O futuro da Unijuí: que universidade teremos?

Por Ângelo Schiavo, presidente do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Unijuí


A inserção dos estudantes no debate acerca da viabilização
financeira da Unijuí, além de necessária para ampliar o espectro de

Por isso, na condição de entidade representativa dos
interesses deste expressivo contingente de alunos, o Diretório Central
dos Estudantes (DCE) da Unijuí vem manifestar suas preocupações com os
resultados do processo hora em curso, para que estas conseqüências não
venham a penalizar os estudantes com ônus financeiros ainda maiores,
pelo reajuste de mensalidades, e tampouco com a queda na qualidade do
ensino.


 


Entretanto, é preciso admitir que, em nossa avaliação, são
justamente estes efeitos menos desejados que se apresentam como os de
ocorrência mais provável, no caso de ter continuidade a tendência das
ações que vem se verificando nos últimos anos. Ultimamente, os
reajustes das mensalidades vêm sendo sempre superiores aos índices de
inflação, o que representa, no mínimo, a desconsideração, pela
reitoria, da realidade econômica da região e do país e, em mais
detalhada análise, significa a defesa intransigente de um projeto ou
forma de gestão que busca uma solução simplista para o desafio de
ampliar a captação de recursos para financiar as atividades da
instituição. Além de considerarmos que a abordagem deste tema vem
sendo feito penas de forma sazonal pela reitoria, ou seja, somente nos
períodos de discussão dos índices de reajuste, também nos posicionamos
contrários à avaliação de que não é possível encontrar alternativas
para o problema. O DCE acredita que há, sim, formas de captar recursos
além das mensalidades pagas pelos estudantes, especialmente através de
uma melhor articulação política com as administrações públicas da
região, o estado e a União, cobrando e buscando maior parceria,
inclusive financeira, nas atividades em que a Unijuí compartilha ou
assume responsabilidades do poder público. E até mesmo o incremento
dos recursos vindos dessa fonte das mensalidades pode ocorrer de
maneira diferente, priorizando o aumento no número de alunos e de
créditos cursados através de uma estratégia de ação que é a redução de
valores das mensalidades, ou seja, uma prática justamente oposta a
esta que vem sendo implementada. Até porque a realidade nos mostra
que, com atual política de reajustes, a Unijuí vem perdendo alunos e
reduzindo o número de créditos cursados e, com isso reduzem-se as
oportunidades de acesso à formação superior para um grande número de
pessoas ou então as obriga a estender por muitos anos o prazo de
conclusão do curso. Ao contrário do que se prega atualmente,
entendemos que existe, sim, um grande número de pessoas que gostaria
de optar pela instituição para seus estudos, mas vem fazendo uma
escolha diferente e procurando outras faculdades justamente porque há
uma enorme diferença nos preços praticados.


 


 


A segunda esfera de efeitos desta proposta de viabilização
financeira da universidade diz respeito à redução de custos, incidindo
diretamente sobre os direitos adquiridos pelos professores e
funcionários, inclusive e, principalmente, sobre os salários
recebidos. Neste campo, vislumbramos que a continuidade da aplicação
deste projeto levará a um quadro de redução na qualidade do ensino,
com a evasão de significativo número de docentes, motivada também pela
insegurança acerca das reais condições de construção ou continuidade
de uma carreira na instituição. O DCE identifica que esta situação já
vem ocorrendo e tem ainda outras conseqüências, inclusive diretamente
sobre os alunos, com a redução das oportunidades para participar de
projetos de pesquisa e extensão. A lógica é clara: com um número menor
de docentes, sejam doutores ou mestres, tendem a reduzirem-se também
as chances de continuidade dos projetos agora em andamento e deve
também diminuir o número de novas iniciativas ou, ainda, pode haver
maior dificuldade na obtenção de recursos de financiamento. É possível
até, numa perspectiva nem tão difícil de se avaliar, que com a
constante redução das atividades acadêmicas, acabemos por perder
completamente algumas áreas do conhecimento que não sejam
absolutamente viáveis do ponto de vista econômico, como, por exemplo,
as licenciaturas. Isso é algo terrivelmente preocupante, pois o fato
de deixar de formar professores tem um enorme impacto social.


 


Por fim, resta-nos destacar que a reitoria, embora apresente
no documento hora em debate uma série de propostas práticas para
tratar da situação, não explicita o seu real significado, que é na
verdade uma ruptura e não uma transição. Trata-se da implantação de
uma diferente concepção de universidade. Os estudantes que aqui
represento estão preocupados com a seguinte questão: isto não faria
com que, em pouco tempo, a universidade perca o seu caráter
comunitário e passe a identificar-se muito mais com um perfil de
universidade de mercado? Esta mesma ruptura não traria sérias
conseqüências para a própria comunidade regional, que poderia sofrer
uma espécie de “calote”, vendo que todos os investimentos e apoio
oferecidos à universidade ao longo de toda sua história podem estar
sendo agora comprometidos? Infelizmente, a seguir por este caminho, a
perspectiva de futuro é a descaracterização desta universidade,
inclusive no que diz respeito a seu modelo de gestão, outrora autônoma
e democrática e agora passando para um processo de centralização das
decisões, que foi até este momento tolerado em razão da perspectiva de
construir-se uma solução viável para os problemas enfrentados, mas
que, a partir da concepção e das medidas hora propostas, diverge
fundamentalmente dos meios historicamente considerados aceitáveis para
alcançar esse fim.