PCdoB de São Paulo avalia resultado eleitoral e debate perspectivas

Em reunião bastante concorrida, que contou com a participação do Presidente Nacional do Partido, Renato Rabelo, os comunistas de São Paulo debateram no sábado, 15 de novembro, a crise internacional, o quadro político nacional  e o resultado das eleiç

Renato Rabelo fez uma apreciação profunda sobre o equilibrado resultado das eleições no país e falou sobre a necessidade de o bloco de esquerda, junto com o PT, colocar como foco a disputa de 2010. Ressaltou ainda que os resultados do PCdoB foram bastante positivos e que a experiência de se lançar muitas candidaturas majoritárias foi altamente positiva. Sobre a crise internacional, ressaltou que a mídia distorce o sentido da ação do Estado, não deixando claro que ela não tem nada de socialista, mas sim de preservação dos interesses daqueles que lucraram largamente com a especulação. Afirmou ainda que o nível da repercussão no país dependerá das medidas que o governo Lula adote e da evolução da crise em termos sistêmicos.
No debate sobre os resultados colhidos pelos comunistas de São Paulo, foi registrada a grande vitória obtida com a retomada de mandatos na capital, com Jamil e Netinho, além de voltarmos à Assembléia Legislativa, com Pedro Bigardi. Leia abaixo a íntegra da resolução:



RESOLUÇÃO POLÍTICA DO COMITÊ ESTADUAL



1 – Com o término das eleições municipais, o resultado eleitoral de São Paulo não apresentou alterações de maior monta em relação à disputa de 2004 no que diz respeito à força dos maiores partidos, notadamente o PSDB e o PT, na vantagem eleitoral mantida pelo bloco de oposição ao governo do presidente Lula – que governa o estado desde 1994 (com centro na aliança PSDB-DEM), no desempenho de pelo menos sete outros partidos que vem firmando seu espaço eleitoral num cenário de acirrada polarização (PMDB, PTB, PDT, PSB, PV, PR e PPS).


Entretanto, se considerarmos a expressiva vantagem obtida pelas forças políticas que se alinham mais claramente ao lado do projeto encabeçado pela aliança PSDB-DEM no estado, ou seja, grande parte do PTB, do PV, do PP e do PPS, a reeleição de Kassab na capital, a vitória de Serra na disputa contra Alckmin pela liderança do PSDB e a adesão de Orestes Quércia, do PMDB, ao campo serrista, evidencia-se o grande fortalecimento que o governador José Serra obteve em São Paulo para a sua candidatura à sucessão de Lula.


2 – Na eleição de prefeitos, o bloco PSDB-DEM-PPS conquistou 306 prefeituras e obteve 10.262.947 votos no estado. Já o bloco PT-PSB-PDT-PCdoB elegeu 118 prefeitos e somou 7.258.190 votos. Os demais partidos fizeram 219 prefeituras totalizando mais de 9 milhões de votos.


Na disputa nas 72 cidades com mais de 100 mil habitantes, os mesmos blocos conquistaram respectivamente 24 prefeituras, 29 prefeituras e 19 prefeituras (neste caso apenas o PMDB, PV, PTB e PR).


Se considerarmos as 21 cidades com mais de 200 mil eleitores (que podem ir ao segundo turno) os blocos alcançaram respectivamente 8 prefeituras (apenas PSDB e DEM, incluindo a capital), 9 prefeituras (apenas PT, PSB e PDT, incluindo Guarulhos e Campinas) e 4 prefeituras (apenas PMDB e PTB).


No caso dos 39 municípios da Grande São Paulo, os blocos elegeram 14 prefeituras (incluindo a capital e apenas PSDB e DEM), 16 prefeituras e 9 prefeituras, respectivamente.


Em relação ao número de vereadores, os blocos fizeram 2180 vereadores, 1467 vereadores e 2651 vereadores cada um. 


Em relação ao número de prefeituras que dirigem, o PSDB, DEM, PT, PTB, PDT e PP registraram pequenas alterações. Tiveram crescimento significativo o PSB (de 16 para 26) e o PV (de 16 para 23). Quem mais perdeu prefeituras foi o PMDB (de 90 para 70), o PPS (de 38 para 28) e o PR (de 34 para 26).


Em relação ao número de vereadores, os maiores crescimentos foram do PT (de 517 para 711), PV (de 184 para 422), PSB (de 256 para 362), PSC (de 39 para 126), PRB (77) e do PCdoB (de 22 para 36).


