Luciana Santos: “há uma geografia política muito equilibrada em PE”
Prestes a deixar o cargo após oito anos de gestão, a prefeita de Olinda, Luciana Santos (PCdoB), diz que seu sucessor, Renildo Calheiros, também do PCdoB, encontrará um aprefeitura com as finanças em ordem e 400 milhões disponíveis para investimento. Sobr
Publicado 03/11/2008 18:02
Luciana, que já foi deputada estadual, não sabe ainda o que fará a partir de janeiro, quando passa o posto ao sucessor, o deputado federal Renildo Calheiros, a quem ajudou a eleger, ainda no primeiro turno, para o terceiro mandato do partido na cidade. Ela sabe apenas que não deve ir trabalhar no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e que vai continuar “cuidando do partido” em Pernambuco. Sobre as eleições estaduais de 2010, assegura que não tem pretensões de disputar o Senado, mas deve seguir o caminho natural de concorrer a uma cadeira de deputada federal.
No caso do partido, que saiu fortalecido das eleições municipais, explica a prefeita, caberá o papel de colaborar para que se mantenha o equilíbrio das forças políticas que governam o estado com Eduardo Campos. O equilíbrio, avalia, é fruto da disputa eleitoral deste ano e precisa ser mantido para assegurar a reeleição do governador. “Em Pernambuco, nós já tivemos momentos de muita hegemonia de uma força política só. Mas hoje esse não é o desenho da geografia política aqui no estado”, diz ela. Nesta entrevista concedida ao editor de Política do Diario, César Rocha, e à repórter Paula Brukmüller, Luciana garante que Renildo Calheiros, apesar da crise financeira internacional, deve administrar a prefeitura em condições mais favoráveis do que ela. Inclusive, ele receberá de herança R$ 400 milhões em investimentos federais e praticamente nada de restos a pagar. Em 2001, as dívidas herdadas chegavam a R$ 20 milhões.
A seguir, os principais trechos da entrevista:
O que a sra. vai fazer a partir de janeiro?
Ainda não tenho nenhuma definição sobre isso. Mas, o certo é que eu continue cuidando do partido.
Alguma possibilidade de ir para o governo federal?
Não, porque não é a tendência principal. Nós já temos uma situação bem posta no governo Lula, temos o Ministério do Esporte com um ministro (Orlando Silva) que tem sido exitoso nas suas responsabilidades e funções. Comandou o Pan-americano muito bem.
E qual o seu caminho em 2010? Vai concorrer a deputada federal?
Essa é a possibilidade principal, embora tenham outras possibilidades no partido. Luciano Siqueira, por exemplo, mostrou mais uma vez um grande prestigio de massa, eleitoral, com a votação expressiva que teve no Recife (para vereador) e certamente também está no cenário como uma opção.
Luciano Siqueira também é uma opção de vocês para a Presidência da Câmara?
Na luta política sempre existem as possibilidades. Toda vez que tiver espaço de disputa para posições estratégicas, tendo ambiente para isso, a gente vai procurar se colocar. Mas isso é uma coisa que não depende da gente. Depende principalmente do governo e do conjunto de forças que estão representadas na câmara.
No seu caso, na disputa estadual, o Senado não está colocado como opção?
A principio, não, porque as candidaturas do Senado vêm se colocando há muito tempo, desde o resultado da última eleição. Tem o deputado Armando Monteiro, Inocêncio Oliveira, João Paulo. São alternativas que já vêm sendo construídas há mais tempo. A nossa condução vai ser no sentido de manter o equilíbrio dessas forças. Acho que foi isso que se confirmou nessa eleição de prefeitos e vereadores. As nossas forças mantiveram o equilíbrio. Em Pernambuco, nós já tivemos momentos de muita hegemonia de uma força política só. Mas hoje esse não é o desenho da geografia política aqui no estado. Nós temos uma geografia muito equilibrada. A frente trabalhista que o deputado Armando representa manteve ou ampliou ainda mais o seu espaço, assim como o PCdoB também. Não só manteve, porque reelegeu os quatro prefeitos, mais do que dobrou a bancada de vereadores, e, o mais importante, ampliamos no grupo adversário. O PT também, que tinha como maior patrimônio a Prefeitura do Recife, e isso se manteve. Então a gente vai para a composição de arrumação das forças para 2010 numa estabilidade razoável. O resultado da eleição estabiliza essa arrumação que hoje já existe em Pernambuco, com a afirmação da liderança do governador Eduardo Campos, que foi o grande vitorioso nas eleições. Foi a figura também usada por todas as forças. Todo mundo estava do lado de Eduardo, todo mundo era de Lula. Isso demonstra essa afirmação da força política e eleitoral.
