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Juros: EUA cortam de 1,5% para 1%; Copom mantém 13,75%

As críticas contra o Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central , do Banco Central), por ter mantido nesta quarta-feira (29) a taxa Selic de juros básicos em 13,75% ao ano, foram ainda mais contundentes por se contraporem ao corte decidido no me

Veja o gráfico ao lado, que mostra as curvas das taxas de juros básicas do Brasil e dos Estados Unidos. Observe como, a partir do estouro da chamada crise do subprime, o Federal Reserve decidiu sucessivos cortes na taxa de juros. E note como o Copom de Henrique Meirelles fez a opção inversa, elevando os juros em 2,5 pontos, em sucessivas majorações decididas a partir de abril.



Fiesp: “Ação inibidora do crédito”



Embora desta vez a taxa de juro não tenha subido, as críticas choveram sobre o Copom, por não ter acompanhado os bancos centrais dos EUA e outros países, preferindo manter a taxa em 13,75%. Desde as centrais sindicais até os representantes patronais do chamado setor produtivo, a condenação foi unânime.



A nota da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) apontou que os bancos centrais ao redor do mundo estão indicando a possibilidade de redução de juros. Só fogem a esta regra países como a Islândia, em grandes dificuldades face à crise, “o que decididamente não é o caso do Brasil.”



“O Banco Central vem tomando uma série de medidas para promover a liquidez objetivando o restabelecimento do crédito. A manutenção de juros altos é ação inibidora deste processo, pois garante aos bancos retorno certo com baixo risco, incentiva o carregamento de títulos e inibe o crédito aos múltiplos agentes”, disse a Fiesp.



O presidente da Fiesp, Paulo Skaf, disse que a decisão “deve ser bem recebida” mas “desde que seja vista como o início de um processo de queda continuada dos juros, fator essencial à retomada do crédito evitando assim uma maior freada da atividade econômica no Brasil”.



Fecomercio vê Copom “na contramão”



As federações do comércio dos Estados de São Paulo e Rio de Janeiro (Fecomercio) também chamaram a atenção para a “contramão” em que está o Copom. “Enquanto o mundo inteiro se preocupava com o ritmo da economia e a Europa, o Japão e os Estados Unidos reduziam consistentemente suas taxas de juros, o Banco Central do Brasil parecia caminhar na contramão e ignorar os claros sinais de recessão que estão à vista de todos”, afirmou Abram Szajman, presidente da Fecomercio-São Paulo.
“Se o governo não reduzir os juros, setores industriais dependentes de crédito, voltados praticamente apenas para atender o mercado interno, são os que sofrerão mais. É o caso do setor automobilístico e da construção civil, justamente aqueles que o governo considera como os mais relevantes para manter o ritmo de atividade e o nível de emprego” concluiu Szajman.



Orlando Diniz, presidente da Fecomércio-Rio de Janeiro, também foi crítico. “O Copom mostrou-se atento à gravidade da crise financeira internacional, mas perdeu a oportunidade de amenizar seus efeitos, o que significaria optar pelo corte nos juros. Se as altas anteriores da Selic vinham sendo compensadas pelo alargamento dos prazos dos financiamentos, agora, com a crescente aversão ao risco e a baixa liquidez, o impacto dos juros será maior”, disse.



Lula faz ironia com Copom e Alencar



O prefeito de Belo Horizonte (MG), Fernando Pimentel (PT), que teve nesta quarta-feira uma audiência com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, disse à imprensa que o próprio Lula defendeu a redução dos juros.



Em um momento da reunião de Lula com o oprefeito em fim de mandato e o eleito para sucedê-lo, Márcio Lacerda (PSB), passou pela sala o vice-presidente, José Alencar, mineiro e uma das vozes mais críticas à ortodoxia do Banco Central. “Vamos ver se o Copom vai agir hoje como o Alencar quer”, disse o presidente, conforme o relato de Pimentel.



Lula, no entanto, mantém uma política de “autonomia de fato” em relação ao Banco Central.  Embora tenha manifestado contrariedade já em outras ocasiões, não ousa enquadrar ou substituir o presidente do BC, Henrique Meirelles, que comanda um bunker ultra-ortodoxo no interior da equipe econômica do governo.



Fed mantém política de cortes drásticos



O Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) decidiu nesta quarta-feira, por unanimidade, reduzir a taxa básica de juros em 0,5 ponto percentual, de 1,5% ao ano para 1%. Desde meados do ano passado o Fed tem feito sucessivos cortes nos juros, na tentativa de aquecer a atividade conômica no país.



Este foi o segundo corte de meio ponto neste mês. O juro real (descontada a inflação) que já era negativo no país desde o início do ano, pois o Fed acredita que a inflação vai recuar nos próximos trimestres para um “nível consistente com estabilidade de preços”. A  taxa dos Fed Funds (títulos que lastreiam os empréstimos interbancários no overnight) alcançou o menor patamar desde 2003-2004 (veja o gráfico).



Ao comentar a medida, que pretende atenuar a recessão dada como certa nos EUA, o Fed fez um diagnóstico sombrio: “O ritmo da atividade econômica parece ter se tornado marcadamente mais lento, devido em grande parte a um declínio nos gastos de consumo”. Aponta ainda que o enfraquecimento das economias de outros países afeta as perspectivas das exportações.



O comunicado manifesta esperanças de melhora, depois das medidas da os governos e bancos centrais tanto dos EUA como de outros países. Mas a Bolsa de Nova York recuou depois da decisão e fechou em baixa de 0,83%.



Cortes dos juros se espraiam face à crise



O primeiro corte de juros de outubro nos EUA, no início do mês, foi uma decisão coordenada entre vários países, numa tentativa de resposta conjunta à crise. O desta quarta-feira não, mas coincidiu com decisões semelhantes de outros países.



A China decidiu reduzir em 0,27 ponto a sua taxa de juros básica, de 3,87% ao ano para 3,60%. Esta foi a terceira redução da taxa de juros chinesa em seis semanas.
O banco central da Noruega decidiu no mesmo sentido nesta quarta. Nesta sexta-feira (31) será a vez do Japão examinar um corte nos juros. Esta tem sido a tendência geral dos bancos centrais do mundo, que deixaram de priorizar a rigidez antiinflacionária diante da ameaça maior de uma recessão econômica, muitos deles praticando inclusive taxas de juros negativas.



Da redação, com agências



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