3 – Numa análise mais particularizada dos resultados podemos concluir que o PSDB avançou, na medida em que reafirma sua maioria eleitoral no estado, como partido que elegeu o maior número de prefeitos, de vereadores e na votação total. Além disso, viu reforçado o seu arco de alianças com o apoio do PMDB na capital e a vitória de prefeitos de outras legendas que se somam ao seu campo. Em particular a vitória de Kassab na cidade de São Paulo retira do PSDB sua principal posição ocupada em 2004 nas capitais, mas representa uma consolidação da aliança pró-Serra com o DEM, assim como serviu para derrotar o objetivo de Geraldo Alckmin de enfraquecer a liderança de Serra na disputa interna dos tucanos.


O PSDB reelegeu alguns prefeitos em grandes municípios, ainda no primeiro turno – Piracicaba, Sorocaba, Jundiaí, São José dos Campos, Franca e perdeu em Ribeirão Preto.


O PT reafirmou sua condição de segundo maior partido do estado, e lidera em número de prefeitos nos municípios com mais de 100 mil habitantes, nos municípios com segundo turno e na Grande São Paulo. Ampliou sua bancada de vereadores e conquistou novas posições com a prefeitura de São Bernardo e de Araçatuba. Participou de todas as disputas do segundo turno com o candidato a prefeito e um vice. Participou como vice de várias composições vitoriosas em Bauru, Campinas, Rio Claro, Jaguariúna. Entretanto teve algumas derrotas significativas em Santo André, Araraquara e Botucatu.


Apesar de ter ido ao segundo turno e alcançado quase 39% dos votos da capital, a derrota de Marta Suplicy marcou negativamente os resultados do PT no plano estadual e nacional.


Diferentemente do restante do país, o DEM obteve êxitos no estado, ampliando um pouco o número de prefeituras (de 74 para 77), mantendo a terceira posição no número de vereadores e, sobretudo, elegendo os prefeitos da capital, de Ribeirão Preto e Mogi das Cruzes. Perdeu a prefeitura de Araçatuba.


O PMDB, o PPS e o PR foram os partidos que tiveram os maiores recuos tanto no número de prefeitos como no de vereadores. No caso do PMDB, pode-se registrar que o partido vem perdendo seu espaço político no estado, sob comando das suas principais lideranças Quércia e Michel Temer. Mas em particular, o ex-governador Orestes Quércia obteve êxito na composição na vice-prefeitura da capital, no acordo para o apoio a sua candidatura ao senado em 2010 e na eleição do prefeito de Araraquara. O PMDB teve ainda duas conquistas importantes na Baixada Santista com a reeleição de Santos e eleição no Guarujá.


No PPS, a orientação predominante da direção estadual e nacional de alinhamento total com os tucanos em oposição ao governo Lula tem resultado em perda de espaço político e eleitoral, gerando insatisfação em inúmeras lideranças regionais que disputaram ou venceram em municípios.


 O PV continua em crescimento no estado, foi o partido com maior incremento de vereadores (de 189 para 422) e as cidades mais importantes que dirige são Ribeirão Pires, Bebedouro. Perderam a prefeitura de Mauá.


O PTB mantém expressiva presença eleitoral no estado e teve desempenho destacado no ABC, onde elegeu os prefeitos de São Caetano e Santo André.


Na esquerda, o crescimento mais significativo é do PSB, seguido pelo PDT. O PSB reelegeu em São Vicente e Taboão da Serra e avançou em São José do Rio Preto, mas perdeu a prefeitura de São Bernardo do Campo.


Já o PDT manteve um bom desempenho, com destaque para a reeleição no primeiro turno do prefeito de Campinas, numa ampla aliança e tendo o PT como vice.


Os partidos da chamada esquerda radical – PSOL, PSTU, PCB e PCO, tiveram desempenho muito fraco e só o PSOL conseguiu eleger 7 vereadores no estado.


4 – O PCdoB colheu resultados positivos nesta disputa eleitoral fruto do esforço realizado pelo partido a partir de 2007 para reverter nossa situação de perda de espaço parlamentar e político. Iniciamos a batalha de um patamar muito baixo, com muitas dificuldades de ordem política e material.
Mostrou-se extremamente acertada a orientação de ampliar o leque de alianças com outros partidos no estado – ainda que o PT mantenha-se como o partido com o qual mais realizamos coligações, de buscar de forma ousada a filiação de novos quadros políticos e de massa para reforçar nossas fileiras e nossas candidaturas, de lançar candidaturas próprias a prefeito e chapas completas ou mais amplas de vereadores.


