Livro disseca relação de Tim Maia com Globo e Roberto Carlos

Tim Maia tinha apenas 8 anos e já compunha suas primeiras músicas. Aos 15, com Roberto e Erasmo Carlos, montou o conjunto Sputniks. Um ano depois, com a morte do pai, foi para os Estados Unidos, onde ficou por seis anos. Fundou um grupo vocal, no Har

À noite, ensaiava e cantava em festas, e durante o dia trabalhava num asilo, nos arredores de Nova York, dando banho em setenta velhos, para conseguir sobreviver. Foi deportado por uso de drogas. De volta ao Brasil, conheceu João Zenón Rolón, um músico nascido no Paraguai, que mais tarde adotaria o nome artístico de Fábio.


 


Além de compor sucessos como Stella, Até Parece que Foi Sonho e Velho Camarada, Fábio acompanhou de perto diversos momentos da vida de Tim Maia. Foi ele, por exemplo, a primeira pessoa a escutar o talvez maior sucesso de Tim — Azul da Cor do Mar, inspirada num pôster pregado na parede da sala de Fábio, com a foto de uma linda mulher totalmente nua à beira-mar.


 


Em lançamento da Matrix Editora, a biografia Até Parece que Foi Sonho — Meus trinta Anos de Amizade e Trabalho com Tim Maia traz a vida do polêmico cantor contada justamente por Fábio, seu maior amigo. Um trecho fornecido pela editora mostra o momento em que os dois se conheceram.


 


“Numa noite fria de inverno, lá pelas três da manhã, chegou ao Cave o robusto mulato, de estatura mediana, cabeça pequena coberta por cabelos black power, com bigodes desamparados, muito simpático e falante, vestindo camisa verde-musgo, desbotada, de mangas curtas – a mesma com a qual saíra da prisão –, e chinelos de dedo, apesar do frio vigente, para espanto meu e de Almir, que o recebera à porta, depois de um breve incidente com o leão-de-chácara Canário, que não queria deixá-lo entrar na boate naqueles trajes.”


 


Três décadas de relação
A empatia entre Fábio e Tim Maia foi imediata. Nascia ali uma amizade que duraria 30 anos — e também uma parceria que rendeu grandes sucessos aos dois. Nesse período, Fábio acompanhou a ascensão de Tim Maia ao estrelato, além de ter presenciado fatos marcantes desse gênio da MPB.


 


No livro, ele revela várias dessas passagens, que também são parte de sua própria vida pessoal. Como o momento em que Tim, já de bem com a vida financeira, compra um belo apartamento, de frente para o mar, na Barra da Tijuca, e do qual, inclusive, se auto-elegeu, simbolicamente, o “síndico”. Vem daí a menção de Jorge Benjor, que manda “chamar o Síndico Tim Maia” na canção Alô, W/Brasil.


 


Outro momento que chama a atenção é a viagem que Tim faz a Paris, onde praticamente não põe os pés. Ao descer de um táxi, na chegada ao Champs-Elysées, o cantor não observou que um guarda orientava o trânsito e os pedestres, e atravessou a rua com o sinal vermelho. O guarda foi atrás dele e o trouxe pelo braço, para mostrar o sinal e lhe aplicar uma multa de 25 francos, a ser paga imediatamente.


 


Tim não gostou: “No Brasil não tem essas frescuras”, disse ao guarda. “Não vou pagar porra nenhuma!” O guarda o ameaçou de prisão. O cantor se convenceu e pagou a multa, mas não quis mais passear. Chamou a mulher que o acompanhava e voltou dali mesmo para o aeroporto.


 


A obra mostra também como foi a relação de Tim com Roberto Carlos e lembra a a casa que ele comprou e teve que demolir. Conta a “geladeira” da Rede Globo, os amores, a solidão, as brigas, a seita Universo em Desencanto e muitas outras histórias.