De vítima a ré: a violência sexual contra a criança
Quando o autor da violência sexual é o agente de poder local, seja econômico, político ou religioso, a vítima é facilmente transformada em ré, pois será culpada da revelação da violência e por ter ousado querer transformar seu lugar, na mai
Publicado 16/05/2007 18:47
Esse é um dos dados apontados no dossiê ''Quando a vítima é Criança ou Adolescente – Combater a Impunidade é garantir a Proteção'' entregue, nesta quarta-feira (16), à presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ellen Gracie.
O documento revela que muitos dos pedidos de indiciamento não saíram do papel até hoje, passados quase três anos do fim dos trabalhos da CPMI que investigou casos de exploração sexual juvenil.
Outro dado do dossiê é de que os envolvidos foram indiciados, processados, mas inocentados ou condenados e soltos após habeas corpus. Somente dois dos condenados estão presos. Dos 14 processos abertos a partir das denuncias da CPMI, nenhum foi julgado antes de um ano.
O estudo monitorou 80 casos emblemáticos investigados pela CPMI da Exploração Sexual, que funcionou de 2003 a 2004, e pediu o indiciamento de 250 pessoas em todo o Brasil.
Realidade machista
Os resultados apresentados no dossiê dão conta de uma realidade em que as vítimas são, em sua maioria, do sexo feminino. A violência sexual é produzida por uma sociedade machista e sexista, que reproduz padrões desiguais de poder entre homens e mulheres. Somente em um caso relatado a vítima é menino.
Com relação aos acusados, não há nenhum caso em que mulheres atuem como usuárias de meninos ou meninas. Os usuários são na sua totalidade do sexo masculino. As mulheres envolvidas no crime atuam como agenciadoras, aliciadoras, traficantes e administradoras de casas de prostituição, mas a regra é que não figuram como usuárias ou abusadoras.
O documento também faz referência ao poder político dos acusados. Esse aspecto tem forte influência nos resultados dos processos. Pela análise dos casos, se vê a diferença de resposta a partir do lugar de poder do autor da violência. Se a violência sexual é expressão de desigualdade de poder, a resposta da sociedade e do Estado reforça esta desigualdade.
Sem assistência
Sete anos após a construção do Plano Nacional de Enfrentamento a Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes, que determina a especialização dos serviços com a criação de varas especializadas, em apenas seis capitais estas foram criadas. Dos 14 processos, somente quatro tramitam em varas especializadas.
O dossiê também aponta para a letargia dos procedimentos de Segurança e Justiça. A análise demonstra que o Estado não tem dado, na maioria dos casos, serviço de atendimento e apoio às vítimas durante o processo judicial. 11 das 18 vítimas não receberam aplicação de medida protetiva e 12 destas não contaram com acompanhamento psicossocial.
Comemorações
O documento, que foi encaminhado pela Frente Parlamentar em Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente, comemora o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, no dia 18 de maio.
Nesta quinta-feira (17), representantes da frente parlamentar e de entidades de defesa da infância entregam o dossiê aos ministros da Justiça, Tarso Genro, e do Turismo, Marta Suplicy.
No mesmo dia, ainda como parte das atividades da semana do 18 de maio, cerca de 600 crianças e adolescentes participaram de atividades em frente ao Congresso Nacional e aos ministérios. Também estão previstos shows com grupos musicais formados por adolescentes, e do cantor de forró e integrante da frente parlamentar, deputado Frank Aguiar (PTB-SP).
De Brasília
Márcia Xavier