Risco: Abril vai monopolizar distribuição de revistas
O Grupo Abril finalizou na quinta-feira (11) a aquisição da Fernando Chinaglia Distribuidora. A compra resultará na criação da Treelog S.A Logística e Distribuição, uma nova empresa da companhia – que já possui a Distribuidora Nacional de Publicações (Din
Publicado 16/10/2007 20:53
De acordo com comunicado da empresa, a Fernando Chinaglia Distribuidora e a Dinap unificam logística e distribuição, mas seguem com administração e operações comerciais separadas. “A operação tem o objetivo de alcançar eficiência ainda maior na distribuição de publicações. Também leva em consideração o surgimento e consolidação de novas plataformas de distribuição, notadamente a internet e demais mídias digitais”, diz o documento.
O comunicado tenta minimizar a formação do monopólio. “Dinap e Fernando Chinaglia continuarão atendendo normalmente aos seus respectivos clientes, assegurando os mesmos níveis de qualidade e credibilidade das duas distribuidoras. A união das empresas vem ao encontro da missão da Abril de levar informação, cultura, educação e entretenimento ao maior número possível de brasileiros”, finaliza o texto divulgado no site do Grupo Abril.
A compra – cujo valor não foi revelado – depende ainda de aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Ainda assim, a notícia da transação pegou o mercado editorial de surpresa. A fusão das duas maiores distribuidoras do Brasil foi muito criticada. Apesar do discurso positivo, várias editoras vêem com ressalvas e até apreensão o surgimento da Treelog.
Sem garantias
É o caso de Renato Rovai, editor da revista Fórum, que é distribuída pela Chinaglia. Para ele, se todo o mercado de distribuição se concentrar nas mãos de uma única empresa, cria-se um “risco grandíssimo” de que ele seja manipulado. “Sempre fizemos críticas à Veja. Será que empresa da Abril vai continuar distribuindo nossas revistas?”, questiona Rovai.
Segundo o editor – que foi avisado da fusão pela imprensa – a nova empresa pode causar problemas na só às pequenas editoras, mas também às grandes. Como exemplo, Rovai citou a Editora Globo, distribuída pela Chinaglia e concorrente direta de várias publicações da editora dos Civita. “E se a Abril quiser deixar de distribuir as revistas da Globo ou criar entraves?”, se pergunta Rovai.
A Editora Globo informou que também foi pega de surpresa. “Não fomos avisados antes, ficamos sabendo pela imprensa. Por enquanto, não temos nada a pronunciar porque estamos esperando uma reunião com o pessoal da Chinaglia, o que deve ocorrer ainda esta semana”, declarou a editora, por meio de sua assessoria.
Ao jornal O Estado de S.Paulo, a diretora de Marketing da Editora Globo, Yara Grottera, disse ser de fundamental importância nesse negócio preservar o que chama de “certos truques” que podem estimular vendas em bancas. “A revista Época (da Editora Globo) sai antes da Veja (Editora Abril), assim como a Marie Claire (Globo) circula dois dias antes da Cláudia (Abril). Isso cria oportunidade de venda no varejo, o que não quero perder”, disse.
Nichos
No mercado de publicações populares, um dos maiores concorrentes das revistas da Abril é a Editora Escala, também distribuída pela Chinaglia. Segundo o presidente da editora, Ercílio De Lourenzi, se a independência das distribuidoras for mantida – como garante o comunicado da empresa -, a transação será positiva. Do contrário, será “um desastre”.
“Me lembro que, no início de sua empresa de distribuição, o Fernando Chinaglia se dizia ser o 'baluarte da democracia'. Me parece que essa função foi para o espaço”, declarou Lourenzi, que também foi avisado da fusão pela mídia. “Essa é uma situação complicada e que ainda não podemos afirmar como acabará, mas mudou completamente o quadro. Agora ficou difícil haver contraponto de idéias.”
A Distribuidora Nacional de Publicações (Dinap) detém 70% do mercado de distribuição e atende 32 mil pontos de venda. Além da Editora Abril, a empresa atende a outros cerca de 60 clientes. Já a Fernando Chinaglia, dona dos outros 30% de mercado, chega a 28 mil pontos de venda e responde pela distribuição de 250 empresas, entre elas a Editora Globo e Editora Três.
Como a fusão é entre as duas maiores empresas de distribuição do país, ela ainda terá de ser aprovada pelo órgão antitruste do governo, o Cade. O Grupo Abril tem 15 dias – a contar da data da aquisição (11/10) – para comunicar a compra. A Abril disse que “não há previsão de alguém falar sobre o assunto”.