Bancários cobram negociação sobre fusão do Itaú e Unibanco
Imediatamente após o anúncio da fusão entre o Itaú e o Unibanco na manhã desta segunda-feira (3), diversas entidades representantes dos bancários emitiram notas com a preocupação de garantir a manutenção do emprego e dos direitos dos trabalhadores das dua
Publicado 03/11/2008 18:35
Em nota, o sindicato comunicou que entrou em contato com as direções das instituições financeiras exigindo que fossem marcadas negociações com as empresas. Segundo Marcolino, o sindicato conseguiu compromisso junto a um representante da direção do Itaú de que não haverá fechamento de agências.
A informação foi confirmada pelo presidente do Itaú, Roberto Egydio Setúbal, durante coletiva com jornalistas na tarde desta segunda. ''Nossa intenção é manter as agências. Não teremos um programa de demissão'', disse.
Já o presidente do Unibanco, Pedro Moreira Salles, deixou a questão em aberto. ''Nós estamos olhando para o crescimento. É óbvio que existem superposições (de agências e cargos), mas essa empresa que está sendo criada terá, daqui três ou quatro anos, mais funcionários do que tem hoje. Em relação às agências, pode ser que tenha um ou outro caso particular de fechamento'', disse.
Para Marcolino, nenhuma demissão é justificada. ''Tanto o Itaú quanto o Unibanco tiveram bons resultados ao longo dos anos. Assim, essa fusão não pode resultar, em hipótese alguma, em demissões ou redução de direitos aos trabalhadores. É isso que já estamos cobrando dos bancos'', diz.
Segundo o presidente do Sindicato dos Bancários do Rio Grande de Sul, Juberlei Baes Bacelo, nem mesmo agências que funcionam em endereços próximos devem ser fechadas. ''O ideal é que as duas marcas sejam mantidas para evitar que agências dos bancos que funcionam uma perto da outra sejam fechadas e colegas venham a ser demitidos'', disse Bacelo.
Conglomerado do medo
O presidente da Fetec-SP (Federação dos Bancários da CUT do Estado de São Paulo), Sebastião Geraldo Cardozo, reforçou a preocupação da categoria com a fusão das instituições.
A apreensão é porque a formação do conglomerado possa significar o corte de postos de trabalho. Outra preocupação de Sebastião é com a repercussão que o novo conglomerado financeiro poderá causar à sociedade, caso sofra qualquer tipo de abalo no futuro.
“A situação é extremamente preocupante, tanto para os trabalhadores do setor, pelo risco de cortes de trabalho, como para o usuário bancário, frente a uma possível redução dos postos de atendimento. Além disso, é preocupante para a nação. Se um conglomerado gigante como esse vier a sofrer qualquer abalo no futuro os prejuízos ficarão para a sociedade”, diz Sebatião.
“Devemos estabelecer debate com o governo, pois com as recentes medidas de liberação do compulsório e de autorização de crédito para compra de carteiras de bancos em crise, ficam no ar inúmeras questões, como por exemplo se houve envolvimento de recursos públicos na transação anunciada”, antecipa o presidente da Fetec paulista.
Fusão aumenta monopólio
A Contraf (Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro), filiada à CUT, também se manifestou receosa sobre a fusão. A entidade considera que o negócio é prejudicial para a economia, os clientes, os usuários e os bancários.
''A crescente concentração é ruim para os clientes e usuários porque diminui a competição no sistema financeiro nacional, fortalece excessivamente os grandes bancos e diminui a possibilidade de redução dos juros ao consumidor, do spread e das tarifas e taxas bancárias'', afirma a Contraf.
Segundo a confederação, essa concentração é prejudicial porque pode dificultar a redução dos juros bancários e o aumento da concessão de crédito para o setor produtivo da economia.
''A grande concentração de recursos e de poder nas mãos de poucos grandes bancos pode acentuar essa tendência, que contraria a razão da existência do próprio sistema financeiro'', afirma o comunicado.
A Contraf diz ainda que vai procurar o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) para que sejam exigidas dos dois bancos contrapartidas para que a fusão não traga efeitos prejudiciais à sociedade. Além disso, foram solicitadas reuniões para buscar um acordo para evitar que a operação tenha impactos negativos nas taxas de juros, nas tarifas e na oferta de crédito.
Maior grupo financeiro do sul
O Itaú e o Unibanco empregam atualmente mais de 100 mil pessoas. A fusão entre as operações financeiras de ambas as instituições resultará no maior banco privado do país e no maior grupo financeiro do Hemisfério Sul, situado entre os 20 maiores do mundo.
Conforme as duas instituições, o total de ativos combinado é de mais de R$ 575 bilhões -contra R$ 403,5 bilhões do Banco do Brasil, e R$ 348,4 bilhões do Bradesco, segundo dados de junho do Banco Central.
As ações ordinárias do Unibanco e da Unibanco Holdings serão substituídas por ações ordinárias da Itaú Unibanco Holding. Cada 1,1797 ação das duas empresas virará 1 ação da Itaú Unibanco Holding. Já cada 1,7391 ação Unit do Unibanco passará a valer 1 ação preferencial. Por sua vez, cada 3,4782 ações preferenciais do Unibanco e da Unibanco Holdings valerão 1 preferencial da nova empresa.
Para ser concretizada, a fusão ainda terá que ser aprovada pelo Banco Central e por órgãos reguladores como a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) e o Cade.
Segue íntegra da nota Fetec-SP:
É uma situação extremamente preocupante tanto para os trabalhadores do setor, pelo risco de cortes de trabalho, como para o usuário bancário, frente a uma possível redução dos postos de atendimento. Além disso, é preocupante para a Nação, pois está sendo criado um conglomerado gigante que, se por infelicidade no futuro vier a sofrer qualquer abalo, os prejuízos sobrarão para a sociedade.
Agora, há um ponto que nos acende um sinal de alerta. A recém-liberação do compulsório pelo Banco Central e a autorização do governo para aprovação de crédito para compra de carteiras de bancos com problemas por conta da crise internacional nos levantam uma pergunta que requer resposta urgente: Será que uma transação como essa, com tamanhos riscos, possa estar contando com recursos públicos? Essa é questão que o movimento sindical não pode admitir.
Sebastião Geraldo Cardozo
O presidente da Federação dos Bancários da CUT do Estado de São Paulo
Veja o número total de agências de cada um dos bancos*:
* Dados de junho de 2008
Fonte: Itaú e Unibanco.