Preconceito ou posicionamento?

Por Regina Abraão*
Não estou aqui para fazer nenhuma de defesa de gênero, daquelas com ranço sexista, eis que o machismo não é exclusividade de homens. Mulheres existem, e muitas, que reproduzem o caráter machista dominante. Vezes há em que a questã

Segundo Simone de Beauvoir, não se nasce mulher, torna-se mulher. Da mesma maneira que ninguém nasce racista, homofóbico, reacionário ou opressor. São as condições de vida, de aprendizado, de convivência na sociedade que nos formam o caráter. Assim como proletários que defendem a propriedade que não possuem, induzidos a pensar que, um dia quem sabe, com muito esforço e a ajuda das deidades, possam eles tornarem-se também felizes milionários. Afinal, diariamente a novela das oito nos passa esta mensagem de fé, esperança e individualismo, desde que permaneçamos quietinhos com nossos sonhos e longe dos movimentos ou idéias que subvertam a ordem e ameacem a sociedade montada na exploração e na dominação do homem pelo homem. A novela, o rádio e o jornal.


 


A partir daí entende-se o que é preconceito,a quem ele serve, e porque a necessidade de falar nele.Falo aqui conjunturalmente  em uma cidade como Porto Alegre, que para desespero dos machistas e da direita de plantão, descobre-se com três pré-candidatas à prefeitura, duas delas com chances reais de vitória.


 


Pior ainda, três mulheres com perfil de esquerda. Três mulheres jovens, bonitas, inteligentes, com trajetória e inserção nas lutas sociais. Demais para nossa classe dominante.


 


Portanto, não foi com surpresa que li o comentário maldoso, machista e classista (sim, por parte de nossa classe dominante), escrito pelo colunista Marco Aurélio na ZH de 30 de março, pág. 54.


 


Sem nenhuma graça, por sinal. Ao falar de Luciana Genro, Maria do Rosário e Manuela D'Dávila, este colunista conseguiu reunir, em uma única folha de jornal mais conceitos retrógrados e preconceituosos do que todos os programas humorísticos da TV aberta juntos. Não os reproduzirei aqui, por respeito a quem me lê. Estranho isto, vindo de um jornalista que se propõe a fazer um texto leve, quase um contraponto ao peso das notícias publicadas em seu jornal, devidamente ampliadas nos pontos que interessa ao Partido da Mídia? Não, esperado.


 


Dizia Gramshi que quando os partidos que representam a classe dominante esgotam-se e ficam sem projetos ou apoio público, a mídia oficial vem em seu socorro. É o que vemos diuturnamente em nossa imprensa. As “crises” inventadas, as façanhas, os factóides, as matérias tendenciosas, maquiadas, as manchetes em letras garrafais que depois recebem desmentidos em rodapés. Jornalistas sérios? Existem sim, mas devidamente patrulhados, censurados, e sem muito acesso aos cargos centrais dos grandes conglomerados de comunicação.


 


Então fica claro para quem leu o “Porto Alegre Fashion, em outubro”. As piadinhas sem graça do jornalista são restritas à mulheres de esquerda. Não, ele jamais faria piadas tão chulas com Yeda Crucius, com Condolezza Rice, com Margaret Teacher, com Hillary Clinton. Estas mulheres representam sua classe.


 


 Não, nós não faremos isto, não faremos chacota com mulheres de direita. Temos respeito pela raça humana. Não achamos que esta ou aquela é ruim ou menos pior em função de seu gênero, sua raça, sua orientação sexual.O mesmo respeito  que faltou, por parte do jornalista citado acima com os homens e mulheres de Porto Alegre, independente de suas origens, raça, gênero e opções de classe.
 



 
Regina Abrahão
Diretora SEMAPI RS