Robert Fisk: Eleição no Líbano esbofeteia governo pró-EUA
Eles fizeram, de novo. Os árabes: mais uma vez, seguiram a democracia e votaram no homem errado. Justamente como os palestinos, que deveriam ter votado na Autoridade Palestina de Mahmoud Abbas, agora também os cristãos maronitas do Líbano resolveram el
Publicado 08/08/2007 19:09
Camille Khoury, com uma forte votação do Partido Armênio Tashnak, venceu por 418 votos a cadeira parlamentar que pertencia a Pierre Gemayel, assassinado em novembro passado por pistoleiros supostamente trabalhando para as forças de segurança da Síria.
Uma expressão devastadora no Oriente Médio
Embora as eleições de 2005 já tivessem mostrado que o voto dos maronitas ia num crescendo contra os Gemayel, o resultado foi uma sonora bofetada no governo apoiado pelos Estados Unidos no Líbano – Como a expressão “apoiado pelos EUA” tornou-se devastadora no Oriente Médio… Permitiu que o ex-general Michel Aoun, aliado do Hezbolá, proclamasse que “eles não podem comigo”. Aoun é candidato presidencial nas eleições do fim deste ano.
É verdade que as células eleitorais mostraram um tremendo apoio ao pai de Pierre Gemayel, Amin, ele próprio um ex-presidente, que concorreu à cadeira parlamentar de seu filho assassinado. Embora tendo se mostrado um líder fraco e irrascível – fez uma visita a Damasco para recimentar os “laços fraternos”, depois da retirada de Israel do Líbano –, Amin mostrou-se um homem destemido quando da morte do filho, chamando os libaneses a apoiar o governo em vez de se submeter mais uma vez à dominação da Síria.
Guerras intra-cristãs vêm desde as Cruzadas
O desempenho de Khoury nos morros de Metn, a cavaleiro de Beirute – na conquista da cadeira por 416 sufrágios em 79 mil, o que dificilmente pode ser tido como uma vitória política esmagadora – mais uma vez enfatiza as divisões no seio dos cristãos do Líbano, que tradicionalmente combateram entre si ao longo da história do país, mais do que confrontaram os seus inimigos mais óbvios.
Os cruzados medievais guerrearam uns com os outros em Tiro quando o sultão Saladino estava às portas da cidade. Em 1980, o exército libanês do próprio Aoun combateu com a milícia crisã falangista, enquanto tentava se defender também dos sírios. Perdeu ambas as batalhas.
A Falange de 36 e a “ordem” nazista
O pai de Amin, Pierre, avô do deputado e homônimo assassinado em novembro último, fundou a Falange em 1936 inspirado pelas Olimpíadas nazistas de Berlim. “Penso que o Líbano necessita de aldo dessa ordem”, admitiu para mim, pouco antes de morrer.
A Falange original usava camisas pardas e adotou a saudação hitlerista. Mas se converteu em um neo-respeitável partido de direita em 1982, entusiásticamente apoiado pelo exército invasor de Israel, que esperava que Bashir Gemayel, irmão de Amin, se elegesse presidente. Eis que Bashir se revelou menos pró-Israel do que esperava o então ministro da Defesa Ariel Sharon, além de ter sido assassinado num atentado a bomba pouco antes de se lançar.
O velho Pierre de olímpica fama está morto há tempos – ele sequer recordava a sua idade quando falou comigo pela última vez. O filho e o irmão de Amin foram ambos assassinados.
Para o governo libanês, havia uma boa notícia eleitoral nesta segunda-feira (6): a vitória de Mohamed Itani em Beirute. Itani, um muçulmano sunita, fez 85% da votação para a cadeira de Walid Eido, explodido por uma bomba em junho.
É de se ficar pensando o que é mais surpreendente no Líbano, se os resultados eleitorais ou as formas com que os eleitos são liquidados.
* Fonte: http://news.independent.co.uk; intertítulos do Vermelho