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Aldo quer PMDB para formar ''3ª via'' na capital

Na hipótese de uma equação eleitoral tendo como componentes os partidos do Bloco de Esquerda (PSB, PDT, PCdoB, PRB, PMN, PHS) mais a presença do PMDB, o resultado seria uma candidatura alternativa à tradicional disputa bipolar entre petistas e tucanos

Reconhecido até por oposicionistas como um político hábil e conciliador, o ex-presidente da Câmara Federal tem uma tarefa complicada pela frente. Além de costurar o consenso em torno de um único nome entre os pré-candidatos já apresentados pelos outros partidos, como os deputados federais Paulinho da Força (PDT) e Luiza Erundina (PSB), além dele próprio, terá que convencer o PMDB, cortejado pelos concorrentes que encabeçam as pesquisas de intenção de voto, a embarcar na coligação.



Rebelo torce para que as suas conversas com o ex-governador Orestes Quércia, presidente estadual do PMDB, prosperem para evitar o cenário de Porto Alegre, onde estava tudo acertado para o PMDB apoiar a comunista Manuela D'Ávila, mas o atual prefeito José Fogaça mudou do PPS para o PMDB e os caminhos das legendas se separaram. Cedo para apostas, mas ainda em tempo de acreditar que a aliança é possível e pode trazer dividendos para seus componentes. ''O PMDB e o PCdoB compõem um eixo de centro-esquerda importante para o País e uma aliança aqui em São Paulo entre seria uma sinalização importante para as alternativas de que o País poderia dispor no futuro'', disse Aldo em entrevista exclusiva ao DCI. Com 30 anos de vida pública recém completados, Aldo Rebelo falou ainda da importância de São Paulo no cenário nacional, cobrou mais investimentos para a capital.



Por que o PCdoB optou por uma candidatura própria e não coligou logo no primeiro turno?



Aldo Rebelo: Eleição é um momento não apenas de disputa de votos, mas é um momento de disputa de idéias, de propostas, de visão da sociedade, do País e das cidades. Achamos que temos uma proposta diferente para São Paulo e apresentamos ao bloco de esquerda que integramos, formado pelo PSB, PCdoB e PDT, a idéia de termos uma candidatura própria. Respeitamos as candidaturas do atual prefeito Gilberto Kassab (DEM), do ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) e da ex-prefeita, Marta Suplicy (PT), porque são nomes já testados e provados como administradores e políticos experientes, mas queremos apresentar nossas propostas. Procurei também outros partidos que ainda não lançaram a sua candidatura, como é o caso do PMDB. Tenho conversado bastante com o ex-governador Orestes Quércia, que deverá, junto com o PMDB, tomar uma posição por esses dias, para que tenhamos uma alternativa para São Paulo que não seja simplesmente a disputa bipolar entre o PT e o PSDB.



O PCdoB tem caminhado junto ao PT. Isto foi bom para o partido?



AL: Acho que foi importante, porque ajudamos a eleger Lula e apoiamos o presidente Lula nos momentos mais difíceis. Mas sempre destaquei a importância do PMDB e da existência do bloco para equilibrar as forças políticas no Brasil.



Como se daria uma aliança dos partidos do chamado bloquinho, que já têm pré-candidatos com o PMDB?



AL: Os partidos teriam que se reunir e escolher um candidato entre esses que já se lançaram pré-candidatos. Paulinho do PDT, e o PSB com a Erundina e se o PMDB tiver um nome, também. Escolhem aquele candidato que represente o interesse de todos. O PCdoB sozinho não tem condições de disputar a prefeitura de São Paulo, ele precisa de aliados, daí a nossa busca para compor com o bloco e buscar o PMDB.



Qual seria a participação do PMDB em uma eventual aliança?



AL: O PMDB é o partido com mais inserção, com mais enraizamento nacional dos partidos que nos temos no Brasil. Ele tem a sua força distribuída do Amazonas ao Rio Grande do Sul. Tem também grande capilaridade e um grande acumulo de experiência administrativa e programática sobre o Brasil e sobre os municípios brasileiros. E o PCdoB até ser legalizado integrava o PMDB. Pertenci ao PMDB durante muitos anos, fui delegado da Convenção Nacional que escolheu Tancredo Neves para presidência da República, fui candidato a deputado federal pelo PMDB e tenho com o partido uma grande identidade. Participamos de governos do PMDB, como é o caso do Paraná, com o governador Roberto Requião. Participamos da prefeitura de Goiânia, governada pelo ex-senador Íris Rezende. Então, o PMDB e o PCdoB compõem um eixo de centro-esquerda importante para o País e uma aliança aqui em São Paulo entre PMDB e PCdoB seria uma sinalização para as alternativas de que o País poderia dispor no futuro.



De que forma essa costura política é uma boa proposta para os peemedebistas?



