Hélio Costa fala da aliança de Quintão e a esquerda

” O PMDB que conseguiu trazer uma aliança partidária para o segundo
turno, com a participação da Jô Moraes, do vice-presidente José
Alencar. Nós estamos fazendo a aliança, que tem representação popular,
porque os candidatos que não foram para o segundo

O ministro das Comunicações, Hélio Costa (PMDB) aposta na independência
do eleitorado belo-horizontino nas urnas. Para ele, os moradores da
cidade querem ser ouvidos e por isso, seu candidato, Leonardo Quintão
(PMDB), tem apoio popular.

“Ele (o eleitor) está dizendo para nós que
não está preocupado com quem está no cenário político apoiando A ou B”,
diz, completando que o importante são as propostas para a cidade.

Em entrevista exclusiva ao Estado de Minas, o ministro anuncia para os próximos dias mudanças no programa eleitoral do peemedebista e reafirma a posição de que as eleições municipais não vão interferir nas de 2010, sem descartar a possibilidade de concorrer ao governo do estado.

Como está a campanha no segundo turno?
Temos dificuldades naturais de uma campanha modesta, sem recursos, mas com apoio popular, e acho que é isso que sustenta ela, mas sobretudo eu acho que o eleitor de Belo Horizonte mandou um recado muito direto para lideranças políticas, para não dizer aos partidos. Faltou um pouco de sensibilidade com o eleitor. Eu, do lado de cá, acho que houve certo desrespeito com outras lideranças políticas e o eleitor. O eleitor entendeu isso e ficou meio frustrado, por não ter tido a oportunidade de participar do processo, e mesmo outras lideranças que poderiam ter participado e que ficaram de fora.

O senhor ficou com uma candidatura, Dulci e Patrus neutros. Como ficou o quadro ?
Na impossibilidade de o primeiro turno de juntar todas as forças, à medida em que nós fomos alijados do processo,  estamos falando de lideranças que têm representação em Belo Horizonte e no próprio quadro dos partidos, Patrus foi o prefeito melhor avaliado de Belo Horizonte, José Alencar é uma figura queridíssima e hoje reverenciada por todos nós, Dulci é uma figura ligada aos movimentos sindicais, foi professor durante anos, deputado federal. Então, quando de repente resolveram não ouvir estas lideranças, cada um de nós procurou um caminho. Insisto em dizer que neste processo a única janela aberta para nós do PMDB chegou pelogovernador, que chegou a dizer para mim que, se o PSDB fosse parte oficial da chapa, ele estava disposto até abrir mão da posição do PSDB para que desse o vice na chapa de consenso. Lamentavelmente, a equipe do prefeito não apontou essa participação, como também nunca chamou, nem conversou, nem comigo, nem com ninguém, nem com Patrus. Então, à medida que você se sente isolado do processo, você procura alternativas.

Mas, no segundo turno Patrus Ananias e Luiz Dulci não estão apoiando o Quintão.
Olha, entendo que o Patrus e Dulci têm uma presença tão forte dentro do Partido dos Trabalhadores que eles não têm condições de manifestar publicamente sua posição, nós gostaríamos de pensar que no seu coração eles sabem que Leonardo representa pelo menos a indignação do eleitor de Belo Horizonte com essa situação e a maneira como foi feita. Então, respeito a posição deles, sei que eles não podem se manifestar.

Foi essa indignação do eleitor que provocou a virada do Quintão?
O motivo mais importante. Veja só o eleitor indignado porque foi desrespeitado, porque quando você diz assim: “Não importa o que você pensa, eu vou dizer para você votar neste candidato, porque ele é o meu candidato e eu acho que ele é bom para a cidade, ele é bom para você”, mas não pergunta o que você acha. Essa situação foi o primeiro passo para a reviravolta que houve no processo político em Belo Horizonte e, evidentemente, ela encontrou amparo no jovem, experiente, que é uma figura já conhecida na cidade, porque já foi vereador, deputado estadual, federal, muito simpático e que conseguiu se comunicar com as pessoas de uma forma simples. Alguns ficaram até surpresos de ver a rapidez da mudança no eleitorado de Belo Horizonte, mas ele entendeu a mensagem, que é uma mensagem muito pura, objetiva. O programa do Leonardo não tem grandes efeitos especiais, não tem realizações de áudio e vídeo, não tem pirotecnia, tem ele.

