Osmar Júnior: ''jeito tucano de governar já esgotou''

Em entrevista ao repórter Hérlon Morais, publicada no último domingo (10) no jornal O Dia, o deputado federal Osmar Júnior (PCdoB-PI) disse que o modelo de administração usado pelo PSDB em Teresina há décadas já esgotou. Ele confirmou a candidatura pró

Jornal O Dia –  Para começar deputado, o senhor permanece candidato do PC do B a prefeitura de Teresina ou existe a possibilidade de o partido lançar outro nome?



Osmar Júnior – O PC do B vai lançar candidato a Prefeito de Teresina. O meu nome foi indicado baseado no entendimento que é o melhor  para construir uma aliança que permita, com o somatório de forças, ganhar a eleição. É claro que havendo um nome com maior capacidade de aglutinação de forças políticas será naturalmente indicado candidato. No PC do B não há candidatura pessoal, todas devem estar em acordo com o projeto do Partido.
 


O Dia –  O que o senhor acha desse possível apoio do PMDB ao prefeito Sílvio Mendes?
 


Osmar Júnior –  Até o presente momento não conheço, a exceção do acordo PSDB/PTB, que já vem da eleição municipal anterior, nenhuma aliança política construída. No caso do PMDB, pelas palavras de seu próprio Presidente municipal, Deputado Themistocles Filho, as conversações com vistas a acordos ainda não se iniciaram. É bom que se diga que, mesmo o acordo PSDB/PTB, de vez em quando surgem notícias de rompimento.



O Dia –  Ainda há tempo para a base sair unida para 2008 na Capital?



Osmar Júnior – A base política que dá sustentação ao governo comandado pelo governador  Wellington Dias é muito ampla, reunindo filiados de todos os partidos com expressão política no cenário piauiense. Fica de fora apenas o PSDB. Há, portanto, uma diversidade muito grande de visões, projetos e interesses. O único ponto de convergência é a participação no governo.


Deve-se, a essa convergência de tão diferentes partidos, à capacidade de articulação do governador Wellington Dias e, na minha modesta opinião, principalmente, à incapacidade dos partidos e lideranças que fizeram oposição durante o primeiro mandato de apresentarem um projeto de governo novo, consistente, que pudesse ganhar apoio na opinião pública. O que se viu e ouviu das oposições durante a campanha passada, além da cantilena costumeira de alguns, foi um salve-se quem puder, muitos  buscando desesperadamente manter seu mandato. À falta de palanque oposicionista, foi no do Governador Wellington que encontraram abrigo para viabilizar seus projetos eleitorais. Tanto foi assim, que o governador foi reeleito com, adamente dois terços do eleitorado. Além de, na sua chapa, terem sido eleitos o senador e a maioria dos deputados federais e estaduais. Empossado o novo governo, aqueles que não vieram, ou não conseguiram vir, durante a campanha, salvo as exceções de praxe, se aliaram ao Palácio de Karnac. Hoje, na maioria dos municípios do Estado, não há oposição ao governo estadual. Veja o caso de Valença, cidade pólo regional de tradição na política piauiense, onde não há nenhuma força eleitoralmente expressiva fora da base do governo. Reunir novamente todo este povo num só projeto eleitoral é praticamente impossível. Acho também que a manutenção por longo tempo de uma aliança que reúne forças tão diferentes não é saudável para a vida política do Piauí. Vou buscar construir a nossa coligação a partir daqueles que ousaram sonhar, lutar, trabalhar de forma responsável, e levaram o Piauí à situação de hoje, marcada pelo equilíbrio, otimismo e desenvolvimento.



O Dia –  Como o deputado avalia a administração tucana?



Osmar Júnior –  O “jeito tucano de governar” se esgotou. Vem se repetindo ao longo dos últimos anos e, se mal não faz, também não faz bem. Os atuais governantes municipais se apresentam como herdeiros de Wall Ferraz, mas ao longo dos anos perderam a ousadia e a capacidade de aglutinar forças, duas das mais importantes marcas do maior Prefeito que Teresina já teve. Se quisermos resumir o conteúdo da gestão tucana municipal hoje diremos que é um governo que paga em dia o salário do servidor, faz calçamento, não faz o planejamento urbano, não conclui obras estruturantes (pronto-socorro, Centro Tecnológico de Teresina, ponte do sesquicentenário…), faz de conta que não tem responsabilidade sobre o crescimento da economia, e, principalmente, reclama da falta de parcerias. Pagar os salários dos servidores em dia, embora seja obrigação elementar do administrador, é motivo de registro, até porque em passado recente muitos atrasavam. É certo fazer calçamento, ajuda a melhorar a qualidade de vida do povo. Não é certo deixar de planejar a cidade. Nos últimos 12 anos Teresina teve construídas apenas 3 avenidas importantes e nenhuma ponte sobre o rio Poty. Nesse ritmo, em breve nosso trânsito estará caótico. Não é correto deixar de concluir obras estruturantes. O pronto –socorro se arrasta há dezessete anos. O CTT (Centro Tecnológico de Teresina) tem 7 anos, por fim entregue ao CEFET, que deverá colocá-lo para funcionar. A ponte do sesquicentenário, pelo andar atual, será do bicentenário. E não se pode alegar falta de recursos, já que a receita da prefeitura, nos últimos três anos, teve incremento de 150 milhões de reais, fruto do crescimento do Fundo de Participação e do ICMS.