5 – Como conseqüência desta política, o PCdoB atuou destacadamente na capital através da pré-candidatura de Aldo Rebelo a prefeito, unindo o Bloco de Esquerda na maior capital do país (PSB-PDT-PCdoB-PRB). Posteriormente o Bloco marchou unido para uma composição com o PT em apoio a Marta Suplicy prefeita e Aldo vice. Na capital obtivemos também a maior vitória do PCdoB no estado com a eleição de dois vereadores: Jamil Murad e Netinho de Paula, o mais votado da coligação e o terceiro mais votado da cidade. Notório foi o desempenho eleitoral de Gustavo Petta que destacou-se na frente estudantil e se insere no quadro de renovação das lideranças do Partido no estado.


6 – Na disputa majoritária ainda participamos de forma limitada, lançando apenas 12 candidatos a prefeito e 17 a vice-prefeito. Mesmo assim tivemos um incremento de 281% na votação relativamente a 2004. Não conseguimos eleger prefeitos e elegemos 2 vice-prefeitos em Botucatu e Igarapava.
Nossa principal disputa se deu em Jundiaí onde a candidatura de Pedro Bigardi atingiu 35% dos votos e por apenas 600 votos não foi ao segundo turno. Também em Bocaina e Apiaí nossos candidatos atingiram 48% e 40% respectivamente. Nestes casos, haveria possibilidade real de vitória se o nosso Partido no estado se encontrasse em uma posição mais fortalecida.
Em Guarulhos enfrentamos com ousadia o desafio de fazer campanha num grande município e garantimos a eleição de um vereador com chapa completa.
A não reeleição em Barra Bonita foi um fato negativo, mas a disputa, como da vez anterior, se deu num quadro muito conturbado de abuso do poder econômico por parte do principal adversário.


O PCdoB fez parte ainda de coligações que elegeram prefeitos em 95 municípios. Entre as 200 cidades em que participamos do pleito, estão todas as de 2º turno e quase todas maiores de 100 mil habitantes.


7 – De modo geral, todas as disputas majoritárias foram positivas para nosso partido. Colocaram de forma ampla a legenda e o 65, projetaram novas lideranças e consolidaram outras no cenário local e regional, demonstraram que o PCdoB pode ser alternativa na disputa majoritária, serviram de importante experiência e aprendizado não só para o partido no município mas também para a direção estadual. No caso de Botucatu, nosso vice-prefeito teve e continua tendo um papel destacado na formação e definição do novo governo. Neste caminho, que deve continuar e ser fortalecido, teremos quadros mais preparados na elaboração e gestão dos municípios e da administração pública em geral.


Por outro lado, a experiência também demonstrou que conseguir um bom número de aliados em coligação, ter acesso ao horário de TV com tempo significativo e reunir condições materiais básicas, são fatores fundamentais para realizar uma campanha competitiva.


8 – Na eleição para as Câmaras Municipais o Partido avançou de 22 para 36 vereadores e atingimos quase 400 mil votos no estado, um incremento de 48,6% em relação à votação de 2004. Além dos municípios onde elegemos dois vereadores – São Paulo, Jaguariúna, Apiaí, Sumaré e Santana do Parnaíba, cabe destacar positivamente a retomada de vereadores em Ribeirão Preto e Mogi das Cruzes, a primeira colocação em Ferraz de Vasconcelos e Ibiúna, a reeleição de vereadores em Campinas, Guarulhos, São José do Rio Preto, Batatais, Diadema, Itaquaquecetuba e Marília.


Recuamos nossas posições em Americana, Bauru, Registro e Santa Bárbara, devido à subestimação da disputa para vereador em relação ao majoritário, dispersão de candidaturas ou conflitos internos. Não acumulamos força suficiente ainda para eleger em Santo André, Osasco, Mauá, Santos e Suzano. Nos casos de São Bernardo, Sorocaba e Jundiaí a não eleição de vereadores se deve ao processo de recente filiação de novas lideranças destes municípios, que tiveram pouco tempo para preparar as condições de coligação ou de formação de chapa. Mesmo assim, realizaram boas campanhas e o Partido sai reforçado para o trabalho local.


9 – Em perspectiva, grande desafio têm pela frente as forças políticas de São Paulo afinadas com o projeto nacional liderado pelo presidente Lula. Aqui será travada parte decisiva da batalha sucessória em 2010. O campo conservador e de centro-direita, revigorado eleitoralmente agora, tende a se aglutinar fortemente em torno da candidatura de Serra à presidência. Contarão com o apoio integral e deslavado da mídia paulista, que nunca deixou de blindar os governos do PSDB contra qualquer ameaça à sua imagem e, mais que isso, transformou-se num poder militante na oposição ao campo progressista. Eles esperam obter em São Paulo a vantagem que precisam para fazer frente ao prestígio que o governo de Lula vem alcançando no país. Para isso vão acirrar a disputa nos grandes centros urbanos e colocar a máquina dos governos para atacar os redutos populares da esquerda.


