Pós-debate: Quem ganhou? Quem perdeu?

Por Virgílio Malta, na Agência Carta Maior
Quem ganhou e quem perdeu o debate da Globo? Numa linha: não houve nocaute e, aparentemente, nem W. O. Esvaziado pela ausência do participante mais esperado, o presidente Lula, o encontro foi muito menos te

Os termos utilizados foram pesados: “medo” (Heloísa Helena), “corrupção contra a democracia” (Cristovam) e que o gesto seria “um recado aos brasileiros e brasileiras: ‘Eu não estou interessado na sua opinião’” (Alckmin).



É difícil medir os ganhos ou prejuízos da falta presidencial. Não há como prever uma alteração significativa do quadro até aqui consolidado pelas pesquisas, que dão a Lula uma vitória, já no primeiro turno, com vantagem de cinco pontos sobre a margem total de seus adversários. Ou seja, de pouco mais de cinco milhões de votos.



Segundo o Datafolha, entre os três primeiros colocados, Heloísa Helena (PSOL) é a candidatada com intenções de voto menos consolidadas: 34% deles afirmam que ainda podem mudar de idéia até domingo. No caso de Alckmin, a possibilidade de alteração atinge 20% de seus eleitores e o mesmo índice, em Lula, chega a 16%. Portanto, o presidente é quem tem os votos mais definidos.



HH afinou a mira



O debate da Globo mostrou pelo menos uma novidade em relação às rodadas promovidas pela Bandeirantes (14 de agosto) e pela Gazeta (13 de setembro). Heloísa Helena afinou sua tática e apareceu como uma candidatura francamente à esquerda, buscando atacar os governos Lula e Fernando Henrique pelo que acredita serem suas semelhanças.



Em praticamente todas as suas intervenções, tentou mostrar “o fio de continuidade” entre ambos, seja no caso da política econômica, seja no caso da educação, passando pela área de energia, desemprego e segurança. Não vacilou em apontar, no tête-à-tête com Alckmin, o fato de a política de juros altos ter começado na gestão tucana. A dada altura, o ex-governador paulista esboçou certa irritação pela candidata não lhe fazer coro nos ataques ao governo: “A candidata vem sempre com essa história, mas nada fez na questão de segurança”, defendeu-se ele, diante de uma saraivada verbal da senadora.



O objetivo dela foi claro: tentar recuperar os pontos que perdeu nos últimos dias entre o eleitorado potencialmente de esquerda e apresentar-se como alternativa diferenciada dos outros dois, Heloísa também precisou sua alça de mira ao falar do PT. Provocada por Cristovam Buarque – “Nós dois saímos do PT e ambos temos carinho por sua militância” -, ela buscou tática semelhante ao seu colega de partido Plínio de Arruda Sampaio, postulante ao governo de São Paulo. Em debate na mesma Globo, dois dias antes, o psolista tentou dialogar com a base do partido, acusando sua cúpula de desvirtuar a agremiação.



Emocionada, Heloísa afirmou não ter saído do PT. “Fui expulsa, por não concordar com o presidente Lula e com o acobertamento de crimes contra a administração pública”. E procurou trazer para si a motivação pela ausência presidencial: “Ele não veio pelo medo de me enfrentar, pois tenho a mesma origem social que ele, mas não traí minha classe”.



Um raciocínio básico norteou sua atuação: “a necessidade de mudança do modelo econômico, com redução de juros, que liberará R$ 84 bilhões ao ano para as iniciativas sociais”. O número consta do que deveria ser seu programa de governo, elaborado pelo vice, César Benjamin, e não apresentado formalmente por divergências entre os partidos que a apóiam.



Mais serena do que de costume, a candidata também teve um procedimento diverso do que ocorrido anteriormente. Ao invés de se submeter a uma extenuante agenda de campanha nas horas precedentes ao encontro, dormindo poucas horas, ela resolveu descansar o dia todo no Rio de Janeiro e preparar-se com sua assessoria.



Dobradinha



A dobradinha da noite ficou por conta de Alckmin e Cristovam, que não fizeram questão de marcar diferenças maiores entre si. A todo momento um colocava a bola para o outro chutar, como no caso das promessas mútuas de aprimoramento do programa Bolsa-família. O ex-governador paulista chegou a apontar o pedetista como um dos criadores do Bolsa-escola, juntamente com seus colegas de partido, o ex-prefeito de Campinas, José Roberto Magalhães Teixeira, e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. O afago foi devolvido por Cristóvam, que agradeceu à “generosidade de FHC” pelo diálogo e aproveitamento da idéia, “embora eu estivesse na oposição”.



No entanto, o candidato do PSDB vocalizou mais claramente o credo conservador, ao atacar a posição brasileira em relação à crise do gás com a Bolívia e a necessidade de “dureza” no trato da segurança pública.



O encontro foi mais denso e mais curto – uma hora e 47 minutos – que os anteriores. Até domingo, o que importará não é o debate, mas suas repercussões. Entre os três participantes, não houve ganhadores ou perdedores, embora apoiadores deste ou daquele sempre achem que seus candidatos se deram melhor. Ninguém protagonizou uma gafe imperdoável.



Os jornais desta sexta estamparam manchetes semelhantes: Lula vira alvo em debate na Globo, disse O Globo. A Folha de S. Paulo foi além e, na linha fina, abaixo da manchete, alfineta: “Presidente preferiu ir a comício em São Bernardo do Campo, onde dividiu o palanque com 2 mensaleiros”. Anteriormente, William Bonner, no Jornal Nacional, já atacara duramente a decisão presidencial. E o noticiário das emissoras de rádio encontraram no fato novos motivos para despejar suas críticas ao presidente.



É possível que o impressionante efeito teflon de Lula, no qual nem a chamada crise do mensalão e nem o escândalo do dossiê grudaram, volte a funcionar. Mas até domingo, qualquer palpite sobre perdas e ganhos eleitorais por conta do debate é para lá de temerário.


 


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