Trabalhadores lembram vítimas de acidentes de trabalho
Para lembrar o Dia Mundial em Memória das Vítimas de Acidentes e Doenças do Trabalho, que ocorre nesta segunda-feira (28), seis centrais sindicais (CTB, CUT, Força Sindical, UGT, CGTB, NCST) realizam diversas atividades e protestos para conscientizar e mo
Publicado 28/04/2008 21:57
Em 2006, 1.339 trabalhadores morreram em decorrência de acidentes de trabalho, segundo dados da Relação Anual de Informações Sociais (Rais), informados pelo ministro do Trabalho e Emprego, Carlos Lupi.
De acordo com ele, outros 310 trabalhadores faleceram durante o trajeto trabalho-residência, 1.636 se aposentaram por invalidez decorrente de acidentes no trabalho e 3.786 por doenças profissionais.
Segundo o ministro, esse dados servem como parâmetro para enfatizar as campanhas e os esforços para conscientizar tanto trabalhadores quanto empregadores.
Lupi acredita que, para diminuir os números de doenças e acidentes no trabalho, é necessário conscientizar por meio de cursos de orientação e capacitação que evitem acidentes.
Com esse objetivo, foi firmado um convênio entre o Ministério do Trabalho e Emprego, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e o Serviço Nacional da Indústria (Senai) para a realização de cursos sobre prevenção de acidentes de trabalho.
“Nós assinamos hoje esse protocolo de intenções com a Fiesp e o Senai e em breve assinaremos também com a Febraban [Federação Brasileira de Bancos] que já demonstrou interesse. Inicialmente esses cursos serão destinados aos jovens aprendizes do primeiro emprego”, explicou durante cerimônia do Dia Internacional em Homenagem às Vítimas de Acidentes e Doenças Relacionados ao Trabalho nesta segunda, na capital paulista.
De acordo com a Gerência-executiva em Campo Grande (MS) do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), apenas neste ano, de janeiro a abril, foram concedidas 11 pensões para familiares de pessoas mortas por causa de acidentes de trabalho. Durante 2005, foram cedidos 34 benefícios; em 2006, 19; e, durante o ano seguinte, 18. Esses números fazem com que só no Mato Grosso do Sul ocorra uma média mensal de duas mortes por acidente de trabalho.
As centrais, além de denunciar a precariedade e o abandono a que os trabalhadores são submetidos, no que diz respeito a sua saúde e segurança no local de trabalho, incorporaram a campanha pela redução da jornada, sem redução de salário, aos protestos desta segunda. No próximo 28 de maio elas farão uma jornada de lutas unitária em defesa da redução.
Segundo as centrais, a redução da jornada, que representa a geração de novos empregos, tem reflexo direto na saúde do trabalhador já que reduz o tempo de exposição aos fatores de risco.
Vítimas
Aos 39 anos, uma queda do sexto andar de um edifício na cidade satélite do Gama tornou o pedreiro Longino Alves Ferreira incapacitado para o trabalho. Nesta segunda-feira (28), aos 60 anos, ele se emocionou e conseguiu pronunciar apenas poucas palavras na missa que homenageou as vítimas de acidentes do trabalho, na Catedral de Brasília. Longino fez um apelo às autoridades pela fiscalização das condições de segurança.
“Eu não tenho muita cultura. A minha mensagem é simples, para que os colegas tenham mais cuidado, e as empresas também. Mais cuidado com os companheiros, para não deixar acontecer o que aconteceu comigo”, pediu.
No acidente, que completou 21 anos anteontem (26), Longino quebrou a perna esquerda e teve complicações no baço, no braço direito e no pulmão. Era o único provedor da família, formada por ele, a esposa e dois filhos, que na época tinham 10 e 11 anos. Hoje, o filho mais velho é pedreiro e faz parte do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção e do Mobiliário de Brasília.
Longino disse que, na obra, não havia equipamento de segurança para os operários. “Nesse tempo, nós entrávamos nas empresas e aqueles que não trabalhassem iam embora. Eu entrei na segunda e, na terça, o encarregado disse que, se eu desse conta de terminar um serviço até as 17h, teria a carteira assinada. Eram 14h30, estava terminando o serviço. Quando foi 15h15, eu caí e me machuquei.”
Fiscalização
Para o presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção e do Mobiliário de Brasília, João Barbosa de Arruda, falta fiscalização do governo sobre as empresas que não fornecem equipamentos coletivos e individuais de segurança.
“Se as autoridades olhassem um pouco para o trabalhador da construção civil, setor que é o carro-chefe em número de acidentes, seria melhor para todos. Acontece que trabalhadores da construção estão aí há anos com ações na Justiça buscando direitos que lhes são garantidos, como a aposentadoria – já que muitos empregadores não assinam carteira.”
No caso de Longino, foram 12 anos para conseguir que a empresa o indenizasse pelo acidente. O coordenador da área técnica da Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho (Fundacentro, ligada ao Ministério do Trabalho e Emprego), Luiz Brasil, considera altos os índices de acidentes de trabalho no país, mas ressalta o esforço para que se reverta esse quadro.
Luiz Brasil destacou o trabalho feito hoje, especialmente no nível educativo, para sensibilizar os empresários e incluir conteúdos sobre segurança e saúde do trabalho nas escolas de níveis fundamental, médio e técnico profissionalizante.
