Plenária debate projeto político do povo negro

Campinas foi sede, no sábado (01/09), da plenária regional do Congresso Nacional de Negras e Negros do Brasil. A atividade reuniu militantes de diversas cidades. Foi feito o debate do projeto político do povo negro para o Brasil e foram discutidas a qu

Ao tratar da questão das reparações, Edson França, coordenador-geral da Unegro (União de Negros pela Igualdade), afirmou que se trata de uma questão ainda relativamente nova onde não existe consenso e que o movimento negro brasileiro tem que debatê-la mais profundamente. Para Edson, a forma como o capitalismo se implantou, consagrou o crime da escravidão e do genocídio dos povos indígenas. Nessa ótica, as principais vítimas foram os africanos, os afro-brasileiros, os negros e as nações indígenas, principalmente da América Latina. Os criminosos são a elite européia – que enriqueceu com a o tráfico transatlântico – e a elite das colônias que acumulou capital com base em relações sociais e de trabalho indignas.


 


 


Direitos historicamente negados aos negros – como trabalho, educação e participação política – têm que ser garantidos a todos os cidadãos. Por isso, o projeto político do povo negro deve garantir condições para sua ascensão às instâncias de poder, de forma não pontuais, mas geral e constante. ''A população negra tem que intensificar sua participação política e o movimento tem que incentivar essa participação'', afirma Edson.


 


 


Reginaldo Bispo – do Movimento Negro Unificado (MNU) – considera o Estado brasileiro um estado uniétnico, pois as principais instituições são comandadas por descendentes dos europeus. Para ele, é um processo que vem do tempo do Brasil colônia e acabou por acentuar a desigualdade social no país, como a maior do mundo. Essa prática desconstrói o conceito republicano de igualdade, já que o Estado legitima a desigualdade. Bispo afirma que o povo negro não pode dizer ''o Brasil é nosso'', apesar deste ser o nosso país. Para ele, é necessário garantir aos negros o seu reconhecimento político. ''O Estado tem que ser a imagem e semelhança de seu povo. Para isso, tem que acabar com a exclusão e a discriminação, o que não é simples porque o poder econômico quer garantir a perpetuação dos que hoje são beneficiados por esse estado uniétnico'', aponta.


 


 


Citando Florestan Fernandes, Bispo diz que a revolução brasileira passa necessariamente pela população negra, historicamente a maior excluída do processo social de produção e que, por isso as reparações têm que ser pensadas tanto na lógica material, quanto em políticas públicas para o povo negro e em reparações carregadas de caráter simbólico como a elevação de Zumbi e João Cândido à condição de heróis nacionais.


 


 


Delegados


 


Foram eleitos 50 delegados e delegadas à Plenária Estadual e as 10 vagas restantes foram reservadas para a plenária de Limeira, que será realizada no próximo dia 16, às 19 horas. Também foram eleitos os delegados da cidade de Franca, que participaram conjuntamente da plenária regional. As entidades presentes passam a compor o Fórum Regional do Congresso que, inicialmente, tratará da organização da plenária estadual, que será realizada no Sindicato dos Metalúrgicos de Campinas.


 


 


De Campinas,
Agildo Nogueira Jr.