Franceses se mobilizam contra extradição de Battisti

“Tentaremos conseguir que Battisti não seja extraditado”, disse o deputado francês e ex-ministro do Meio Ambiente Yves Cochet (Partido Verde), em entrevista ao diário Libération, sobre o romancista e ex-militante italiano de extrema esquerda Cesa

No Brasil, o novo ministro da Justiça, Tarso Genro, assegurou que o processo de extradição do preso será estudado sob a “mais estrita legalidade”. Tarso disse que o Brasil aguarda “o pedido formal de extradição”, e que caberá ao Supremo Tribunal Federal decidir, após o caso ser examinado pelo Ministério Público. “Vamos cumprir todos os trâmites legais, sem nenhum tipo de parcialidade”, afirmou.



Mas o caso tem tido maior repercussão na França, onde em 2004 uma campanha contra a extradição mobilizou intelectuais e partidos de esquerda como o Partido Socialista e o Partido Comunista Francês. A ferramenta de busca Google News apontava nesta quarta-feira 318 textos sobre a prisão na internet francesa, contra 175 na brasileira. Os críticos da prisão vêem no episódio “um golpe eleitoral montado por Nicolas Sarkozy”, o ministro do interior e candidato da direita nas eleições presidenciais francesas. Cochet concorda. Veja a entrevista.


P: O jornal Corriere della Sera afirmava ontem que o senhor buscou ajuda política junto a parlamentares brasileiros e viajaria ao Brasil. É verdade?


R: Sobre este ponto, das informações na imprensa estrangeira, apresentaremos outras informações no fim de semana. Não nos adiantamos a respeito para não entravar o trabalho dos nossos advogados no Brasil.


P: Pensa que esta prisão tenha sido um golpe eleitoral montado por Nicolas Sarkozy?


R: Sim, principalmente porque certas pessoas, participantes do Comitê de Apoio a Cesare Battisti, têm sido mais ou menos ativamente vigiadas há alguns meses, para não dizer alguns anos. Temos indícios de estarmos sob vigilância e temos sido bastante prudentes. Mas o momento escolhido pelo ministro do Interior, presidente da UMP (União por uma Maioria Popular, principal partido da direita francesa) e candidato presidencial não tem nada de fortuito. É um golpe político que faz lembrar a prisão de Yvan Colonna (militante independentista corso, preso em 1999).


P: Desde quando essa vigilância se acentuou?



R: Na verdade, isso começou desde a partida de Battisti, dois anos e meio atrás. Os que apoiavam Battisti, como Fred Vargas (romancista francesa, com três títulos publicados no Brasil) e Lucie Abadia (que serviu de pista aos autores da prisão no Rio) não faziam segredo disto. E todos foram seguidos, uns mais, outros menos. Algumas semanas atrás, uma nota no Le Canard Enchaîné  (semanário satírico francês) afirmava, aliás, que Nicolas Sarkozy desejava que a investigação fosse acelerada. Foi o que aconteceu.


P: No plano da Justiça, pensa que existem alternativas para Cesare Battisti?


R: Sobre o mérito, existem três elementos essenciais. Primeiro, a Doutrina Mitterrand, aliás seguidas por vários governos de direita, segundo a qual a França oferece asilo aos refugiados italianos que tenham rompido com a estratégia da violência. Pedois, há o fato de que Battisti foi julgado na Itália em sua ausência, e sem recurso possível, o que é contrário às regras morais. Por fim, os processos tramitaram na Itália em presença de advogados que Battisti não escolheu. As cartas em que o governo francês se baseou para demandar a extradição são falsas. Agora, o poder brasileiro tem toda autonomia para decidir sobre a sorte dele. Nós tentaremos conseguir que Battisti não seja extraditado.


P: No âmbito da França, o que acha das reações dos demais partidos?


R: Primeiro, rendo homenagem a François Bayrou (o candidato presidencial de centro), que, desde o domingo, foi o primeiro a formular uma posição próxima da nossa. Os verdes também, claro. Em contrapartida, ficamos decepcionados com o primeiro comunicado do Partido Socialista, afirmando que Battisti deve ser extraditado. Mais ainda quando, em 2004, François Hollande (o principal dirigente do PS) visitou Cesare Battisti na prisão. Existia uma solidariedade verdadeira. Mas o tiro parece ter sido ajustado depois, especialmente por Dominique Strauss-Kahn (outra figura proeminente dos socialistas).


P: Pensa que a mobilização pode ser retomada?


R: Sim, este assunto não se encerrou. Vamos colocar em xeque a estratégia planejada por Nicolas Sarkozy enquanto ministro. Ele se atrasou propositadamente para organizar um golpe eleitoral”.


P: Mas não é normal que a polícia procurasse Battisti e tenha transmitido informações aos investigadores brasileiros?



R: Sim, este é o trabalho normal da polícia. É o timing (cronograma) que é contestável.



Com agências e Libération