''Há necessidade de mobilização de toda a sociedade, mas ainda é um número muito alto. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) estima em 6 mil o número de mortos por acidentes do trabalho no mundo por dia”, informou.
O número apresentado por Brasil é equivalente a três vidas perdidas por minuto no mundo – número que, segundo a OIT, representa quase o dobro de vítimas de guerra. No ranking de mortes, o Brasil ocupa o quarto lugar, com 2.503 óbitos, e perde apenas para a China, com 14.924, para os Estados Unidos, com 5.764, e para a Rússia, com 3.090.
Anuário da Previdência
Apesar dos números apresentados pela Rais, o Anuário Estatístico de Acidentes de Trabalho – feito pela Previdência Social – contabiliza 2.717 mortes por acidentes de trabalho em 2006.
O MTE alerta que os números oficiais relacionados à acidentes de trabalho não representam a realidade brasileira, devido à existência de empregos informais e de empresas não notificadas que atuam no país.
Ao todo, 849.795 situações irregulares relacionadas à segurança e saúde no trabalho foram corrigidas pelo órgão em 2007 – 80.964 a mais que no ano anterior. Desse total, o setor de construção civil respondeu por 242.427 casos, seguido pela indústria, com 204.417, e pelo comércio, com 165.331.
O 28 de abril
Em 28 de abril de 1969, a explosão de uma mina nos Estados Unidos matou 78 trabalhadores. A tragédia marcou a data como o Dia Mundial em Memória das Vítimas de Acidentes e Doenças do Trabalho.
A OIT, liderando essa luta, mas com foco na prevenção, institui, em 2003, o dia 28 como o Dia Mundial de Segurança e Saúde no Trabalho.
Segundo estimativas da OIT, ocorrem anualmente no mundo cerca de 270 milhões de acidentes de trabalho, além de aproximadamente 160 milhões de casos de doenças ocupacionais. Essas ocorrências chegam a comprometer 4% do PIB mundial. Em um terço desses casos, cada acidente ou doença representa a perda de quatro dias de trabalho.
Dos trabalhadores mortos, 22 mil são crianças, vítimas do trabalho infantil.
Ainda segundo a OIT, todos os dias morrem, em média, cinco mil trabalhadores devido a acidentes ou doenças relacionadas ao trabalho.
Veja a programação nos estados.
São Paulo
Capital
Data: 28/04/2008
Horário: Das 9h às 16h
Local: Praça Ramos de Azevedo, em São Paulo
– Show musical
– Panfletagem
– Coleta de assinaturas do abaixo- assinado pela Redução da Jornada de Trabalho sem Redução de Salários
– Participação dos representantes das centrais sindicais, autoridades públicas e convidados
11h00 às 14h00
– Ato público
19h00
– Ato Solene na Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo – Participação: representantes das centrais sindicais e do poder público, parlamentares e convidados
Guarulhos
Na manhã desta segunda (28), o Sindicato dos Metalúrgicos de Guarulhos e Região mobilizou cerca de 800 trabalhadores na Marília, Campell e Maxfort. Além do ato, os sindicalistas entregaram boletim cobrando mais segurança nos ambientes de trabalho. Novo ato ocorre às 14 horas, mobilizando cerca de 700 funcionários da Tecfil. As manifestações prosseguem até terça (29). O sindicato utilizará a tribuna da Câmara dos Vereadores de Guarulhos, às 15 horas. Nos próximos dias, haverá atos também nas Câmaras de Vereadores de Arujá, Mairiporã e Santa Isabel, que são base do Sindicato.
''Investimos na formação de cipeiros, com encontros e seminários e também fazemos palestras em fábricas.'' O sindicalista, que participa hoje de ato na Praça Ramos de Azevedo, na Capital, afirma: ''A economia está crescendo. Não há mais desculpa para as empresas deixarem de investir na segurança coletiva e individual'', comenta Elenildo Queiroz Santos, diretor do Departamento de Segurança e Saúde do Trabalhador do Sindicato.
Distrito Federal – Brasília
Os trabalhadores se concentraram pela manhã na plataforma superior da rodoviária (estacionamento entre o Conjunto Nacional e a Rodoviária), com panfletagem, discursos e trabalho de conscientização. As pessoas presentes receberam camiseta e o material distribuído à população. Um caminhão de som deu suporte à atividade. Cada sindicato filiado compareceu com no mínimo 8 companheiros (as). Também foi celebrada um missa na Catedral de Brasília.
Pernambuco
Recife
Data: 28/04/2008
Horário:
– 9h realização de uma Audiência Pública na Câmara dos Vereadores do Recife, onde serão apresentados os dados epidemiológicos dos acidentes de trabalho e o papel do Centro Regional de Saúde do Trabalhador.
– 14h acontece a Audiência na Assembléia Legislativa sobre o Perfil dos acidentes e doenças relacionadas ao trabalho em Pernambuco, com base nos dados de atendimento no Hospital da Restauração. Além disso, haverá uma exposição fotográfica de vivências em Mocambique.
– 18h Ato público no Monumento Tortura Nunca Mais. Cerca de 400 velas serão acesas em frente ao monumento simbolizando as milhares de vítimas de acidentes em todo o mundo.