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Crise deve ser paga pelos ricos, concordam PCdoB, PSB e PT

Representantes do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), do Partido dos Trabalhadores (PT) e do Partido Socialista Brasileiro (PSB) estiveram reunidos em Salvador nesta terça-feira (16) para discutir a crise internacional e apontar possíveis rumos para a su

“Esse momento é importante, porque está em jogo o destino do Brasil e dos povos no mundo inteiro. Não se trata de uma crise qualquer, mas de uma crise sistêmica do capitalismo”, decretou Renato Rabelo, presidente nacional do PCdoB. O economista Carlos Lessa (PSB), ex-presidente do BNDES, ratificou a derrocada do sistema capitalista como fruto da sua própria doutrina de acúmulo excessivo de capital, fincado na especulação financeira. “O atual momento só confirma o caráter ‘crísico’ do capitalismo”, concordou Valter Pomar, secretário de relações internacionais do PT.


 
Uma das questões a ser combatida, segundo consenso da mesa de debates no turno da tarde, é quanto aos “pagamento da conta” de uma crise gerada pela matriz hegemônica do capitalismo, e que reflete na economia dos países emergentes. “Os governos progressistas, que não partilham desse mean streamin neoliberal, precisam investir na retomada do controle da sociedade sobre a produção de bens e suas implicações”, destacou Pomar. “Não há como haver crescimento se seguirmos caminhando dentro dessa retórica imposta pela hegemonia unipolar dos EUA; tampouco seremos nós a assumir o ônus dessa crise”, pontuou Lessa.


 
Desde a deflagração da crise, o real já alcançou desvalorização recorde diante das demais moedas, acumulando um percentual acima dos 47%. As estimativas indicam uma fuga de capitais em torno de R$ 90 milhões de dólares. Entre 2006 e 2008, a dívida das famílias brasileiras cresceu quatro vezes. O país, no entanto, é apontado como fundamental neste processo de fortalecimento do bloco latino-americano. “A formação dos grandes blocos econômicos é uma questão de sobrevivência e, no nosso âmbito, só o Brasil pode assumir os custos deste processo que, a longo prazo, vai consolidar a nossa economia enquanto referência regional e mesmo mundial”, destacou o secretário de relações internacionais do PT. 


 
Medidas emergenciais



Justiça, integração social e a geração de emprego e renda forma destacados como prioridades para a superação da crise. “O fortalecimento do trabalho frente ao capital e o aumento da sua presença na geração de riquezas e desenvolvimento econômico é imprescindível”, definiu Valter Pomar. “É preciso haver unidade entre os trabalhadores e o setor produtivo nacional”, complementou Renato Rabelo.
 


A crise alimentar e a alta dos juros também permearam o centro dos debates, com a concordância da necessidade de se voltar a investir na agricultura familiar – gerador dos bens primordiais e de primeira necessidade – e de combate à política macro-econômica. “A saída não é a recessão, mas a expansão econômica com investimentos no mercado interno”, ressaltou Renato Rabelo. Neste sentido, a construção do gasoduto ligando Argentina, Venezuela e Brasil foi ressaltada como elo de união entre três nações que se equilibram. “Esse gasoduto pode ser a coluna vertebral da integração energética na América do Sul”, defendeu o economista Carlos Lessa.
 


A proposta de integração defendida em coro uníssono é da ordem, também, política, por um projeto maciço de soberania da economia nacional, com investimentos públicos e em infra-estrutura. “Para enfrentar a grande oligarquia financeira, ainda forte em nosso continente, é preciso agir imediatamente contra a alta de juros e a especulação financeira, com o estabelecimento de parcerias estratégicas entre os países vizinhos”, destacou o presidente da legenda comunista.


 
Para Renato Rabelo, a base para o pensamento de retomada do processo de grandes transformações sociais, políticas e econômicas é a conscientização política da classe trabalhadora e das formas de organização, rumo a um movimento de luta política e em sintonia com as bandeiras de luta dos partidos.  “A única saída é revolucionária, mas ainda estamos numa postura defensiva estratégica, visando o acúmulo de forças para um ofensiva rumo à integração com soberania nacional, autonomia das economias e consolidação de justiça social”, arrematou.
 


Entre as idéias alvitradas, imperou ainda a incerteza quanto ao desfecho da crise. “Ainda está em aberto, e o seu encaminhamento será a partir da luta de classes em cada país e, a nível internacional, no âmbito dos estados”, definiu Valter Pomar. De certo, a concordância absoluta de que o debate permanente é imprescindível para o enfrentamento e superação da crise. “O debate enriquece porque aprimora as possibilidades”, afirmou o dirigente comunista.
 


De Salvador,
Camila Jasmin