É notória a vocação de Teresina como prestadora de serviços, especialmente nas áreas de saúde e ensino, assim também como no comércio atacadista e na indústria de confecções. É notória também a falta de vocação da administração tucana para incentivar estas e outras áreas de nossa economia. O pólo de saúde tem uma ação mais efetiva dos donos de pensão do que da prefeitura. Desconheço qualquer política de incentivo para o sistema de ensino, destacadamente o superior, que já conta com quatro faculdades de medicina. O comércio atacadista está se mudando para Timon. O incentivo mais visível a indústria da confecção é a realização da feira de moda, feita com tanta timidez, que fica cada ano mais difícil perceber a sua presença. A incapacidade para realizar parcerias é, na minha opinião, o traço mais marcante do afastamento da atual gestão dos ensinamentos do Professor Wall Ferraz.


Durante seus dois últimos mandatos, o Prefeito Wall Ferraz conviveu com 4 Presidentes da  República (Sarney, Collor, Itamar e Fernando Henrique) e 6 governadores do Estado (Hugo Napoleão, Bona Medeiros, Alberto Silva, Freitas Neto, Guilherme Melo e Mão Santa). Com todos teve entendimentos administrativos, tornando Teresina a capital da parceria, recebendo, inclusive, destaque na imprensa nacional por suas realizações. Não se faz parceria com reclamação, cobranças, exigências, intransigências, e, principalmente, arrogância. O primeiro passo para realizá-la é o planejamento que define o objeto a ser pactuado, para depois vir o diálogo, a negociação, quando necessário, a transigência. Por essas razões é que, mesmo respeitando aqueles que trabalharam e trabalham na administração municipal, entendemos que a nossa Capital precisa de mudanças na sua gestão. Precisa de novas lideranças capazes de planejar de forma democrática, transparente, e, sobretudo, pazes de somar esforços políticos e administrativos para a fiel realização daquilo que foi planejado.



O Dia –  Como o partido vem se preparando para as eleições 2008 em todo o Piauí?



Osmar Júnior – O PCdoB cresceu bastante nos últimos anos. Ganhou, principalmente, respeito e  credibilidade. Hoje está organizado em 120 municípios, com atuação nos movimentos sociais, nas câmaras e em 3 prefeituras. Deveremos lançar candidatos em todos os municípios onde estamos organizados, com candidatos ou em coligação.



O Dia –  Quantas prefeituras o PCdoB disputará?
 


Osmar Júnior  Deveremos disputar com candidatura própria em cerca de 20 prefeituras.


 


O Dia –  A eleição de 2008 ainda nem passou, mas já se especula muito 2010. Como o partido  vislumbra aquele pleito? Assim como este ano, existe possibilidade da sigla marchar rumo ao Karnak?
 


Osmar Júnior –  Falar de eleição de 2010 agora é precipitação. Eu sempre lembro que se, em 2001, alguém dissesse que o então deputado federal Wellington Dias seria candidato a governador, seria chamado de desinformado. Imagine se dissesse que não apenas seria candidato, mas seria eleito governador, e, ainda, no primeiro turno, com certeza iria direto para o Meduna. É cedo para fazer previsões.



O Dia – Qual o balanço que o senhor faz do ano de 2007 na Câmara Federal?



Osmar Júnior – A Câmara Federal trabalhou muito. Votou dezenas de medidas provisórias que trataram dos mais diferentes assuntos de interesse do país, especialmente na área de combate a criminalidade. Infelizmente deixou de realizar a mais importante tarefa, votar a reforma política. Essa falha criou uma lacuna que está permitindo a Justiça, especialmente o TSE, legislar em substituição ao Congresso. Destaco também como negativa, a rejeição pelo Senado da CPMF, o imposto de custo mais barato já criado no Brasil e com maior grau de eficiência.


Esse fato, impediu que votássemos o orçamento de 2008, deixando mais uma lacuna que será ocupada pelo poder executivo.



O Dia –  Está em análise na Câmara, a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 158?07, de sua autoria que isenta motocicletas de até 150 cilindradas do pagamento de taxas de licenciamento e do Imposto sobre propriedade de veículos automotores (IPVA). Fale um pouco sobre esse projeto.



Osmar Júnior – Essa medida busca fazer justiça tributária. Hoje, a motocicleta se transformou, especialmente no interior do país, no principal meio de transporte das pessoas mais pobres. São professoras, vendedores, lavradores, que a utilizam para dar curso a suas atividades. Seguindo a regra de Estado injusto, concentrador de renda, que infelizmente vem desde a nossa independência, o proprietário de motocicleta paga para registra seu veículo no DETRAN o mais alto tributo (imposto mais taxas e seguro), chegando, em alguns Estados , arepresentar 11,8% do valor do veículo.Veja que este valor é apenas para registrar o veículo (tirar os documentos, como se diz popularmente). Imagine se um proprietário de avião, ou helicóptero, que está na moda entre os milionários de nosso país, fossem obrigados a pagar uma taxa equivalente a 10% do valor de sua aeronave só para registrá-la na ANAC? Com certezaessa cobrança não duraria uma semana. Para os mais pobres, infelizmente, já dura décadas, só agora aparecendo esta proposta que, como disse no início, pretende fazer justiça tributária.