Na sua opinião, como será a reeleição de Eduardo Campos, difícil?
Eduardo vive um momento de muitas possibilidades em Pernambuco. Ele hoje comanda um processo de revolução econômica importante no estado, nunca vista nos últimos anos. A Refinaria Abreu e Lima, o Estaleiro Atlântico Sul. Para isso precisa ter o pulso firme, como ele está tendo, na execução. Ele também tem procurado ousar em coisas que historicamente não tinham sido enfrentadas, como na saúde. Para 2010 ele tem uma situação muito estável, de muita força e de muitas possibilidades. Ele tem um prestígio muito grande junto ao presidente Lula, um respeito muito grande.
O fato de Lula não ser candidato em 2010 não poderá complicar a reeleição de Eduardo?
Lula não vai ser candidato, mas vai estar muito presente, seja na disputa pela sucessão da presidência, seja na disputa estadual. Tem chance de as coisas embaralharem se no plano nacional embaralhar; se não se construir, a nível nacional, uma grande aliança, se os partidos da base se separarem. Fora isso eu não vejo como dar problema.
E como fica aqui em Olinda, que é a principal vitrine do PCdoB em Pernambuco? Vocês estão indo para o terceiro mandato, mas Olinda é uma cidade difícil porque não tem recursos próprios. Como manter essa vitrine em um momento como este da crise internacional?
Você vê como o partido cuidou de Olinda. Nós colocamos na disputa o vice-presidente nacional do partido, que é uma liderança inconteste no Congresso Nacional, pela sua capacidade política. Renildo sempre atuou no Congresso nas ações mais fundamentais para o partido, como por exemplo, na reforma política. Eu já vi o Ministro José Múcio reconhecer o quanto ele é bem posto no Congresso. O próprio ministro me dizia que achava muito difícil o partido abrir mão da presença do Renildo lá em Brasília. Quando o partido liberou Renildo para essa possibilidade, foi exatamente em função do peso de Olinda nisso, afinal de contas foi o primeiro governo. Olinda é uma cidade que tem uma importância política muito grande, é patrimônio da humanidade, sempre formou lideranças políticas importantes aqui, como Marcos Freire e Roberto Freire. Nós sabíamos a importância da eleição. Porque era uma afirmação do partido como alternativa política e como partido que sabe governar. Por que se diz que os comunistas são muito bons de conversa, então a gente afirma que também é um partido que sabe governar. Doze anos não são quatro nem são oito. Em 12 anos as exigências vão ser muito maiores. Nós sabemos que vai ser mais difícil, mesmo com a vitória muito contundente.
Renildo então vai administrar numa situação muito mais complicada que a sua?
Do ponto de vista administrativo e objetivo, não. Eu peguei a prefeitura com mais de R$ 20 milhões de restos a pagar, e com investimento próprio nenhum, só dívidas. E de recursos externos, as emendas disponíveis não chegavam a R$ 500 mil. O grosso dos investimentos do primeiro ano do nosso governo, fomos nós mesmos que captamos junto aos deputados. Renildo agora vai ter restos à pagar praticamente zero e vai receber R$ 400 milhões de investimentos. Quer dizer, é uma diferença radical.
Sem ter um representante no Congresso, já que era ele quem articulava esses recursos para Olinda, fica mais difícil?
Inclusíve, essa foi uma das coisas que deixou Renildo em dúvida na hora de concorrer à Prefeitura. Mas no custo benefício, nós ainda achamos que era mais importante ele estar aqui. Ao mesmo tempo não vai inviabilizar esse canal com os ministérios. Vai ter um pequeno prejuízo, mas não vai ser definitivo nessa busca de recursos.
Fonte: Diário de Pernambuco