PFL sai para o tudo ou nada: Agripino presidente do Senado

Por Bernardo Joffily
A bancada do PFL decidiu nesta quarta-feira (29) lançar o seu líder, José Agripino (RN), para disputar com Renan Calheiros (PMDB-AL) a presidência do Senado em fevereiro. Maior derrotado das eleições de outubro, o partido joga uma

Um observador estreitamente ligado a Renan e ao projeto de sua reeleição julga que seria muito mais perigoso o nome de um dissidente da própria base governista. E explica o porquê.



Um nome dos dissidentes teria mais chance



A correlação de forças no Senado é a mais delicada para a base do governo. O PFL teve aí o seu único resultado significativo nas eleições de outubro, ao eleger seis senadores. Com isso, soma 18 no total, embora este número deva se reduzir devido a defecções até fevereiro. O PSDB elegeu cinco e totaliza 15, número também sujeito a redução. Mas mesmo agregando-se o PPS e o Psol, cada um com uma única cadeira, não chegam à maioria dos 81 senadores. A esperança oposicionista volta-se então para as dissidências em outros partidos, particularmente o PMDB



No partido de Renan Calheiros, que marcha para absorver as defecções na oposição e se tornar a maior bancada do Senado, há um grupo que se declarou em dissidência na semana passada. Enquanto o presidente da sigla, deputado Michel Temer (SP), ia a Lula acertar a participação no governo, seis senadores se proclamaram “independentes”. Este grupo afasta-se do governo  movido sobretudo por interesses locais — exceto Pedro Simon, reeleito no Rio Grande do Sul, e que não participou da articulação dos seis.



Uma situação assemelhada surge no PDT. Enquanto o presidente do partido encontrou-se com Lula e encaminha a legenda para a base do governo, parte da bancada de cinco (Cristovam Buarque, DF, e Jeferson Peres, AM, Álvaro Dias, PR) poderia se somar a uma candidatura oposicionista.



Essa somatória, porém, ficaria facilitada caso o nome a disputar com Renan saisse dessas duas alas discordantes. E complica-se sobremaneira com a escolha de um pefelista, ainda mais José Agripino.



Postulação ainda pode até recuar



A escolha do senador, filho da outrora poderosa oligarquia potiguar dos Maia, é vista inclusive como uma homenagem, depois que ele foi preterido para vice do presidenciável tucano Geraldo Alckmin. Agripino perdeu a indivcação para vice para o também senador José Jorge (PE), na direção do PFL, por 51 votos a 46, por ter sido “queimado” pelo apoio do também senador Antonio Carlos Magalhães (BA), figura que desperta rejeições fortes até em seu partido. Agora, seu lançamento é visto como um reconhecimento.



O observador de Brasília considera a candidatura competitiva. Julga que suas chances dependem de uma hábil politização oposicionista da contenda. Mas vê dificuldades para ela evitar as defecções na oposição, estimular as adesões de dissidentes da base governista e vencer a contenda. Aposta na reeleição de Renan. E avalia até que a postulação oposicionista pode recuar antes de fevereiro, quando se dará a votação.



“Este não é um país de um lado só”



Mais uma vez, Agripino teve seu nome proposto por Antoinio Carlos Magalhães. Foram feitas consultas, por exemplo ao PPS e ao senador eleito Jarbas Vasconcelos (PE), um peemedebista do grupo dos seis. E então a bancada do PFL proclamou a escolha, reunida nesta quarta-feira às 11 horas.



Ao fazer o anúncio para a imprensa, Agripino politizou o discurso, vincou o alcance estratégico e o conteúdo anti-Lula da iniciativa. “O PFL definiu que a prioridade número um da bancada é a eleição do presidente do Senado. À medida em que esta candidatura se consolidar, a oposição terá mostrado ao país que este não é um país de um lado só, onde aquele que venceu a eleição detém a maioria do poder Executivo e impõe a maioria no poder Legislativo. O Legislativo dará uma demonstração rara de independência”, disse o senador.



O líder pefelista disse confiar também nos votos da bancada tucana. “O PSDB é um partido nitidamente de oposição e os governadores Aécio [Neves], [José] Serra e [Yeda] Crusius têm obrigação de manter uma boa relação com o presidente da República, sem que isso signifique cooptação”, comentou, quando indagado sobre as costuras que o presidente Lula começou a fazer no campo tucano.



Mas apenas o PFL participou do lançamento. E Agripino deixou escapar uma frase que põe em dúvida suas chances de vitória, ao afirmar que cabe ao PSDB definir “se a sua prioridade é a eleição de um companheiro de oposição a presidente da Casa” ou ter cargos na Mesa.



Volta por cima… ou pá de cal



Por tradição, a Mesa Diretora do Senado, como a da Câmara, costuma ser eleita por acordo entre as bancadas, com participação proporcional de representantes de cada partido. E a presidência, também segundo a praxe, cabe à legenda com maior bancada. O costume pode ser quebrado, mas aí vigora o tudo ou nada. O exemplo clássico é o da eleição da Mesa da Câmara, em fevereiro de 2005: derrotado para a presidência por Severino Cavalcanti (PP-PE), o PT terminou sem um só cargo na Mesa, embora tendo a maior bancada de deputados.



Esse fator atua com força no sentido de uma composição, inclusive junto aos oposicionistas, sejam eles dissidentes da base do governo, tucanos ou mesmo pefelistas. A cartada José Agripino é uma aposta de alto risco. Pode ser a volta por cima do PFL depois da eleição mais desastrosa em 22 anos de existência (ele só elegeu o governador do Distrito Federal, um cristão novo na legenda). E pode ser também a pá de cal.



Com agências