentado 4,8% em maio sobre igual mês de 2005, número de contratações no período caiu 0,39%. Novas vagas dependem de investimentos.
Publicado 15/07/2006 21:42
A produção industrial brasileira teve clara reação em maio, mas o emprego nas fábricas não seguiu o mesmo caminho. As duas pesquisas mensais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para calcular o ritmo de trabalho e as contratações nas indústrias apresentaram resultados contrários. Na semana passada, foi divulgada a expansão de 4,8% da atividade nas empresas em maio sobre igual mês de 2005, o que economistas classificam de recuperação da capacidade de produção, considerada estagnada até então. No entanto, ontem foram apresentados os números de contratações referentes a maio, com queda de 0,39% no mesmo tipo de comparação.
Os dados mostram que a primeira etapa do chamado reaquecimento da produção industrial foi sustentada sem precisar de mão-de-obra nova. Para a economista Denise Cordovil, do Departamento de Indústria do IBGE, a diferença entre as pesquisas de produção e emprego deve-se a aspectos distintos de cada fase da retomada de crescimento industrial. “Para o empresário contratar, ele espera cenários mais favoráveis e sólidos (meses seguintes de melhora). Assim, ele amplia primeiro a jornada de trabalho nas fábricas antes de empregar mais funcionários”, explica.
Equação
A melhora da renda dos trabalhadores brasileiros, a inflação em queda e a oferta de crédito motivaram uma demanda maior por produtos no comércio e, conseqüentemente, à indústria. Mas essa equação não funciona da mesma forma quando o tema é trabalho, explica a economista do Instituto. “O emprego tem certa defasagem na atividade industrial em recuperação”, diz Denise. Ainda será preciso mais alguns meses de resultados positivos na produção para que os empresários retomem contratações nas fábricas.
Com o resultado de maio, a indústria registrou seu oitavo mês seguido de quedas no quadro de funcionários, quando a comparação é o mesmo período do ano anterior. Janeiro apresentou, até o momento, o pior resultado do primeiro semestre, uma redução de 0,95%. As empresas de calçados e artigos de couro e máquinas e equipamentos apresentaram a maior retração no total de funcionários: de 11,4% e 6,5%, respectivamente. As vagas aumentaram nas fábricas de alimentos e bebidas (8,5%) e de aparelhos eletroeletrônicos e de comunicações (sobretudo celulares), que elevaram em 6,8% a ocupação.
Segmentos
O crescimento da produção e até mesmo do emprego em certos segmentos da indústria, porém, não conseguiram reverter a tendência de queda do ano. Entre janeiro e maio, o total de ocupados em fábricas reduziu 0,58% sobre os mesmos cinco meses de 2005. Um dos motivos, segundo a economista do IBGE, seria o surgimento de vagas em áreas que tradicionalmente empregam menos. “Aqueles que respondem positivamente são setores pouco empregadores, exceto alimentos e bebidas, que durante o período de processamento da safra empregam muito”, comenta.
Segmentos com grande número de funcionários, segundo Denise, ainda não mostraram sinais de melhora. No ramo de vestuário e acessórios, por exemplo, a produção industrial caiu 3,51%, em relação ao mesmo período de 2005. A conseqüência foi uma retração de 6,26% no total de pessoas empregadas. Entre janeiro e maio, as empresas de calçados e artigos de couro foram as que mais demitiram, com redução de 13,2% ante os cinco meses de 2005.
Com agências