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Lula cobra posição e planos de Obama para a América Latina

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta quarta-feira (17) que está na hora da América Latina “exigir” uma discussão política com o presidente eleito dos Estados Unidos, Barack Obama, para saber a relação que ele terá com a região. “Está na h

Segundo Lula, os presidentes da região não podem ser vistos como “um grupo de esquerdistas, todos revolucionários”. “Não queremos mais Aliança para o Progresso como foi feito na década de 1960 com o Brasil, ele [Barack Obama] tampouco pode olhar para a América Latina como um grupo de esquerdistas, todos revolucionários, recebendo orientação de Cuba. Já não existe mais isso na América Latina”, disse o presidente Lula.



Aos 33 mandatários presentes no encerramento da Cúpula da América Latina e do Caribe sobre Integração e Desenvolvimento, realizada por sugestão do presidente Lula na Costa do Sauípe, Bahia, o governante brasileiro afirmou que a esquerda que fazia luta armada nas décadas de 1960 e 1970 chegou ao poder na maioria dos países, ganhou as eleições e hoje está no governo.



Lula disse esperar que o presidente eleito dos Estados Unidos tenha outra visão sobre a Venezuela e que reestabeleça relações com Cuba. “Espero que o Obama tome a decisão de reatar relações diplomáticas com Cuba. Não existe mais nenhuma explicação política, sociológica, nenhum analista do mundo, um psicólogo qualquer, entenderia porque ainda existe o bloqueio a Cuba. Será que é vingança?”.



Lula destacou que, se os encontros realizados em Sauípe não tivessem apresentado avanços, já teria valido a pena pela entrada de Cuba no Grupo do Rio, oficializada ontem (16). “Só o fato do Grupo do Rio ter aprovado a volta de Cuba às instituições e instâncias multilaterais já é um feito inusitado, porque os que presidiram os países antes de nós não tiveram coragem de colocar Cuba no Grupo do Rio”.



América Latina sai mais forte de cúpula



Mas o fato é que a entrada de Cuba no Grupo do Rio foi apens um dos muitos pontos positivos da reunião. Reunidos pela primeira vez sem a presença dos Estados Unidos e da Europa, os líderes latinos e caribenhos levantaram a voz contra os países ricos e firmaram as bases para a criação da União da América Latina e do Caribe.



A decisão de criar esse organismo continental, que exclui EUA e Canadá e que pretende renegar ainda mais a Organização dos Estados Americanos (OEA), não figura na resolução final da 1ª Cúpula da América Latina e do Caribe.



O objetivo, segundo explicou hoje o presidente do México, Felipe Calderón, em coletiva de imprensa após a cúpula, é que o grupo comece a funcionar no início de 2010, coincidindo com o bicentenário do começo do processo de independência de vários países da região.



Calderón explicou que o futuro organismo multilateral englobará todos os países da América Latina, desde o Rio Bravo até a Patagônia, e contará com estrutura e funções permanentes.



Esse impulso à integração foi a mais importante decisão adotada pelos líderes reunidos no Brasil, que aprovaram também uma declaração final na qual levantaram sua voz contra os países ricos e pediram que o Primeiro Mundo assuma sua responsabilidade perante a crise econômica.



As críticas que vieram sendo feitas pelos líderes latino-americanos contra os países desenvolvidos e os organismos financeiros multilaterais foram refletidas em um texto relativamente aberto, para não desagradar nenhuma parte.



Na declaração, os líderes expressaram “grande preocupação” com a crise financeira e lembraram que “os países desenvolvidos foram os causadoras da crise e devem assumir os custos de sua solução”.



Os países em desenvolvimento, segundo o texto, “não devem ser penalizados por práticas financeiras não sustentáveis”, uma idéia sobre a qual insistiram vários participantes da cúpula, como a presidente argentina, Cristina Fernández de Kirchner.


O documento reivindicou a participação dos países em desenvolvimento na construção de uma “nova arquitetura financeira internacional”, com uma regulação eficiente e transparência no funcionamento do sistema financeiro mundial.



Entre as medidas para fazer frente à crise, os líderes encomendaram a seus ministros da Fazenda a elaboração de uma estratégia para facilitar o pagamento de intercâmbios comerciais com moedas locais e avaliar a experiência de uma possível moeda comum.



A América Latina pediu também aos países ricos regras estáveis de comércio e a eliminação de subsídios agrícolas. Fora isso, defendeu uma reforma das Nações Unidas para democratizar seus órgãos principais, especialmente o Conselho de Segurança.



O crescimento da xenofobia e a discriminação preocupam profundamente os líderes latino-americanos, que condenaram a “criminalização dos fluxos migratórios e as medidas que atentam contra os direitos humanos dos imigrantes”.



A livre circulação de pessoas, de acordo o documento, “é tão importante como a circulação de bens e os fluxos financeiros”.



À margem da declaração final, Argentina, Venezuela e Brasil assinaram um texto próprio de condenação ao racismo, a discriminação e a intolerância religiosa.



Além das críticas em direção aos países ricos, responsabilizado também pela mudança climática e suas nefastas conseqüências para os emergentes, os líderes reiteram sua aposta na cooperação sul-sul e se comprometem a analisar fórmulas conjuntas para impulsionar o desenvolvimento.



Sobre política, destacaram seu compromisso com o direito dos Estados de construir “seu próprio sistema político, livre de ameaças, agressões e medidas coercitivas unilaterais em um ambiente de paz, estabilidade, justiça, democracia e respeito aos direitos humanos”.



A cúpula também aprovou resoluções particulares que pedem o diálogo para resolver o polêmico litígio entre Reino Unido e Argentina sobre a soberania das ilhas Malvinas.



Da redação,
com agências