CPN do PCdoB aborda eleições, Bolívia e mortos do Araguaia
A Comissão Política Nacional do PCdoB se reuniu nesta terça feira, 16, em São Paulo, e fez um balanço da reta final da campanha eleitoral municipal de 2008. O presidente Renato Rabelo traçou um quadro da situação da crise financeira deflagrada no centr
Publicado 16/09/2008 20:09
Em sua informação principal, Renato Rabelo procurou avaliar a recente deterioração da situação financeira no coração do sistema capitalista mundial, após as intervenções do governo dos EUA nas duas maiores instituições financeiras do mercado imobiliário norte-americano, as gigantes Fannie Mae e Freddie Mac, lembrando que o secretário do Tesouro, Hank Paulson, declarou que as duas companhias eram tão grandes e tão interligadas ao sistema financeiro americano que a quebra de qualquer uma delas poderia causar um verdadeiro terremoto nos mercados mundiais. Logo em seguida, o quarto maior banco americano — o Lehman Brothers Holdings Inc. — pediu concordata, enquanto o Bank of America comprou a empresa Merrill Lynch. Com 158 anos de funcionamento, o Lehman tinha acumulado um passivo de US$ 613 bilhões, que equivale praticamente à metade do PIB do Brasil. Para tentar contornar a crise, o Banco Central dos EUA, o Federal Reserve, ampliou a linha de crédito emergencial de US$ 175 bilhões para US$ 200 bilhões semanais.
Diante deste quadro, Renato Rabelo reafirmou a posição de que, apesar das condições atuais das contas nacionais do Brasil apresentarem uma situação bem melhor do que estavam há alguns anos, a tendência principal é de que essa crise mundial afetará a economia nacional de várias formas, a partir do próximo ano.
Rabelo acentuou, em sua intervenção, que se trata de uma crise de um ciclo do capitalismo. Não se pode caracterizar como crise conjuntural passageira. É sistêmica, insistiu. E acabará por ter um efeito direto em nossa economia que cresceu a 5,5% ou 6% somente no último semestre. A situação, em muitos aspectos, frisou Rabelo, é pior que em 1929. Estamos no final de um ciclo do capitalismo.
Ainda sobre a situação mundial, Rabelo destacou a crise política no país vizinho, a Bolívia. É preciso lembrar, disse, que a Bolívia fornece a maior parte do gás que consumimos e é um dos países que procura consolidar avanços democráticos de grande relevância. Por isso, a reunião da Unasul realizada em Santiago do Chile foi positiva. Apoiou o presidente Evo Morales, democraticamente eleito e confirmado em recente referendo nacional. Nestas horas de crise é que estes organismos de integração regional podem jogar papel soberano e solidário, destacou. A reunião da Comissão Política aprovou, neste sentido, uma nota de solidariedade à Bolívia, ao governo e ao seu povo.
O projeto eleitoral do PCdoB
Sobre o processo eleitoral em curso, em sua avaliação Renato Rabelo partiu do sentimento popular de apoio ao governo e ao presidente Lula, que registra nas últimas pesquisas índices de ótimo e bom em torno de 62% entre a população. É bom levar em conta que estes números chegam a este nível pelo apoio massivo detectado nas regiões Norte e Nordeste. Mas no Sul e Sudeste está ainda no nível de 50%, ponderou.
A atitude de Lula tem sido equilibrada nesta campanha. Não tomou partido no Rio de Janeiro, e também ficou fora em Porto Alegre. Mesmo em Belo Horizonte, Lula não foi apoiar diretamente nenhum candidato. Em São Luis, Lula deu apoio a Flávio Dino, gravando depoimento para a televisão, o que teve grande repercussão na campanha.
Ao final da reunião, os dirigentes do PCdoB concluíram que agora é hora de definições, de distribuir o material de campanha. É o momento em que as tendências vão se definindo. Mesmo assim, muita coisa pode acontecer em reta final. Como no Rio de Janeiro. A indefinição é grande ainda, e as pesquisas de opinião pública se transformaram em verdadeiros instrumentos de luta política.
O plano eleitoral do PCdoB, avaliou Renato Rabelo, tem como objetivo central garantir a reeleição em Aracaju e Olinda. Na capital de Sergipe , é possível eleger no primeiro turno. Em Olinda, o partido também conseguiu resultados favoráveis nas últimas pesquisas. O candidato Renildo Calheiros está na frente.
As prioridades nacionais – além da reeleição onde já estamos no governo – são as campanhas em Porto Alegre, Rio de Janeiro e São Luis. Devemos dar grande atenção a Belo Horizonte, onde a candidata Jô Moraes soube explorar as contradições de um cenário em que o governador Aécio Neves procura construir seu caminho para 2010. O PCdoB em Minas Gerais sai deste confronto com saldo político muito importante. Jô Moraes está em segundo lugar nas últimas pesquisas. O trabalho de campanha em São Paulo é também de grande relevância para derrotar a direita no principal centro político do país.
Nesta fase conclusiva da campanha, conclamou Rabelo, é preciso uma perfeita combinação entre o trabalho de comunicação e propaganda na televisão, no rádio e a atividade de rua, com carreatas e caminhadas seguidas de comícios. Temos que estar nas ruas, mobilizando o povo com visual dos candidatos e nossas bandeiras. Grande importância tem o trabalho pré-dia-das-eleições, quando deveremos distribuir os chamados santinhos com o número e o nome dos candidatos, de casa em casa, nos locais de grande concentração de eleitores.
Por fim, Rabelo destacou que é preciso fixar a idéia de que já atingimos um resultado importante neste patamar alcançado, e que o trabalho deve ser ampliado em outras capitais como Florianópolis, Porto Velho e Curitiba.
Na última parte da reunião da CPN foi aprovada uma nota sobre a reportagem publicada na edição desta terça-feira do jornal Folha de S.Paulo, onde foram estampadas fotos que apresentam dois corpos de guerrilheiros do Araguaia sob o poder de militares.
Leia também as notas da Comissão Política sobre os mortos do Araguaia e a Bolívia