AL: Creio que é importante também para o PMDB porque pela dimensão e importância que tem no País, não pode ser reduzido a coadjuvante de uma polarização entre o PT e o PSDB, onde ora tem que estar com um e ora tem que estar com outro. O PMDB tem condições de pensar em outro caminho, tem força e dimensão para isso e o PCdoB pode ser um aliado importante nessa estratégia.



É possível imaginar que há espaço para uma 3ª via?



AL: O eleitorado de São Paulo já buscou 3ª vias em momentos distintos da nossa eleição. Como foi o caso da eleição de Jânio Quadros para Prefeitura, como foi o caso da eleição da deputada Luiza Erundina (PSB) e acho que o eleitor tem a idéia da renovação na política. Ele rejeita a acomodação em torno de rostos que já governaram a cidade e que não apresentaram soluções duradouras para os dramas de um município como São Paulo.



Qual a leitura que o senhor faz do atual cenário pré-eleitoral em São Paulo?



AL: Evidente que a divisão do campo PDSB-DEM favorece momentaneamente a candidatura da ex-prefeita Marta Suplicy, mas é preciso considerar que a candidatura do Alckmin tem uma força própria muito grande e o candidato Kassab conta não apenas com a Prefeitura, mas com o apoio e a simpatia do governador José Serra, o que não é pouco na cidade de São Paulo. A terceira via, se surgisse em uma composição desse bloco e o PMDB, daria uma nova perspectiva para a disputa eleitoral da capital, porque também sairia com muita força. Ela tem potencial para recolher votos tanto na área tucana como na petista.



Qual a importância da eleição na capital paulista para 2010?



AL: São Paulo não é apenas uma das metrópoles mais importantes do mundo, é a cidade mais importante do Brasil. A capital política é Brasília, a sede dos poderes, mas a capital econômica, comercial, cultural e de serviços do Brasil é São Paulo. É o segundo destino de todos os brasileiros que não vivem e não trabalham em São Paulo. Ela acolhe as principais feiras, mostras, os principais congressos, é o centro financeiro, tem os principais escritórios de consultoria, portanto, a cidade de São Paulo, se é importante para os seus moradores, ela também é muito importante para o estado de São Paulo e para o Brasil. Daí que a disputa para prefeitura seja de fato uma disputa municipal e uma disputa nacional. E nela se envolvem todas as forças políticas interessadas em governar a principal metrópole da América Latina, e aqueles que estão de olha na disputa de 2010.



O senhor acredita que o debate para 2010 está antecipado?



AL: A eleição é antecipada em função da inexistência de um sucessor natural do presidente Lula, que encerra o seu mandato em 2010 e não tem ainda um sucessor sacramentado pelo próprio presidente. Então, os pré-candidatos naturalmente antecipam suas pretensões. E entre os nomes surgem, José Serra e Aécio Neves, e o deputado Ciro Gomes e os nomes do PT, com a ministra Dilma Rousseff e o ministro Patrus Ananias, exatamente porque todos sabem que Lula não é mais candidato a presidência da República. Se fosse, acho que o quadro seria outro. Creio que se a legislação permitisse que o presidente Lula fosse candidato, Serra não seria candidato, nem Aécio Neves, nem Ciro Gomes.



Quais principais problemas da cidade metrópole?



AL: O principal problema da cidade de São Paulo é político. É ela ser assumida como uma metrópole do estado e do País. São Paulo é a porta de entrada e de saída da economia e do comércio no Brasil. Além do comércio e indústria, as pessoas procuram São Paulo para tratamento de Saúde, por exemplo. Então, o governo federal tem que assumir sua parcela de responsabilidade pela cidade, como por exemplo, investindo em infra-estrutura para melhorar o sistema de transporte para cidade. Quantas vezes o presidente Lula desembarcou no aeroporto de Maceió, ou de João Pessoa, ou de Porto Alegre ou de Cuiabá? E quantas vezes ele e seus ministros desembarcaram no aeroporto de Congonhas? Pela resposta, você vai perceber que São Paulo é quase tão capital do Brasil quanto Brasília. O cidadão que desembarca em São Paulo em busca de uma consulta no Hospital das Clínicas ou Sírio-Libanês, por exemplo, vindo do Brasil ou de qualquer lugar do mundo está usando a infra-estrutura de São Paulo. Aqueles que freqüentam as feiras ou vem simplesmente a passeio, ou que vem a turismo. Todos eles são brasileiros usam a infra-estrutura. Então, São Paulo tem que ampliar a sua participação com o governo federal e receber muito mais recursos para dar conta de uma missão que não é apenas ser uma cidade mais humana para os seus moradores, mas de ser uma cidade mais humana para todos os brasileiros que por ofício profissional ou lazer visitam a cidade. Melhorar a vida de São Paulo é melhorar a vida do País e acho que o governo federal investe pouco na cidade. O governo estadual também deveria investir mais. Não estou tirando a responsabilidade da prefeitura, estou apenas relativizando o alcance da Prefeitura de São Paulo para dar conta das demandas e das exigências que tornem essa cidade ainda mais importante para o estado e para o País.