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PT manifesta “total solidariedade” a Marco Aurélio Garcia

Depois de ter sua intimidade invadida e exposta de forma acintosa pela grande mídia, o assessor especial da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, começou a receber manifestações de apoio de colegas de partido. Petistas que saíram em sua defes

Na semana passada, Marco Aurélio Garcia teve imagens suas, filmadas de forma clandestina, exibidas no Jornal Nacional, da Rede Globo. Nas imagens, Garcia e um assessor aparecem fazendo gestos comuns ao cotidiano das pessoas de todas as classes, mas considerados  obscenos pelos mais moralistas. O gesto foi feito no mesmo momento em que o Jornal Nacional exibia a notícia de que o avião da TAM que explodiu em Congonhas apresentava problemas técnicos o que, de certa forma, desmascarava o discurso da imprensa em relação ao acidente. 


 


O presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), frisou que os gestos do assessor – que é vice-presidente do partido – obviamente só seriam manifestados na “intimidade”. “Ele não pode ser avaliado por uma situação como essa, até para não criar o estigma bobo e infantil de marcar uma pessoa pelo que ocorreu quando não sabia que estava sendo filmada.”


 


Na mesma linha, o secretário de Relações Internacionais da sigla, Valter Pomar, disse que o clima no partido é de “total solidariedade”.


 


 “Ele está sendo usado, exposto por uma coisa que não tem nada a ver com o que ele fez como pessoa física”, afirmou Pomar, que publicou um artigo sobre o caso na página do PT na internet. Ele confirmou ainda que Garcia deverá participar em São Paulo, na próxima segunda-feira, de um curso de política externa organizado pelo partido. 


 


O secretário de Comunicação do PT, Gleber Naime, completou: “O professor Marco Aurélio tem toda a nossa solidariedade. Sua privacidade foi invadida.”


 


Veja abaixo a íntegra do texto de Valter Pomar:


 



Filmes parecidos, desfecho a definir



Valter Pomar*
 



Dizia o filósofo que o concreto é concreto porque é síntese de múltiplas determinações. Só assim para entender adequadamente o episódio envolvendo Marco Aurélio Garcia e Bruno Gaspar.


 


Ambos foram filmados, à distância, através da janela de sua sala no Palácio do Planalto. Não sabiam que estavam sendo observados. Não autorizaram a divulgação de suas imagens. Não negaram o que estavam fazendo: reagindo ao noticiário da Globo, que revelou em primeira mão a existência de um problema mecânico no avião da TAM, problema que pode ter sido uma das causas do pavoroso acidente que vitimou duas centenas de pessoas.


 


A descoberta deste problema mecânico foi na contramão da maior parte do noticiário sobre o acidente, editorializado para culpabilizar o governo federal. Um articulista chegou a propor a manchete: “governo assassina 200 pessoas”. Frente ao problema mecânico e adotados os mesmos critérios, qual deveria ser a manchete?


 


Neste contexto, as imagens de Marco Aurélio e Bruno Gaspar foram utilizadas para “compensar” a descoberta. Com base nelas, seria possível sustentar que, mesmo que não fosse culpado pelo acidente, o governo era no mínimo insensível.


 


Claro que, para embasar esta interpretação, as imagens deveriam ser devidamente interpretadas. Como num teatro, foi convocado um narrador para “explicar” a moral da cena para a platéia: o impoluto senador Pedro Simon, que decretou ser claro que o governo era culpado, mas mesmo que não fosse, culpado era o comportamento de Marco Aurélio e Bruno Gaspar.


 


Culpado do quê, mesmo? Entre os muitos adjetivos utilizados, um dos mais recorrentes foi “obscenidade”, de obsceno, que um dicionário define assim: “torpe; contrário à decência, ao pudor; impuro; impudico; lascivo; contrário  à moral; desonesto”.


