Para escritora mexicana, Parada Gay foi cooptada pelo mercado
Leia entrevista originalmente publicada pela CartaCapital com a escritora mexicana Marina Castañeda, autora do livro A Experiência Homossexual (Editora a Girafa), lançado neste domingo, dia 10 de junho no Brasil. Na entrevista com a psic
Publicado 11/06/2007 21:20
As pessoas que convivem com homossexuais já sabem tratá-los de forma mais natural?
Marina Castañeda: Segundo as pesquisas no mundo ocidental industrializado, há cada vez mais aceitação à homossexualidade e a favor dos direitos civis dos gays. Mas ainda há aqueles que não aceitam gays como professores de escolas, como pais criando filhos e, em alguns países, nas Forças Armadas.
É bom ou ruim se homossexual nas relações profissionais e familiares? Quando a sociedade irá aprender que as diferenças podem ser benéficas?
MC: Ser gay hoje tem vantagens e desvantagens, tanto no nível social como professional ou familiar. Depende muito se é homem ou mulher. Por exemplo, a muitas lésbicas, por não serem casas nem terem filhos, lhes cai a responsabilidade de cuidar dos pais quando eles envelhecem ou adoecem. Em contrapartida, a situação delas é melhor na vida profissional do que para as heteros casadas e com filhos, claramente porque as lésbicas têm muito mais tempo e liberdade de movimento para dedicar-se ao estudo e ao trabalho.
Eventos como a Parada do Orgulho Gay, de São Paulo, podem ajudar a divulgar a situação dos homossexuais ou ser apenas confundido como uma festa?
MC: As marchas do Orgulho Gay vêm tendo diferentes funções ao longo do tempo. Nos anos 70, serviram para promover a presença e visibilidade de uma população gay até então invisível. Nos anos 80, seu papel principal foi atrair a atenção e apoio às vítimas da Aids. Desde os anos 90 tornaram-se grandes eventos culturais e comerciais, que custam muito dinheiro, são organizados por profissionais e financiados por multinacionais que aproveitam a oportunidade para mostrar-se como ''gay friendly'' com o objetivo de captar negócios no mercado gay. Hoje, na minha opinião, as paradas não servem mais ao propósito inicial, que era ganhar o respeito da sociedade heterossexual. Foram cooptadas basicamente para atender a fins comerciais.
Os homossexuais latino-americanos sofrem mais que outros nas relações sociais?
MC: Sim, é mais difícil para os homens serem gays na América Latina porque o machismo domina a nossa cultura. O machismo, entre outras coisas, promove um ideal de masculinidade no qual o homem gay é na realidade um homem afeminado e, portanto, passível de ser depreciado. O machismo e a homofobia sempre andam na mesma direção e se reforçam mutuamente.