França: Direita tem ampla vitória; esquerda pede mobilização

A conservadora União para um Movimento Popular (UMP), partido do novo presidente francês, Nicolas Sarkozy, ganhou neste domingo (10) o primeiro turno das eleições legislativas. O resultado do pleito deu a Sarkozy – e a seu primeiro-ministro, François Fill

Com 85% dos votos apurados, a UMP obteve quase 40%. Contando com seus aliados de direita, a coalizão pró-Sarkozy chegou a 45,7% – o que representa entre 383 e 501 das 577 cadeiras da Assembléia Nacional. A direita já tem maioria absoluta desde 2002 na atual Assembléia Nacional. Se os novos resultados se confirmarem no segundo turno, domingo que vem, Sarkozy governará quase sem oposição nos próximos cinco anos.


 


Na França, há 17 milhões de eleitores, mas o voto não é obrigatório. As eleições deste domingo foram marcadas por uma forte abstenção, de cerca de 40%, em claro prejuízo à esquerda. O Partido Socialista, principal legenda da oposição, obteria cerca de 25% dos votos. Junto a comunistas, ecologistas e extrema-esquerda, chegaria a 39%. Em número de votos, a esquerda em conjunto pode conseguir entre 60 e 185 deputados.


 


Na Câmara atual, a UMP tem 359 deputados e os socialistas, 149. O PS está ameaçado pelo que pode ser sua pior derrota desde o desastre de 1993. Com ar grave, o primeiro-secretário da sigla, François Hollande, disse que o partido teve um resultado “honrado, mas não suficiente”.


 


Hollande – que tenta a reeleição no distrito de Correze – apelou aos eleitores: “Peço uma mobilização da esquerda para garantir o equilíbrio. Todos aqueles que não quiserem que um único partido controle a Assembléia Nacional devem votar no próximo domingo”.


 


Pequenos partidos


 


A votação confirma o desmoronamento da ultradireitista Frente Nacional (FN), na esteira do revés sofrido pelo líder, Jean-Marie Le Pen, nas eleições presidenciais de maio. O Movimento Democrata (MoDem), do centrista François Bayrou, também ficou reduzido na nova Câmara dos Deputados.


 


Também continuou o declínio eleitoral do Partido Comunista Francês. Com pouco mais de 4% dos votos, o PCF pode perder sua bancada (que exige um mínimo de 20 deputados), enquanto os verdes teriam até três deputados.


 


O sistema eleitoral francês prevê que o segundo turno seja realizado nas circunscrições onde nenhum candidato tenha obtido 50% dos votos, ou seja, na maioria. Para passar para o segundo turno, o candidato precisa de 12,5% dos votos do total de inscritos em cada circunscrição.


 


Tal sistema de maiorias prejudica os pequenos partidos e dá apoio extra aos mais votados. Por isso, o MoDem (com 7,50% dos votos), a Frente Nacional (4,20%) e os comunistas (4,10%,) terão sérias dificuldades para serem representados na Câmara.


 


Crise no PS


 


Assim, cinco semanas depois da vitória de Sarkozy sobre a socialista Ségolène Royal, a direita teve hoje forte avanço, apoiada no “estado de graça” do novo presidente e na dinâmica própria das eleições legislativas que seguem às presidenciais. Os socialistas terão de mobilizar seus eleitores em uma semana, para conseguir um grupo de oposição que coloque freio na “concentração de poderes” nos próximos cinco anos.


 


“A democracia precisa respirar”, insistiu neste domingo Ségoléne.  “Precisa de uma esquerda que vigie, que proponha, renove e prepare a alternância.” A socialista pediu aos milhões de eleitores que votem no domingo porque o país precisa de “uma grande força de esquerda” que “vigie” e vele para que não haja “abusos de poder”.


 


Dirigindo-se especialmente aos jovens que contribuíram para o recorde de abstenção, Royal pediu que eles votem “pela França” e “para nos ajudar a reconstruir uma esquerda nova que se preparará para a vitória de amanhã”, em alusão à eleição presidencial de 2012.


 


A nova derrota socialista nas urnas pode precipitar sua imprescindível renovação interna. Ségoléne – que abriu mão de se apresentar como candidata a deputada – não esconde seu desejo de ficar com a direção do partido. O rosto sorridente da ex-candidata contrastava com a gravidade de seu marido, François Hollande, que falou discursou antes. Ele quer continuar à frente do PS até o Congresso da “renovação” em 2008.


 


O que pretende a direita


 


Entre as reformas prometidas por Sarkozy, há importantes transformações fiscais, que custarão milhões de euros ao Estado, leis para endurecer as condições de imigração, para castigar com mais severidade os “delinqüentes” reincidentes ou garantir serviços mínimos no transporte em caso de greve.


 


A imensa maioria dos franceses considera que Sarkozy, de 52 anos, responde bem às expectativas dos cidadãos. No entanto, sua onipresença e seu estilo para exercer o poder alarmaram especialistas que temem um presidencialismo excessivo.


 


Sarkozy não parece disposto a tolerar um fracasso de sua equipe e Fillon já anunciou que os ministros que se apresentaram para deputados e perderem nas urnas devem pedir demissão.