Massacres da Otan no Afeganistão provocam protestos

Furiosos protestos foram registrados na última segunda-feira (30/4) no Afeganistão depois da morte de dezenas de civis em ataques realizados pelas forças de ocupação do Pacto Militar do Atlântico Norte (Otan) e lideradas pelos Estados Unidos contra alv

Milhares de pessoas foram às ruas nas províncias de Herat, no ocidente, e Nangharhar, no leste, onde até então reinava uma relativa calma, para acusar as tropas ocupantes de “massacre a sangue frio”.



No domingo, manifestantes bloquearam a congestionada estrada entre Khalalabad e Torkham, no distrito de Ghanikhel, na província de Nangarhar, para protestar contra a violenta morte de quatro supostos guerrilheiros e duas mulheres. As tropas dos Estados Unidos atacaram uma casa onde, segundo um informante das forças da coalizão, eram preparados carros-bomba para cometer atentados suicidas contra as forças internacionais nas próximas semanas.



Por outro lado, os ocupantes insistiram esta semana que as 136 vítimas fatais da operação realizada por forças afegãs e norte-americanas durante três dias no Vale de Zerkoh, em Herat, eram rebeldes talibãs, entre os quais dois comandantes. Por outro lado, grande número de moradores do lugar foram às ruas expressar sua raiva. Alguns colocaram fogo na sede da autoridade distrital de Shindand, segundo diversas versões que não foram confirmadas pelo porta-voz local da policial, coronel Noor Khan Nekzad.



“Muitos civis morreram no choque e depois no ataque aéreo”, disse o manifestante Abdul Ghafur à agência de notícias afegã Pajhwok. Muitas famílias fugiram do lugar depois da batalha, que durou várias horas, acrescentou Ghafur, morador local que considerou injustificada a ação dos ocupantes em uma área onde “não há grupos armados”. Segundo este manifestante, os soldados norte-americanos e afegãos mataram muitos civis alheios à contenda sem terem conseguido localizar seus inimigos. Outro morador de Shindand, Abdul Manan, recordou que o feroz bombardeio aéreo noturno continuou até 10 horas da manhã.



O coronel Khan Nekzad confirmou a realização de manifestações em grande escala contra as forças ocupantes. Por sua vez, o porta-voz do Talibã, Cari Iussaf Ahmadi, assegurou que combatentes do movimento islâmico mataram, pelo menos, 28 soldados estrangeiros e afegãos e colocaram fogo em dois veículos militares. De todo modo, os ocupantes afirmaram que as forças conseguiram informação sobre atividade rebelde no vale de Zerkoh, por isso lançaram um ataque contra posições do Talibã com morteiros, armas pequenas e granadas lançadas por foguetes.



Mais tarde, as tropas pediram reforços e apoio aéreo para bombardear as posições rebeldes. “Um dos aviões lançou explosivos sobre vários objetivos inimigos”, disseram os ocupantes. Através de um comunicado divulgado pela base aérea de Bagram, o comando militar ocupante informou que um avião AC-130 equipado com artilharia “acabou com 26 combatentes do Talibã” que tentavam fugir pelas duas margens do rio Zerkh. “Um total de sete posições inimigas foram destruídas e 87 combatentes talibãs mortos em 14 horas de combate”, diz o comunicado oficial divulgado após a batalha, que aconteceu a 59,5 quilômetros de Sindand, no domingo.



Outros 49 guerrilheiros, incluídos dois comandantes talibãs locais, teriam sido mortos dois dias antes por disparos de armas pequenas e bombardeios aéreos, perto do povoado de Parmakan na mesma província. O choque começou por um ataque rebelde contra uma patrulha conjunta da policia afegã e forças especiais norte-americanas na área, segundo a coalizão. O comunicado informou que um soldado dos Estados Unidos morreu em combate.



“Os combatentes talibãs não podem com o exército afegão e as forças da coalizão”, disse o porta-voz das tropas de ocupação, major Chris Belcher. “Intensificaremos nossas operações para livrar o Afeganistão de todos os combatentes talibãs e os estrangeiros que prejudicam civis afegãos inocentes e ameaçam o governo”, advertiu. Os tiroteios quase diários entre Talibã e as tropas ocupantes no Afeganistão já causaram a morte de, pelo menos, quatro mil civis desde 2006.



Informes da província de Helmand confirmam a morte de seis crianças e mulheres em bombardeios aéreos da Otan na área de Kharko, no distrito de Garmser. A policia negou baixas entre civis. O morador Ghulam Shah disse à agência Pajhwok que todos os mortos eram civis sem ligação com nenhum grupo combatente. A área foi bombardeada depois de um ataque do Talibã às tropas ocupantes.



Manifestantes em Nangarhar garantiram que os soldados mataram a sangue frio seis pessoas, entre elas duas mulheres. Os caixões com os mortos ficaram à beira da estrada durante o protesto. As forças da coalizão asseguraram que essas pessoas foram vítimas devido ao fogo “disparado em represália”.


Fonte: Inter Press Service