 


Pouco importa que Marco Aurélio e Bruno Gaspar tenham explicado, diversas vezes, que seu gestual (que, como todos sabem, gostemos ou não, não é nem um pouco raro em conversas privadas) não dizia respeito às vítimas do acidente. As imagens da Globo, reproduzidas nos dias seguintes por diversos meios, serviram para que fossem apresentados como dois monstros insensíveis, incapazes de se comover com a tragédia sofrida pelos passageiros, pelos que estavam no prédio atingido ou nas proximidades.


 


Claro que a insensibilidade é obscena. Como é obscena a exploração que certos  meios de comunicação fazem da dor da perda, sentimento pessoal e intransferível.


 


De nossa parte, ficamos abalados com a tragédia, com as vidas ceifadas subitamente, com a dor que tomou conta de centenas de famílias, com o temor que freqüenta a vida dos que utilizam o transporte aéreo. Assim como ficamos abalados com as tragédias cotidianas que não freqüentam as páginas dos jornais, que não ganham espaço na mídia, mas que tornam infernal a vida diária de parte importante do povo brasileiro.


 


Pena que a sensibilidade da maioria dos grandes meios de comunicação, bem como de certos impolutos cidadãos, seja seletiva, tanto social quanto politicamente.


 


Para ficar num exemplo insuspeito e relativo ao próprio tema: a condecoração que a Força Aérea Brasileira deu a dirigentes da Anac. A homenagem, devida ou indevida, deveria ter sido cancelada. Compare-se as críticas que esta homenagem recebeu, com o tratamento dado a Marco Aurélio e Bruno Gaspar, e fica claro que este último episódio está sendo superdimensionado e manipulado.


 


A tal ponto foi a coisa, que Marco Aurélio, assessor da presidência da República, foi promovido por certa imprensa à condição de “ministro” de Lula. Compreende-se o evidente prazer de certos meios: Marco Aurélio é um dos responsáveis por uma das áreas-chave do governo Lula, a política externa; é vice-presidente nacional do PT e assumiu a presidência durante a etapa final da campanha Lula 2006, quando entrou em duro atrito com setores da grande imprensa; ademais, para os padrões atuais do PT, é o que se convenciona chamar de “homem de partido” e um “intelectual de esquerda”.


 


Claro que a direita quer (mais) esta cabeça. Pode ser que haja um plano operacional (da inteligência deles, é claro) em curso; pode ser apenas o bom aproveitamento (pela direita) de oportunidades que nós do PT e do governo Lula oferecemos aos montes.


 


Seja como for, o fato é que, nos últimos anos, está em curso um processo de desmoralização pública de dirigentes do PT. Processo que se encaixa perfeitamente no principal objetivo da direita para os próximos anos: afastar o partido do governo federal, a partir de 1º de janeiro de 2011.


 


Claro, também, que a direita quer utilizar o terrível acidente para atingir o governo, omitindo que a crise (como tantas outras que se abatem sobre o país) deita raízes no desinvestimento, na desestruturação do aparato estatal, no controle das empresas privadas sobre as instituições responsáveis por impor limites à ganância, na privatização de tudo e mais um pouco, na presença militar onde se faz necessário controle civil etc.


 


Claro, finalmente, que esta situação (como outras) inclui erros administrativos e principalmente políticos de nossa parte, que facilitam à oposição difundir, em amplos setores da população, a idéia de que não estávamos nem estaríamos empenhados na solução da chamada crise área.


 


Seja como for, o fato é que este episódio vem na seqüência da  derrota da reforma política e das vaias a Lula na abertura do PAN.


 


Não se trata apenas de constatar que a direita e sua mídia não se deixam abater pela popularidade de Lula e do governo. Se trata de perceber que, se não forem modificados o padrão de gerenciamento político imperante no governo e o modus operandi do partido (especialmente da direção), podemos estar assistindo à continuação de um filme que já vimos em 2004-2005. Com a diferença de que, desta vez, talvez não haja final feliz.


 


*Valter Pomar é Secretário de Relações Internacionais do PT