O tagarela do Judiciário
O jornalista Walter Rodrigues, editor do Blogue do Colunão(www.walter-rodrigues.jor.br), analisa a atuação do “líder da Oposição no Judiciário,
Publicado 07/02/2008 16:05 | Editado 04/03/2020 16:48
Difícil saber a que horas estuda os processos o líder da Oposição no Judiciário, Marco Aurélio de Mello. Quando não está dançando tango ou fazendo caras e bocas na TV Justiça, o ministro dá mais entrevista e declarações bombásticas que os políticos profissionais.
Não há um tema de repercussão midiática que não lhe sirva de pretexto para declarar sua aversão ao Governo e ameaçar “os políticos”, exceto ele próprio e seus correligionários, com as penas mais severas do inferno judicial. Aparentemente esgotou suas reservas de tolerância quando empinou o habeas corpus ultraleve que deu fuga ao banqueiro Salvatori Cacciola, aquele do trambique Marka/FonteCidam.
Bicho esperto e muito bem relacionado, Cacciola aproveitou a maxidesvalorização do real em 1999 para participar de um golpe que aliviou o erário em R$ 1,5 bilhão. Quando escapou para a Itália, refugiando-se na dupla nacionalidade, já se havia encontrado o bilhete em que prometia “esquecer tudo”, desde que o Banco Central de Fernando Henrique Cardoso lhe vendesse os dólares que desejava, abaixo do preço de mercado.
Direito de dar fuga
Para Marco Aurélio, apesar do escândalo, o que há para dizer a respeito é apenas que Cacciola exerceu o “direito de fugir”. Verdade indiscutível, que entretanto não explica que direito tinha o ministro de lhe fornecer as asas com que arribou do país.
Antigamente se dizia que o juiz que fala fora dos autos fica impedido de julgá-los. Fosse assim Marco Aurélio não julgava mais nada, tamanha a quantidade de assuntos sobre os quais se pronuncia nos termos mais categóricos, sempre com viés atucanado. Já chegou até a dizer que, se tal coisa ficasse provada (grampo nos telefones dos ministros), isso provaria que o Governo tinha passado de todos os limites. Como não ficou provado nem meio provado, quem passou dos limites foi ele. Que nem tocou, pois já estava em campanha contra a CPMF.
faraó togado
A última do ministro, isto é, a mais recente, não certamente a derradeira, foi declarar que a Constituição não permite à segurança do presidente efetuar gastos secretos. Independentemente do mérito da questão, quem é que lhe pediu a opinião precipitada?
Enquanto denuncia as tapiocas, Marco Aurélio resmunga contra qualquer sugestão de reduzir o orçamento cavalar da nova sede em construção do TSE — R$ 336,7 milhões — onde ele e outros seis ministros dividirão um espaço edificado de 111.000 m2. Mais que o triplo dos 35.000 m2 de área construída do Palácio Planalto, sede oficial da Presidência da República.