Mais um conservador sai do BC, mas nada muda

Por André Barrocal, na Carta Maior
A cúpula do Banco Central (BC) perderá outro dirigente dos mais conservadores também por “motivos pessoais”: Rodrigo Azevedo, diretor de Política Monetária, cargo importante em decisões sobre juros e dólar. M

O Copom citado é o Comitê de Política Monetária, formado pelos diretores do BC. É quem decide a taxa básica de juros, atualmente em patamar (12,75%) que garante o maior juro real (lucro descontado da inflação) do mundo. A próxima reunião do Copom será dia 18. Não está certo se Azevedo participará. Torós precisará ser sabatinado e aprovado no Senado para assumir, processo que não costuma se esgotar em uma semana. O nome dele já foi submetido ao presidente Lula, que deve endossar a escolha, como é praxe. De acordo com Meirelles, a substituição de Azevedo conclui a montagem da diretoria do BC para o segundo governo Lula.



A troca anterior também tinha ocorrido na semana anterior ao Copom. Afonso Bevilaqua, assentado na diretoria mais importante e considerado líder dos conservadores, contudo, não participou da decisão sobre juro (leia também 'Diretor conservador decide sair um dia após divulgação do PIB'). O substituto dele já era diretor do BC, Mario Mesquita, e por isso não precisou de novo aval do Senado.



Críticas e coincidências



Além de ocorrer às vésperas do Copom e ser justificada com “motivos pessoais”, a saída de Azevedo tem mais uma coincidência em relação à troca de Bevilaqua. As duas demissões foram anunciadas dias depois de políticas da alçada dos diretores terem sofrido ataques duros. Bevilaqua deixou o BC um dia após a divulgação do baixo crescimento econômico no ano passado, resultado que economistas heterodoxos – opositores dos conservadores – atribuíram à alta taxa de juros.



Azevedo sai num momento em que o valor do dólar segue em queda livre e pode ficar abaixo de R$ 2. A diretoria de Política Monetária é a principal formuladora, no BC, de eventuais medidas sobre a moeda norte-americana. Para “heterodoxos”, a culpa do dólar barato é do juro alto do BC, que atrai o dinheiro de especuladores internacionais. Já o BC, como o “mercado”, diz que a enxurrada de dólares deriva dos saldos comerciais recordes.



Os heterodoxos condenam o dólar barato porque ele prejudica a atividade econômica. Dificulta exportações das empresas e facilita a entrada de importados. Nos dois casos, há reflexos na produção das empresas e, portanto, na criação de empregos.



Semana passada, o BC sofreu pesada crítica de um então integrante da equipe econômica num episódio que custou a demissão dele. O então secretário de Política Econômica do ministério da Fazenda, Julio Sérgio Gomes de Almeida disse, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, afirmou que a política cambial estava “dissolvendo as relações interindustriais e as relações de mercado” e provocando “a dispensa de 350 mil trabalhadores”. Ele foi demitido pelo ministro Guido Mantega, que tem feito defesa pública da política cambial do BC, apesar de reconhecer que o dólar baixo preocupa.



Meirelles negou que haja relação entre os dois episódios – as críticas e a demissão de Gomes de Almeida, e a troca de Azevedo. Segundo ele, a substituição de diretores no BC é um processo “absolutamente normal”. Disse ainda que o combinado com Azevedo era que o diretor ficaria só no primeiro governo Lula. O diretor pretende voltar ao setor privado e ficar mais tempo com a família, mesma explicação dada por Bevilaqua.



Na entrevista em que a saída foi anunciada, Azevedo defendeu a política cambial. Segundo ele, foi esta política que permitiu ao Brasil ter hoje mais de US$ 100 bilhões de reservas internacionais, o que ajuda o país a enfrentar eventuais crises no exterior que poderiam ter reflexos aqui – o preço baixo do dólar ajudou a aumentar o nível das reservas. Lembrou ainda que o câmbio é flutuante – o “mercado” define o preço do dólar. “A política de câmbio vem sendo bem-sucedida e atendendo aos objetivos”, afirmou o diretor.