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Berzoini critica incoerência de tucanos ao barrar investigação em SP

O presidente nacional do PT, Ricardo Berzoini, criticou nesta segunda-feira (23) a postura do PSDB em São Paulo, que tem feito de tudo para impedir a instalação de CPIs na Assembléia Legislativa para investigar denúncias de corrupção na Companhia de De

“É uma grande incoerência daqueles que no Congresso Nacional cobram investigações, inclusive sobre fatos que já estão investigados pela Polícia Federal e por outras instâncias do Estado, e que em São Paulo não querem nenhum tipo de investigação sobre nada”, afirma Berzoini.



Em entrevista ao Portal do PT, Berzoini também comentou a maneira como a mídia abordou a tragédia ocorrida no aeroporto de Congonhas com o avião da TAM que matou cerca de 200 pessoas. Para ele, a cobertura feita neste episódio se apressou em buscar culpados antes dos resultados das investigações.


 


Berzoini fala também sobre a carga tributária, que empresários e especialistas consideram agora como o novo vilão da economia, diante da seqüência de queda da taxa Selic. Na opinião dele, apesar da redução da taxa básica de juros, os juros bancários pagos pelos consumidores é muito alto e o spread (margem bancária adicionada à taxa aplicável a um crédito) praticado no Brasil é um dos maiores do mundo.


 


Leia na íntegra a entrevista do presidente nacional do PT.


 


Alguns fatos graves envolvendo o governo do PSDB de São Paulo chamaram a atenção recentemente: O líder da bancada do PT paulista afirmou que a Assembléia Legislativa de São Paulo (Alesp) abafou todos os 388 processos irregulares da CDHU, que envolviam um total de R$ 2 bilhões. O sr. acredita que a Assembléia possa julgar essas irregularidades apontadas pelo Tribunal de Contas do Estado ou isso aí vai acabar, de novo, em pizza? E com relação à CPI da CDHU, senhor considera haver uma manobra do governo tucano de SP para não deixar abrir a CPI?


Eu acho que é uma grande incoerência daqueles que, no Congresso Nacional, cobram investigações, inclusive sobre fatos que já estão investigados pela Polícia Federal e por outras instâncias do Estado, e que em São Paulo não querem nenhum tipo de investigação sobre nada. Simplesmente não aceitam qualquer apuração e usam a maioria que têm na Assembléia Legislativa para impedir que a maioria possa realizar trabalho de investigação que é próprio da atividade parlamentar. Então é uma incoerência, uma contradição, e eu acredito que em São Paulo é necessário investigações sobre várias questões, como por exemplo, o acidente nas obras do metrô, como a questão da CDHU que é notória há muito tempo. Teve até um ex-governador que demitiu o presidente da CDHU e o nomeou como seu assessor porque estava preocupado com o grau de exposição que vinha ocorrendo ali. Existem outras questões que devem ser investigadas e o Parlamento tem este papel e as CPIs, se conduzidas de uma maneira politicamente adequada, podem ser   instrumentos de investigação de questões que merecem ser apuradas.


 


Outra denúncia é a de que pessoas presas na Operação Aquarela da Polícia Civil e do Ministério Público do Distrito Federal, que desmantelou um esquema de fraudes no Banco de Brasíli (BrB), disseram à polícia que o banco oficial de São Paulo, a Nossa Caixa, também estaria ligada ao mesmo esquema. Qual a sua opinião?


É, já haviam notícias anteriores, que agora são reforçadas pela imprensa, de que  na Nossa Caixa existiria um esquema muito semelhante ao que foi descoberto no Banco Regional de Brasília (BRB). É óbvio que este é mais um elemento que deve ser investigado e apurado, se nós queremos de fato combater a corrupção no país. As operações da Polícia Federal e as investigações do Ministério Público têm apontado questões importantes para se criar uma pedagogia da moralidade pública, da probidade. Acredito que nós não podemos deixar essa questão da Nossa Caixa fora do foco das investigações, já que há precedentes da atuação do banco, inclusive em contratos de publicidade ocorridos em 2006.  


 


Qual é a análise que o sr. faz da cobertura da mídia em relação à crise do setor aéreo, principalmente agora com o acidente da TAM?  Houve, na sua opinião, um açodamento na identificação das causas e uma tentativa de criminalização forçada do governo por parte dos meios de comunicação?