Vai haver mudanças no programa?
A mudança deve ocorrer nos próximos dias porque esse é o momento em que ele, e qualquer outro candidato, tem que apresentar de uma forma mais objetiva suas propostas. Explicar o projeto que ele tem para a saúde, para o transporte coletivo, que é o caos, trânsito lotado, isso tem que ser agora colocado para a população e isso já esta sendo preparado.

E na reta final, alguma estratégia especial?
Confiamos muito que BH tem uma maneira independente de votar e que é resultado de uma facilidade que o eleitor tem de acompanhar as coisas que são feitas na cidade. Então, por exemplo, não adianta você ser muito bem avaliado na Zona Sul, tem que ser avaliado no conjunto, tem que saber como é que está a saúde. E não pode estar bem, porque o que nós recebemos todo dia são reclamações. 40% das reclamações que chegam no comitê ou para o candidato são na área da saúde, médico sem estrutura para trabalhar, posto que não funciona. Da mesma forma na educação, houve um erro estratégico quando se tentou fazer mudanças, com a criação da escola plural, não chegou a hora.  Precisamos debruçar sobre isso, nossa realidade é diferente, não podemos falar que vamos fazer uma coisa semelhante ao que é feito na Suíça.

O segundo turno está marcado por troca de farpas entre os candidatos. Como o senhor vê isso?
Com muita preocupação. Porque quando a campanha deixa de apresentar propostas para pôr frase malcolocada tira a campanha do seu rumo, tanto para o candidato que ataca, quanto para o que é atacado. Porque o propósito do programa de televisão não é o ataque, é apresentar plano, projeto, acho que é uma perda de tempo e também uma maneira de desvirtuar o processo, porque quando criamos o espaço na televisão para os candidatos – olha e nós inovamos no mundo – sempre que sou chamado no exterior, eu falo: “Olha como nós resolvemos isso no Brasil”. Hoje, nos Estados Unidos estão gastando milhões e milhões de dólares só para produzir comerciais de televisão. Então, usar esse espaço para esse tipo de coisa é fugir do principal objetivo democrático que é mostrar propostas.

O adversário do Leonardo Quintão diz que o PMDB é a retomada do caciquismo político. O senhor concorda?
Quem está preocupado com o caciquismo político somos nós. Porque quem quis impor candidatura sem consultar o povo e quem não teve a preocupação de perguntar para nomes consagrados da política mineira, como Patrus, o vice-presidente José Alencar e, modestamente, o senador Hélio Costa, que teve 500 mil votos na cidade, isso é o caciquismo. Nós não. O PMDB tem hoje uma posição privilegiada na cidade graças aos erros deles, nem foram por conta das nossas virtudes. Na verdade, o nosso candidato sobe na pesquisa porque o eleitor ficou descontente com o que eles fizeram e reagiu como reagiu dizendo: “Eu vou procurar o melhor candidato”.

O senhor já está participando da campanha. Virão outras lideranças do partido?
Olha, não sei se este é o procedimento mais adequado para uma campanha que, primeiro, já está na reta final, últimos dias, mas sobretudo porque deixou muito claro que o caciquismo está sendo rejeitado. As lideranças do PMDB que têm que ser ouvidas estão em Minas, sobretudo as nossas lideranças dos bairros de Belo Horizonte, do PMDB municipal, nós temos representação em cada setor da cidade. Estamos preocupados com isso, o que não quer dizer que não seja importante o apoio de um nome de expressão do PMDB. Claro que é, mas neste momento o que o eleitor de Belo Horizonte está dizendo para nós é que ele não está preocupado com quem está no cenário politico apoiando A ou B. Eu estou preocupado como é que você está pensando a minha cidade, e o que você pretende fazer se for eleito prefeito. Se você, observar o que ocorreu na campanha do adversário seria importante perguntar por que tiraram o nome do prefeito da música. Será que tem alguma coisa a ver ?

