Publicado 25/04/2007 18:58 | Editado 04/03/2020 17:19
As recorrentes notícias nos jornais de São Paulo sobre a aproximação entre o presidente Lula e o governador José Serra têm animado o debate sobre possíveis alianças políticas envolvendo as eleições de 2008/2010, até agora consideradas absurdas tanto por Serra quanto pelo PT, a ponto de haver desmentidos e resoluções acerca do assunto.
O fato é que há uma concentração de esforços comuns para alguns pontos fundamentais de interesse dos governos e medidas políticas que, na prática, acabam por aproximar dois pólos antagônicos do cenário político e eleitoral de São Paulo e do Brasil.
As medidas mais importantes realizadas pelo governo federal são o anúncio de investimentos expressivos do PAC em São Paulo e a possibilidade de readequar as regras sobre a capacidade de endividamento dos Estados. Por parte de Serra, verificam-se as sinalizações políticas de arrefecimento das críticas tucanas ao governo federal, o apoio fundamental do governador para a vitória dos petistas na disputa da Câmara Federal, entre outras manifestações no tabuleiro político. Lula quer o apoio dos governadores para aprovar a prorrogação da CPMF e os descontingenciamentos do DRU. Tudo muito articulado e medido, de acordo com interesses comuns.
A análise da aproximação entre Lula e Serra se deve, à primeira vista, pela pauta comum dos governos, mas que inspira uma articulação de fôlego onde colocam-se na mesa, os interesses das duas maiores forças partidárias, mesmo com todas as contradições, indignações e protestos que seus pares possam expressar, sobretudo aqueles que não estão incorporados na cena do debate.
Não será pelo acordo explícito das disputas eleitorais que passará um possível acerto entre Lula e Serra. Para além dessa análise imediatista e simples, os dois personagens podem confabular uma relação política de não esgarçamento e diálogo em pontos comuns de projetos para o Brasil. Caso Serra se viabilize candidato a presidente pelo PSDB, tomará cuidados para não bater de frente com a gestão Lula a ponto de tornarem-se inimigos (como aconteceu com Fernando Henrique Cardoso). De saída, Serra também contaria com uma intervenção moderada (senão neutra) de Lula. Tudo isso, diante de um quadro parecido com o atual, em que Lula conta com amplo apoio da sociedade, principalmente das camadas populares, tão distantes de Serra em âmbito nacional. Por outro lado, Lula pode se preparar para a disputa de 2014, se sair com patrimônio político e eleitoral que se consolida neste momento.
Portanto, haverá disputa acirrada entre os partidos para se colocarem nas melhores posições de combate e os principais personagens políticos se movimentarão intensamente para se viabilizarem em seus projetos eleitorais.
Neste cenário, correm por fora os nomes que buscam o apoio direto de Lula para alcançar viabilidade de disputa, no caso atual é de estar no páreo para a disputa nacional. Sérgio Cabral precisa dar conta do imbróglio que se encontra o Rio de Janeiro; Marta Suplicy está no dilema da disputa de São Paulo, qualquer movimentação pode deslocá-la de vôos mais altos; Aécio Neves travará disputa até o último momento pela indicação tucana, em caso de derrota restará aguardar o próximo momento ou mudar de legenda; Jaques Wagner corre por fora e busca seus aliados no PMDB e Ciro Gomes constrói uma alternativa com partidos médios de esquerda.
Sem dúvida, as eleições de 2008 cumprirão um papel de deslocamento de forças e de reforço de alianças, mesmo que estejam situadas nas localidades e de forma pontual. Em São Paulo, a disputa promete ser acirrada e determinará a permanência ou recuo de alguns nomes potenciais para 2010.
O grande problema da possível aliança ou diálogo, para os mais comedidos, entre Lula e Serra é a pauta política comum, que pode regredir conquistas da sociedade, principalmente no que diz respeito à desvinculação orçamentária, única garantia legal (e real) de investimentos para a educação e a saúde.
Rodrigo de Carvalho é sociólogo e secretário de Comunicação do PCdoB/SP