Aborto: Lula diz que “congressistas é que vão resolver”
Em meio à polêmica a respeito do aborto, acirrada pela visita do papa Bento XVI ao Brasil e pela defesa do ministro da Saúde, José Gomes Temporão, para que o assunto seja discutido pela sociedade, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou hoje que o
Publicado 14/05/2007 21:44
Em entrevista coletiva concedida na Siemens em Jundiaí, Lula afirmou que durante a visita do papa ao Brasil, não cabia à presidência da República ''ficar discutindo temas que não estão na ordem do dia e que têm divergências, como pena de morte, aborto e célula-tronco'', disse.
Lula afirmou ainda que o governo não vai enviar nenhum projeto sobre o aborto. ''No tempo certo, os congressistas é que vão resolver o que devem ou não fazer nessa área.''
O debate sobre a legalização do aborto tem sido defendido pelo ministro da Saúde, José Gomes Temporão. O tema voltou a ser debatido após declarações do Papa Bento XVI , que chegou a falar em excomungar políticos mexicanos que defendem a legalização da prática. Temporão na ocasião evitou polemizar.
Oposição dividida
Mas enquanto o presidente evita polemizar sobre o assunto, no Congresso Nacional a pauta já está na ordem do dia do Congresso. Na oposição, os partidos divergem sobre o tema. O PPS divulgou nota para defender a descriminalização do aborto no país, enquanto o DEM (ex-PFL) manifestou nesta segunda-feira (14) posição contrária à prática.
O PPS critica, na nota, a ameaça do Vaticano de excomungar políticos favoráveis ao aborto. ''Se é o ato da excomunhão um direito inquestionável da igreja, é simbolicamente, nesse contexto, uma interferência indevida da religião em assuntos do Estado'', diz a nota.
O PPS defende a postura do ministro José Gomes Temporão e do presidente Lula de considerar o aborto uma questão de saúde pública. ''O governo brasileiro tem assumido posição corajosa, e a nosso ver correta, ao mostrar os perigos do aborto ilegal e clandestino, e se declarar publicamente a favor do debate sobre a legalização do procedimento.''
Seguindo a linha conservadora que sempre marcou a trajetória do PFL, atual DEM, o partido de Antônio Carlos Magalhães, Marco Maciel e Jorge Bornhausen afirma que ''os democratas são contra o aborto e a favor da vida, sempre''.
Após a visita do papa, o DEM se mostrou disposto a ''enfrentar o governo Lula e o PT no Congresso na votação contra qualquer proposta de legalização do aborto''.
O senador Heráclito Fortes (DEM-PI) disse que, apesar da posição manifestada pelo DEM em seu blog, a discussão sobre a legalização do aborto não é questão fechada no partido. ''Isso é uma questão da consciência de cada um. O ministro Temporão propôs uma discussão e não se posicionou contra ou a favor'', disse.
O PSDB não firmou posição oficial em relação ao tema. O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), disse em discurso no plenário do Senado que o país precisa encarar o aborto de forma ''realista''. Virgílio criticou o recuo do ministro Temporão no debate sobre a descriminalização do aborto.
''Estranhei sobremaneira o ministro Temporão, que é uma figura que me parece competente, capaz de exercer um bom Ministério da Saúde, ter dito que forças superiores lhe disseram para não falar mais sobre o tema'', afirmou.
Católico praticante, Virgílio defendeu a discussão do tema mesmo com a ameaça do Vaticano de excomungar políticos favoráveis à prática. ''Eu não teria como deixar de marcar a minha posição nesse episódio e não há nenhuma contradição com a minha fé católica profunda. Não me sinto obrigado a me enquadrar nesses dogmas.''
Da redação,
com agências