Primeiro é preciso tratar esta tragédia com o máximo de respeito e responsabilidade. São famílias que foram atingidas por um fato extremamente chocante e que abala qualquer pessoa e é natural que as pessoas reajam com indignação, principalmente quando alimentadas por um tipo de noticiário que visa a julgar antes de investigar, a tirar conclusões sem ter sequer elementos para tanto. Acredito que tenha havido, sim, um açodamento por parte de setores da mídia na busca da identificação de culpados. É uma questão objetiva, não tem meio termo. Com a abertura das caixas pretas, nós vamos poder saber exatamente o que aconteceu e verificar se, de fato, houve alguma responsabilidade das autoridades que administram o setor em relação a esse acidente. Quanto à crise aérea, é óbvio que há um problema grave em curso. Há problemas que vão desde a gestão da concorrência entre as empresas até mesmo à questão do controle aéreo que durante muito tempo não teve o investimento necessário. Nós acreditamos que é preciso que o Brasil tenha, num prazo mais curto possível, uma definição sobre critérios, reservas de contingência e plano de contingência para o bom funcionamento do tráfego aéreo no país.


 


Alguns analistas econômicos afirmam que, com a queda dos juros, agora o vilão número 1 das empresas e dos consumidores é a carga tributária. Eles aconselham que a reforma tributária deve começar com corte de gastos e reduções lineares em todos os setores. Qual a sua opinião?


Bem, primeiramente, os juros básicos caíram, mas os juros que o consumidor paga nos bancos ainda são altos. O Banco Central precisa fazer um trabalho consistente para a redução da taxa de juros que o consumidor tem acesso no balcão dos bancos. O Brasil está entre os spreads   mais elevados do planeta e nosso sistema acostumou a trabalhou com um spread que não existe em lugar nenhum do mundo e nós precisamos reduzir. Agora, é óbvio que a carga tributária é um desafio. O Brasil acumulou ao longo dos anos 90 um sistema tributário altamente ineficiente, que cobra mais da produção e dos salários do que de itens como enriquecimento e patrimônio de maneira geral. É um sistema que tem vários defeitos, alguns foram resolvidos em nosso governo como o fim da cumulatividade da Cofins e também tem uma carga elevada para os setores médios da população e uma carga suave para quem é muito rico e paga menos do que a média mundial. Então, é interessante que façamos este debate com a serenidade necessária, lembrando que o atual governo já fez muita desoneração, mas é preciso fazer mais levando em consideração que o Brasil tem um compromisso com a seguridade social, que é um sistema público que muitos gostariam de privatizar, uma coisa que o nosso governo não nenhuma intenção de fazer, ao contrário, tem buscado fortalecer o sistema público de previdência social.


 


O PT pretende colher sugestões dos representantes dos principais movimentos sociais do país para o 3º Congresso. Movimentos importantes como o MST e a UNE têm aumentado o tom das críticas ao governo Lula nas últimas semanas, principalmente na mídia. Como avalia esta postura mais crítica desses movimentos?


O papel dos movimentos é o de reivindicar, mobilizar e para isso, muitas vezes, o tom tem que subir mesmo. Eu fui sindicalista por muitos anos e sei bem a diferença entre ser dirigente sindical, ser parlamentar e ser dirigente partidário. Nós não podemos comparar a pauta política de um partido com a pauta política de um movimento social. O PT sempre teve como característica um relacionamento muito intenso com os movimentos sociais, mas sempre respeitando a diferença de papel  entre partido e movimento. E eu acredito que é sempre bom um diálogo entre o PT e esses movimentos, mesmo quando nós possamos ouvir avaliações com as quais não concordamos, se for o caso. É melhor ter este diálogo com divergências do que não ter diálogo e o PT vai aproveitar, até porque ele sempre valorizou essa interação com os movimentos, para poder fazer as suas próprias reflexões sobre o seu momento.


 


Como sindicalista, como o sr. vê a criação da UGT (União Geral dos Trabalhadores)? De que forma esta nova central poderá trazer mudanças ao movimento sindical?


Ela resulta de um agrupamento de setores de centrais e uma central sindical, ou seja, há uma fusão de uma central sindical com setores de outras centrais. Eu acho que isto é positivo se for um movimento para dar maior unidade ao movimento sindical, quer dizer, uma possibilidade de termos centrais mais fortes. A UGT já nasce razoavelmente forte, tem lideranças reconhecidas, muitas delas inclusive já têm um relacionamento muito bom com a CUT, que eu creio que pode fortalecer a representatividade do movimento sindical. Uma central que busca se fortalecer neste cenário de desafios para a classe trabalhadora e fazer frente aos novos modos de produção e à introdução cada vez mais acelerada da tecnologia como fator determinante da formação da produção nacional.


 
Fonte: www.pt.org.br