Debate no SBT: Lula mantém tática, Alckmin muda e se contém

Por Bernardo Joffily


 


No bate-pronto, a minutos do fim do debate entre os presidenciáveis: Lula manteve a tática e a postura do debate anterior (na TV Bandeirantes, dia 8); Alckmin mudou radicalmente a sua. Num formato onde abunda

Ao que parece, o comando da candidatura PSDB-PFL reconheceu que era preciso mudar a tática e a postura. Sobretudo à luz das pesquisas Datafolha (terça-feira, com 19 pontos de vantagem para Lula) e Vox Populi (quinta, 22 pontos de frente).



''Pegadinha'', mas ''programática''



A primeira pergunta do primeiro debate, inquisitiva e condenatória — ''De onde veio o dinheiro sujo para comprar o dossiê fajuto?'' — desapareceu. E é o caso de se perguntar se vai desaparecer também do programa eleitoral de Alckmin no rádio e na TV, onde continua a comparecer.



Em sua primeira pergunta, desta vez, Alckmin preferiu uma ''pegadinha'': perguntou a Lula se ele sabia em que lugar o Brasil estava no ranking da revista inglesa The Economist. Lula rebateu que infelizmente tem muita gente ''assim, colonizado'', uma elite ''para o qual só vale para o Brasil o que sai no New York Times''. Foi uma ''pegadinha'', mas sobre um tema de programa — desenvolvimento — e não uma de inquérito policial.



Ao fim do debate, o insuspeito Blog do (Ricardo) Noblat, hospedado no portal do Estadão, deu vitória para Lula por dois a um. Os outros visitados não arriscaram escores. No dia 8, a maioria falava em empate e alguns em vitória de Alckmin, resultados desmentidos em seguida pelas pesquisas, qualitativas e dias depois quantitativas.



Lula usou e abusou da leitura de dados e números, inclusive nas considerações finais. Houve quem achasse que isso tira sua naturalidade. Diante do precedente no debate da Band, onde Alckmin questionou o presidente sobre o recurso da leitura, só se pode deduzir que a sua assessoria, depois, imagina-se, de examinar a questão e checar a reação dos eleitores nas qualitativas, concluiu que a implicância não tinha razão de ser.



Alckmin vincou com insistência a idéia de que são dois candidatos ''muito diferentes'', com a qual concorda Lula, que falou em ''dois projetos diferentes''. Ficou a impressão de que, nas considerações finais, ele iria resumir toda essa diferença em uma frase de síntese. Quando ela não veio, boa parte da insistência se perdeu.



A avaliação nesta quinta-feira de pesquisa e debate era que só um fato novo, de grandes proporções, ''um furo para anunciar na TV'', para usar a expressão do ''Ex-Blog'' do prefeito carioca Cesar Maia (PFL), pode ainda evitar a reeleição de Lula. Conforme o Datafolha e o Vox Populi, onde Alckmin já aparece com votação inferior à que teve no primeiro turno, teria que ser algo capaz de criar uma migração de eleitores no ritmo de mais de 1 milhão por dia, todos os dias até o 29 de outubro.



Decididamente, nada disso aconteceu no debate da SBT. Pelo contrário, eu diria que é provável que Lula tenha arrebanhado mais alguns indecisos. Mas confesso-me suspeito. Em breve saberemos.