BF: Violência diminui em Maracanaú

Segundo secretária de Ação Social do município cearense, ''com um padrão mínimo de proteção social, diminuem os índices de agressividade''.

Por Dalwton Moura, de Fortaleza


Maior pólo industrial do estado do Ceará, o município de Maracanaú, na Região Metropolitana de Fortaleza, é exemplo das conseqüências positivas do programa Bolsa Família. Através de um rigoroso processo de acompanhamento dos beneficiados, por parte de uma equipe multidisciplinar ligada à Secretaria de Ação Social da Prefeitura, a cidade vem conseguindo resultados que incluem a diminuição das ocorrências de violência – principalmente dos crimes de assassinato – nos últimos 18 meses em que essas ações de acompanhamento social vêm sendo intensificadas.


De acordo com a secretária de Ação Social do município, Iêda Nobre, há em Maracanaú 39 mil famílias que se identificam como pobres  – com renda per capita de meio salário mínimo mensal. Destas, 29 mil têm rendimentos mensais ainda menores, entre R$ 100 e R$ 120 per capita, e recebem regularmente o Bolsa Família. “O governo federal entra com a transferência de renda, e cabe ao município acompanhar as condicionalidades: a presença escolar das crianças, o acompanhamento médico de vacinas, os exames de pré-natal. Mas, mais do que isso, procuramos levar ao pé da letra o texto da legislação que diz que os estados e municípios devem favorecer o desenvolvimento das potencialidades das famílias para geração de renda e inclusão social, além do Bolsa Família”, enfatiza a secretária.


Em Maracanaú, esse trabalho vem sendo feito de acordo com as especificidades locais, com características de pólo industrial. “Procuramos oferecer oportunidades de escolarização e qualificação para as famílias, incentivando a criação de atividades produtivas e qualificando os trabalhadores, desde o momento em que temos a notícia de que uma nova fábrica ou empreendimento vem para nossa cidade, de modo a suprir a necessidade de mão-de-obra que vai ser criada”, afirma Iêda Nobre. Ela destaca ainda que, em contrapartida aos incentivos oferecidos pelo município para a atração de indústrias, está o compromisso de empregar, sempre que possível, pessoal da própria cidade – principalmente, entre os beneficiários do Bolsa Família. Esse compromisso é concretizado na forma da legislação, com uma lei municipal de responsabilidade social.
 


Queda na violência
 


Esse esforço, de acordo com a secretária, resultou em aproximadamente 100 novos empregos com carteira assinada para beneficiários do Bolsa Família, entre julho de 2006 e janeiro deste ano. “Na maioria dos casos, uma pessoa da família melhora de situação, com um salário, mas segue na faixa de renda do programa. E é uma questão cultural a pessoa avaliar se não precisa mais receber aquele auxílio. Mas temos seis casos, até o momento, de pessoas que abriram mão de receber o benefício, porque julgaram que realmente conseguiram melhorar a situação da família como um todo, com duas ou mais pessoas empregadas”, exemplifica Iêda.


Para ela, o impacto positivo do Bolsa Família vai além do aquecimento do comércio local e da abertura de novos micro-empreendimentos do setor de serviços, a partir do dinheiro extra em circulação. Há também uma sensível diminuição dos índices de criminalidade registrados no município. A preocupação crônica com a violência já levou o Poder Público a cogitar medidas drásticas, como a implantação de lei seca.
 “Não temos ainda um estudo científico sobre isso, mas o que percebemos é que há uma redução dos indicadores de violência em Maracanaú. Quanto mais rotativo é o Bolsa Família, mais vai dando uma certa tranqüilidade nas pessoas que estão sem renda, porque elas percebem que podem se beneficiar.


Aumentamos em 10 mil o número de bolsas de 2005 para 2006, e coincidentemente caíram os indicadores de violência, principalmente de assassinatos”, detalha.
“É um indício de que, com um padrão mínimo de proteção social, diminuem os índices de agressividade”, explica.


O dinheiro do Bolsa Família, que sob o ponto de vista das classes média e alta pode parecer não mais que uma pequena ajuda, muitas vezes representa até mesmo a diferença entre ter um teto para se abrigar e não ter onde morar.


“Verificamos o desenvolvimento do comércio local, inclusive nas comunidades mais pobres. E o Bolsa Família tem servido inclusive pra pagar aluguel. Tem famílias que recebem 90 reais do programa e pagam um aluguelzinho, ajudando a diminuir o déficit habitacional”, ilustra Ieda. A secretária de Ação Social conclui dizendo que “a bolsa, por si só, não gera emancipação. Mas tem um papel social importantíssimo, comprovado. A medida só é paliativa se não houver uma cooperação entre as três esferas de governo e as várias políticas setoriais, como saúde e educação”.

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