Márcio Pochmann debate economia solidária na UNEB

O pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea) Márcio Pochmann fez a palestra de abertura do 1º Seminário de Economia Solidária, Cooperativismo Popular e Universidade, no Teatro da Universidade do Estado – UNEB, nesta quinta-feira (11/

O respeitado economista iniciou a palestra traçando uma retrospectiva histórica acerca do desenvolvimento da economia no Brasil e no mundo, apresentando as razões e contextualizando a formação de cada modelo econômico; do agrícola ao oindustrial, até se chegar à chamada sociedade do conhecimento e da informação. “Na sociedade do saber, a quantidade de conhecimento é brutal e está nos fazendo em cada tema  mais ignorantes”, destacou, enfatizando a importância da educação para a vida toda.


 


Transformação na crise


 


Pochmann destacou o período entre 1981 e 2005 como o de maior degradação social do país, marcado pelo crescimento exacerbado da dívida externa, o domínio de políticas neoliberais, aumento das privatizações e redução de gastos sociais, com a taxa de desemprego atingindo 10% da população. “A combinação entre a massa de trabalhadores expurgada do mercado de trabalho e as instituições sociais interessadas em apoiar – como as universidades – para tentar constituir formas solidárias de empreendimentos a essa parcela da população, situada à margem da sociedade capitalista, criou as condições adequadas para o surgimento desse conceito de economia solidária”, explica.


 


Para o economista, o modelo de economia vigente na lógica capitalista, o qual ele nomeou de “economia do ter”, atingiu níveis alarmantes de concentração de renda e poder nas mãos de poucos conglomerados econômicos e grupos sociais, num cenário em que apenas cerca de 15% da população mundial são agraciados com poder de consumo. O quadro torna-se ainda mais preocupante quando se trata da questão ambiental, haja vista os atuais problemas de aquecimento global e poluição. “90% do que compramos, resulta em lixo”, alertou Pochmann. “Estamos presenciando o processo de ‘mercantilização’ da vida e, se continuarmos nesse caminho, nós mesmos destruiremos a espécie humana”, completou.


 


Patrimônio Imaterial


 


Márcio Pochmann, entretanto, optou pelo caminho da esperança e da perspectiva de que dias melhores virão. “A economia solidária pode ser a reação a essa realidade instaurada, mas pressupõe uma visão teórica aliada à ousadia de mudar”, defendeu. “É preciso reconhecer o momento de transformação no capitalismo. Nós temos trabalhado mais, produzido mais e, consequentemente, gerado mais riqueza, e para onde está indo essa ‘sobra’? Isso não está sendo contabilizado, tampouco reivindicado pelo trabalhador”, destacou.


 


Trata-se do chamado patrimônio imaterial; uma espécie de reserva de riquezas, decorrente da extensão das horas trabalhadas e dos novos métodos e organização do trabalho. Como não é posta em circulação, essa riqueza serviria de base para a criação de um fundo público direcionado a investimentos em projetos de economia solidária, segundo defende Pochmann. “Esse fundo poderia ser usado, por exemplo, para financiar os estudos de jovens e crianças carentes e criar igualdade de condições frente ao rico”, apontou o economista, que também defende a inserção no mercado de trabalho somente após os 25 anos, e a redução da jornada de trabalho para 12 horas/semanais.


 


“Na grande maioria dos casos, a união entre trabalho e escola é sempre desfavorável aos estudos”, pontuou. De fato, os dados revelam que, no Brasil, 50% dos jovens estão fora da escola, enquanto que sete, em cada 10, já estão envolvidos em algum tipo de ocupação de baixa renda; os subempregos. “A economia solidária, ao contrário da lógica vigente, que prega o individualismo, é um espaço de construção do trabalho autônomo enquanto reino da liberdade e da escolha”, aponta Pochamann. “Há um abandono da lógica do ‘produzir mais por menos’, e se adota o modelo de construção da sociabilidade, com a criação de novas atividades econômica, socialmente úteis, e que privilegiem a assistência às pessoas, o entretenimento e a criatividade”, explica.


 


“Sonho ter, na economia solidária, o protagonismo dentro de um novo padrão civilizatório; mas isso só será realidade se houver consciência, tensão, luta e, talvez, até mortes”, finalizou Márcio Pochmann para um teatro já um pouco mais digno da sua explanação, com mais que o dobro da audiência inicial após 1h30 de palestra.


 


De Salvador,


Camila Jasmin