Plenária Nacional da Contag aprova desfiliar entidade da CUT
A 2º Plenária Nacional da Confederação dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), que acontece esta semana (de 23 a 26 de outubro) na cidade de Luziânia, Goiás, viveu seu dia mais tenso nesta quinta-feira (25). Após intenso e polêmico debate, a maioria
Publicado 26/10/2007 20:20
A divisão do movimento sindical dos trabalhadores rurais, citada por Edson, iniciou em novembro de 2005, quando lideranças ligadas a Artisind – corrente do movimento sindical do PT e maioria nas direções da CUT e da Contag – fundou a Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar (Fetraf), dividindo a representação sindical nacional dos trabalhadores rurais no país.
Desde então as lideranças da Artisind na Contag passaram a enfrentar graves problemas na direção da entidade.
“O resultado das votações desta quinta é apenas uma conseqüência da insatisfação dos trabalhadores com a divisão no movimento e seus reflexos na luta por mais conquistas. A partir da criação da Fetraf, a entidade legitima e historicamente reconhecida pelos trabalhadores, que é a Contag – fundada em dezembro de 1963, passou a ser desprestigiada na agenda do governo federal e da própria CUT”, disse Pimenta ao Vermelho.
Ele também informou que a decisão da plenária não significará a desfiliação imediata da Contag a CUT.
“A plenária nacional acontece a cada dois anos, entre um congresso e outro da Contag. Seu papel é o de avaliar a atual direção da entidade e apontar os pontos a serem discutido no próximo congresso. Portanto, suas decisões não são deliberativas, mas sim indicativas ao congresso”, explicou a liderança.
A proposta de desfiliação da CUT partiu de um bloco do movimento, presente em pelo menos sete estados (RS, SC, PR, SP, MG, MA e BA), integrado por lideranças sindicais rurais da Corrente Sindical Classista (CSC) – ligada ao PCdoB, Sindicalismo Socialista Brasileiro (SSB) – ligada ao PSB – e independentes.
Plenária pré-eleitoral
Segundo as lideranças do bloco, mesmo que o indicativo de desfiliação não seja ratificado no congresso – tendência menos provável no momento – o debate pode ser considerado muito positivo.
“Minha avaliação é que o debate foi bastante positivo. Ele sinaliza que os trabalhadores do movimento estão sedentos por mudanças na direção da Contag. A atual direção da entidade é co-responsável pela divisão que vive o movimento e pouco fez pela defesa concreta dos direitos dos trabalhadores. Hoje a postura da maioria da direção da Contag tem sido o de administrar os conflitos com o governo no lugar de promover uma maior pressão em defesa dos nossos diretos”, destacou Pimenta.
Não é para menos que o bloco comemorou a aprovação da desfiliação nesta quinta. As plenárias nacionais da Contag costumam ser o termômetro da co-relação de forças para o próximo congresso da entidade. Como o bloco obteve vitória na grande maioria das suas propostas, é possível que no próximo congresso ele ameace a hegemonia da Artisind.
“Esse bloco tem grandes chances de apresentar propostas concretas para dar um novo rumo a Contag no próximo congresso”, arrematou Pimenta, que também participa da CSC.
Movimento pró-CTB
O bloco que vibrou com a vitória obtida na aprovação de suas propostas nas votações desta quinta, em sua maioria, também participa do movimento pela fundação da Central dos Trabalhadores do Brasil (CTB), previsto para dezembro deste ano.
Segundo integrantes do movimento, a aprovação da proposta de filiar a Contag a CTB não foi apresentada pelo bloco na plenária para garantir a discussão sobre o fortalecimento da Contag. O objetivo principal, segundo eles, é “garantir que a entidade seja uma referência cada vez mais presente na luta dos trabalhadores rurais por seus direitos.”
Contudo, o coordenador nacional da CSC, João Batista Lemos, não descarta a filiação da Contag a CTB.
“O movimento pró-CTB vai trabalhar intensamente para se apresentar como alternativa a todas as entidades e trabalhadores que zelam pela unicidade sindical e por uma relação autônoma com o governo federal. A CTB não interferirá nas decisões dos trabalhadores da Contag. Se os trabalhadores da Contag decidirem em seu congresso se desfiliar da CUT e se filiar a CTB será apenas mais uma prova que a CTB virá para se consolidar como essa alternativa”, comentou.
Em defesa da CUT
O secretário geral da CUT, Quintino Marques Severo, se disse surpreso com a decisão da plenária nacional da Contag. Ele informou que não estava acompanhando a plenária, mas considerou a decisão equivocada.
“O argumento de que a CUT estimula a divisão do movimento não procede. O que historicamente defendemos é a liberdade e a autonomia sindical. Não dá para impedir a organização dos trabalhadores, especialmente no que diz respeito á agricultura familiar”, defendeu.
Ele também afirmou que não vê contradição entre a Contag e a Fetraf. “A questão da agricultura familiar foi se consolidando nos estados, o que levou a fundação da Fetraf. A Contag, por inúmeros motivos, não vinha ocupando esse espaço. Foi uma decisão dos trabalhadores buscá-lo. Sendo assim, não vejo contradição entre a Contag e a Fetraf, são pautas diferentes”, argumentou.
Ele também questionou a preferência da CUT pela Fetraf. Segundo Quintino, “não há, por parte da CUT, uma preferência pela Fetraf. Pelo contrário, sempre tivemos um debate franco com a Contag, enquanto que reconhecemos apenas a Fetraf-Sul e não reconhecemos a Fetraf nacional; o que é motivo de duras cobranças das lideranças da Fetraf. Porém, nem por isso, a Fetraf quer se desfiliar da CUT.”
Por fim, Quintino disse que “quem gosta de dizer que a CUT é um braço do governo são os grandes veículos de comunicação e os setores mais conservadores do país. Não dá para aceitar esse argumento por parte dos trabalhadores.”
Ao todo 25 votações
Além da proposta de desfiliação da CUT, os 715 delegados também aprovam outros pontos divergentes debatidos em 11 grupos temáticos.
Foram dois dias reunidos em comissões, onde trabalhadores e trabalhadoras rurais deliberaram sobre temas que compõem o documento base da Contag, entre eles, a campanha de sindicalização para as mulheres, questões ambientais e reconhecimento das centrais sindicais.
No total foram 25 itens que necessitaram do consenso do movimento na plenária.
Na manhã desta sexta-feira (26), os delegados e delegadas se reuniram de novo em plenária para concluir as votações e fazer as deliberações finais sobre a gestão política da Contag nos próximos dois anos. Depois de quatro dias de discussões a plenária foi encerrada na noite desta sexta-feira.
*Com informações da Agência Contag.