O PMDB tem quadros para governar?
Veja só, se você observar o que o governador Aécio Neves fez ao ser eleito, ele tinha uma vida muito mais relacionada com Brasília do que com Belo Horizonte e com Minas Gerais. Vinha aqui, era um deputado presente, mas por força das sua obrigações, liderança do partido, ele acabava tendo pouco tempo para se relacionar com as lideranças de Minas Gerais. Quando ele foi eleito, ele foi buscar as pessoas competentes em todos os lugares em que elas estavam, então tínhamos secretários que vieram de São Paulo, do Paraná, do Rio de Janeiro, do interior de Minas, onde você encontrou a pessoa qualificada, você trouxe aquela pessoa. Hoje, nós estamos num mundo globalizado, você eleito prefeito, você não fica obrigado a cobrir todos os espaços que vão dirigir a cidade com o partido que elegeu o candidato e que estão dentro de Belo Horizonte. Pelo contrário, você tem hoje uma aliança e quem fez esta aliança na prefeitura foi o PMDB, ele que conseguiu trazer uma aliança partidária para o segundo turno, com a participação da Jô Moraes, do vice-presidente José Alencar. Nós estamos fazendo a aliança, que tem representação popular, porque os candidatos que não foram para o segundo turno, eles identificaram no Quintão plataformas importantes. O PMDB tem quadros sim e os partidos que nos apóiam também têm e nós vamos procurar o melhor.

As eleições municipais têm interferência em 2010?
Continuo achando que não têm. Porque nós estamos há dois anos das eleições para governador e presidente da República e tanto não tem, como hoje seria praticamente incapaz de fazer uma projeção de quem são os candidatos ao Governo de Minas.

O senhor é candidato?
Eu sou candidato a senador. Sou senador e me proponho a continuar senador. Se o meu partido, lá na frente, entender que nós, juntos com outros partidos numa grande aliança, temos condições de disputar o governo, evidente que vamos fazer. Afinal, temos o que oferecer: experiência que criamos com duas candidaturas para o governo e para o senado. Mas não vamos jamais cometer o mesmo erro que cometeram em Belo Horizonte, impondo candidaturas. A candidatura tem que ser um processo democrático, aberto e discutido com lideranças. Temos que ver qual o caminho que vamos traçar para que todos sejam ouvidos, porque senão você acaba criando situações como esta que criamos aqui.

E a eleição em Barbacena?
Não foi surpresa. A candidatura de Danuza foi uma candidatura que surgiu com vocação das bases, já tinha sido candidata uma vez e veio para o PMDB, que hoje representa a oposição. E isso sensibilizou o eleitor na cidade, até porque fizemos uma campanha direcionada para a necessidade de nós, com o acesso que temos o ministro, o presidente Lula, a 50 quilômetros da cidade, temos dois outros ministros de confiança que são o Patrus e o Dulci, que têm parte da família deles lá, esse é um momento muito especial para a cidade e para a região. Veja só nós temos um momento de grandes investimentos por parte do governo federal com o PAC e todas as cidades estão contempladas, Barbacena não, porque não tinha projeto. Eu fui reclamar e a resposta foi essa. Essas coisas levaram à vitória da Danuza. Uma expectativa de três ministros e o presidente Lula a gente pode sim fazer a diferença nas cidades que esses ministros representam.

Entrevista realizada pelos jornalistas Baptista Chagas Almeida e Alana Rizzo e publicada no Estado de Minas do dia 19/10/2008