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Crise política traz perdas imensas à economia queniana

Além da crise política e do conflito tribal vivido atualmente, o Quênia – país que era considerado o mais próspero e estável do leste da África – também sofre com sérios problemas na economia, que registra perdas milionárias desde o início dos conflitos.

O crescimento econômico do país antes das eleições gerais do dia 27 de dezembro chegava a 7%, sendo este dado o principal trunfo da campanha de Mwai Kibaki, reeleito presidente após uma apuração dos votos que a oposição considera fraudulenta. Os analistas calculam que nos últimos dez dias o Quênia deixou de receber US$ 500 milhões.



O analista financeiro Sunny Bindra acredita que este número é aproximado, já que “ainda desconhecemos os efeitos negativos que a crise produziu no setor hoteleiro e na exportação de chá”, disse.



O turismo é a primeira fonte de renda do país. Em Mombasa, cidade litorânea e segunda mais importante do Quênia, os vários hotéis da região perderam o equivalente a mais de 70% das reservas.



Antes do Natal era impossível encontrar um quarto em algum hotel do litoral devido à grande quantidade de turistas que alimentou a economia local nos últimos cinco anos. As diárias dos quartos nos hotéis mais luxuosos variavam entre US$ 350 e US$ 600. Hoje, as tarifas foram reduzidas a menos da metade.



Até o dia 28 de dezembro, mais de 43 vôos charter semanais aterrissavam no aeroporto de Mombasa. O Ministério do Turismo informou que, desde que começaram os conflitos entre partidários de Kibaki e a oposição, há mais tripulantes que passageiros nos aviões.



Demissões



De acordo com Mohammed Hersi, diretor de um hotel de luxo, a situação é crítica porque “mais de 200 mil postos de trabalho diretos correm o risco de desaparecer”. O Estado deixou de arrecadar US$ 30 milhões em impostos por dia e os negócios privados apresentam perdas que, em muitos casos, se traduzem em demissões em massa.



A indústria do chá, setor importante para o desenvolvimento comercial nas regiões do Oeste e do Vale do Rift, também sofreu as conseqüências dos conflitos que deixaram mais de 300 mortos.



A produção e exportação de chá é a única forma de sustento de mais de 3 milhões de quenianos e movimenta cerca de US$ 600 milhões por ano.



O deslocamento de mais de 100 mil pessoas e a insegurança que predomina na região bloquearam o transporte do chá para Nairóbi e Mombasa, de onde se exporta o “ouro verde” queniano.



O presidente da filial da Shell no Quênia, Patrick Obath, reconhece que ainda ignora os efeitos da crise econômica do país. “Por enquanto, estamos tentando fazer contato com nossos escritórios para saber se nossos funcionários e suas famílias estão bem”.



Os vizinhos ocidentais também foram prejudicados pela redução dos comboios de abastecimento. No Quênia o litro de gasolina custa US$ 1,50, mas deve subir para US$ 2 nas próximas semanas.
 


Desespero



Em Kibera, subúrbio de Nairóbi, a população vive cenas de pânico. Vários grupos de famintos assaltam os vizinhos que acabam de fazer compras e levam as sacolas, que na maioria das vezes contêm apenas farinha, sal e poucas verduras.



Alguns assaltos violentos que aconteceram na presença da imprensa internacional ilustram o grau de desespero dos habitantes de um subúrbio que foi fechado pela Polícia durante quatro dias, mesmo sabendo que quem ficaria ali não tinha comida, luz e água.



A reviravolta política e social do país afetou a saudável economia queniana, que em apenas dez dias viu seu bom desenvolvimento afetado, e que permanece à espera de que a situação se normalize.



Fonte: Efe