Liga Camponesa dos Pobres pedirá exumação do corpo de agricultor
A Liga Camponesa dos Pobres (LCP) de Rondônia informou nesta semana que vai entrar com ação no Ministério Público Estadual pedindo a exumação do corpo do agricultor Oziel da Silva Nunes, 29 anos. Ele estava acampado há mais de um ano na região de Jaci
Publicado 07/12/2007 12:36 | Editado 04/03/2020 17:13
“Oziel se preparava para produzir em seu lote. No sábado à tarde ele foi para a cidade de Buritis quando policiais civis à paisana, em carro particular começaram a persegui-lo pelas ruas da cidade. Como não possuísse carteira de habilitação, não quis parar e durante a perseguição caiu da moto. Em vez de prestar socorro, os policiais fizeram dois disparos à queima roupa sobre sua cabeça, provocando sua morte imediata”, diz o relato da LCP.
O corpo de Oziel foi levado para o Instituto Médico-Legal em Porto Velho e depois, velado e sepultado em Theobroma, com homenagem prestada pelos companheiros da LCP. A entidade estranhou que no laudo médico não constassem os disparos, e sim, que a morte fora causada pelo acidente de moto.
CARLOS SOME E REAPARECE – Em outra nota distribuída, a LCP denuncia que no dia um grupo de 15 policiais ambientais armados e acompanhados de conhecidos pistoleiros da região invadiu a área do Acampamento José e Nélio, em Jacinópolis, “com o claro intuito de assassinar o companheiro Carlos”.
Segundo a nota, ele trabalhava numa roça de café, percebeu a trama a tempo e conseguiu furar o cerco, escapando sob disparos. “Precisou se embrenhar na mata para não morrer. Perdeu-se por dois dias, mas no dia 24 reapareceu no acampamento. Nesse período os companheiros pensaram que poderia ter ocorrido o pior. Um grupo de 80 camponeses se mobilizou para encontrá-lo e foi até a sede da Fazenda Condor, onde funciona um posto da Polícia Ambiental. Os policiais de plantão negaram o ocorrido. No segundo dia, mais de 300 camponeses se juntaram para procurá-lo, quando, enfim, ele reapareceu”.
O Ibama informa que a base ali instalada serve para a vigilância ao Parque Estadual de Guajará Mirim, situado a 30 quilômetros de distância. Segundo a LCP, testemunhas disseram ter ouvido dos policiais a promessa de que matariam os líderes do movimento. “A tentativa frustrada contra o companheiro Carlos é prova disso”.
O presidente da Federação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura Familiar, Pedro Alcântara de Sousa, não gosta da Liga. Alega que seus militantes são “violentos e bandidos” e agem de modo semelhante aos ocupantes de terras na região sul do Pará. “Quem age mascarado e com arma na mão não é de movimento social', ele se queixa.
Desde 2003 em Jacinópolis os sem-terra contestam o fazendeiro Carlos Schumann, que alega ser sua a área na qual foi construída a cidade. O principal argumento dos militantes da LCP é de que as terras pertencem à União. Ali eles fizeram uma ponte e abriram uma estrada. Das cerca de 2 mil famílias que ocupam as terras na região, cerca de 400 são simpatizantes ou aliadas ao movimento. Outro grupo é liderado pela Associação dos Produtores Rurais de Rio Branco.
ATIVISTAS MORTOS – O primeiro agricultor morto por jagunços em terras da Fazenda Schumann foi Ozéas Martins de Souza, de 17 anos, em 27 de novembro de 2002. Em seguida, Devair Cordeiro Verbano, 52, e seu filho Evaldo Hilton Margoto Verbano, 26; Oswaldo Pereira, 44; e João Olegário da Silva, 53, o Ceará. O segurança da fazenda Rodrigo Steffani Ravagnani, 26, também morreu num conflito com os camponeses. Na época, Schumann negou ter ligação com as mortes.
O enfrentamento aos militantes da LCP vem se dando também pela imprensa. O jornal Folha de Rondônia, de Ji-Paraná, ligado ao governador Ivo Cassol, acusa o movimento de invadir áreas de preservação ambiental. “Os proprietários de áreas na região de Jacinópolis estão sendo vítimas de ações terroristas”, diz o jornal. “Quem pode acabar preso é quem defende o que é seu”. A LCP devolve: “Quem destrói, e todos sabem, são fazendeiros e políticos”. Mencionam entre eles um deputado federal e um ex-senador. Este, sozinho, teria desmatado 500 hectares.
Para o comando do movimento, não apenas esse jornal, mas alguns sites noticiosos agem “igual a papagaio, reproduzindo o que a polícia e os latifundiários mandam”. “Vinculam-nos às Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, sem nenhuma prova concreta. Invertem propositadamente a realidade para esconder os crimes do latifúndio”. “Desde quando pode ser considerado vítima um ‘proprietário’ como Geraldo Coletto (Fazenda Condor) que grilou 40 mil alqueires de terras da União, utiliza trabalho escravo, perseguiu, torturou, mutilou e assassinou brutalmente famílias inteiras de camponeses?”
A LCP suspeita de que o tráfico de drogas tem guarida na fazenda. Com base em depoimentos de ex-empregados de Coletto, o movimento acredita na existência de um laboratório de refino de cocaína na área, que possui pista de pouso própria. “As armas que circulam por lá são protegidas por bandos armados”, acusa.
Da assessoria