Fica claro também que é preciso interromper esta prolongada hegemonia conservadora do PSDB-DEM no governo do estado de São Paulo. Esta obstrução ao crescimento das forças sociais e políticas avançadas e identificadas com os interesses populares tem sido um dos fatores limitantes de maior impulso das transformações também em plano nacional.    
 
10 – Para estar à altura de contribuir neste enfrentamento, o PCdoB no estado precisa qualificar seu esforço de elaboração e articulação política, lutando pela aglutinação de amplas forças interessadas na continuidade das mudanças no país, ao centro e à esquerda do espectro político. Este caminho passa pela necessária aproximação entre o PT e o Bloco de Esquerda, e pela disputa junto a setores do PMDB, PTB, PV e outros partidos em contradição com as posições nacionais e estaduais. Passa também pelo esforço redobrado de diálogo com setores médios, intelectualidade e juventude e pela elevação do trabalho sindical e popular junto ao povo, principalmente nas periferias da capital, da Grande São Paulo e maiores cidades do estado.


Este campo precisa se apresentar com claro programa de mudanças para São Paulo e com uma chapa ao governo, senado e deputados efetivamente frentista, em torno de lideranças capazes de galvanizar a atenção e a confiança da sociedade.     


11 – No bojo desta luta, o Partido deve dedicar seu melhor esforço para dar continuidade ao nosso crescimento e avanço. Prosseguir no espírito da ousadia política, aproveitando os espaços conquistados como alavanca para chegar a outro patamar. A vitória obtida pelo PCdoB em plano nacional deve servir de referência e estímulo para enfrentar com mais dedicação, unidade e perspectiva estratégica os próximos desafios.


12 – No plano imediato, é preciso garantir a participação do PCdoB nos governos municipais que ajudamos a eleger e articular presença nas mesas das câmaras municipais onde for possível. De acordo com a força do Partido na cidade, o grau de participação e influência durante a campanha, a disponibilidade de quadros preparados para as funções pretendidas, devemos ocupar posições que nos aproximem das aspirações populares e da solução dos seus problemas. Ao aceitar compor cargos de governo, jamais perder de vista o compromisso com o Partido, com sua política e fortalecimento orgânico.


13 – O próximo pleito de 2010 carece de antecipada definição de objetivos e meios para garantir novas vitórias e expansão partidária. Considerando a diretriz estabelecida pelo Comitê Central de “ampliar sobremaneira a representação federal do PCdoB na Câmara dos Deputados, tendo em vista o papel decisivo nisso na correlação de forças políticas, e ligar tais objetivos a conquistas de posições políticas no âmbito dos Estados”, o partido em São Paulo deve preparar ativamente seu projeto estadual a partir de agora.


14 – Ainda em 2008 e a partir do início do próximo ano, intensificam-se as mobilizações em todas as frentes do movimento social como a Marcha das Centrais Sindicais pelo Desenvolvimento e Valorização do Trabalho no dia 3 de dezembro em Brasília, a Cúpula dos Povos em dezembro em Salvador, e o Fórum Social Mundial em janeiro, em Belém. No nível estadual, as secretarias sindical, de movimento popular, juventude e mulheres devem reunir suas comissões ampliando para participação de lideranças e responsáveis partidários dos municípios para definir seu plano de ação para o próximo ano.


15 – Entrelaçado com a luta política e social e aproveitando os avanços conquistados, a estruturação partidária deve ser elevada a maior desenvolvimento. Ampliam-se as condições de grande número de filiações, de renovação e expansão do partido nos municípios, o que deve ser respaldado por forte trabalho de formação e comunicação de modo a dar conteúdo e profundidade aos laços com a política e a ideologia do partido. Isto demanda um esforço de investimento humano e material de todo o partido, a partir do compromisso das direções estadual e municipais em sustentar estas ações. Os primeiros meses do ano devem ser dedicados especialmente a um amplo programa de cursos, encontros, seminários e palestras locais e no estado.


16 – O Comitê Estadual do PCdoB de São Paulo congratula-se com todos e todas militantes que garantiram as vitórias obtidas pelo partido em 2008. Novas conquistas e novos desafios estão diante de nós. Em janeiro, o PCdoB retornará sua representação na Assembléia Legislativa do Estado através do mandato de Pedro Bigardi e retomará sua representação na Câmara Municipal de São Paulo. Ao longo do ano vamos nos preparar para a realização do 12o. Congresso Nacional do PCdoB, destinado a renovar as perspectivas e a luta pelo socialismo. Lá chegaremos – mais fortes, mais influentes e mais organizados.



Em homenagem à Proclamação da República,


  
São Paulo, 15 de novembro de 2008
Comitê Estadual do PCdoB – SP