Mark Felt, o 'Garganta Profunda' de Watergate morre aos 95
W. Mark Felt, o ex-segundo em comando do FBI, que revelou 30 anos depois ser o 'garganta profunda', o homem que repassou a repórteres segredos que derrubaram um presidente dos Estados Unidos, faleceu na última quinta-feira (18) aos 95 anos.
Publicado 19/12/2008 19:26
Felt morreu em conseqüência de problemas cardíacos, segundo informou John D. O'Connor, um amigo da família que escreveu em 2005 o artigo para a revista Vanity Fair que revelou o segredo de Felt.
Como obscura figura central de um dos mais contundentes dramas políticos do século 20, Felt insistiu que seu alter ego permanecesse secreto quando vazou informações sobre o presidente Richard Nixon e seus auxiliares a repórteres do Washington Post.
Enquanto alguns — Nixon e auxiliares inclusive — especulavam que Felt era a fonte que ligava a Casa Branca aos fatos de junho de 1972, na sede do Comitê Nacional Democrático, ele negava enfaticamente as acusações, até que, em maio de 2005, finalmente concordou em revelá-las.
''Eu sou o cara que chamavam de Garganta Profunda'', disse Felt a O'Connor, um advogado de São Francisco, que em seguida revelou a notícia, causando enorme reboliço na mídia.
O homem que manteve seu segredo por décadas, agora morto por um ataque cardíado, não era de falar muito. Na ocasião da revelação do segredo, ele apenas acenou para a mídia, da janela da casa de sua filha, em Santa Rosa.
Muitos, inclusive aqueles que foram parar na prisão por causa do escândalo de Watergate, o chamaram de traidor, por enganar o seu chefe na época. Outros, seus simpatizantes, o saudaram como um herói por ter lançado luz sobre uma administração corrupta que tentou cobrir as tentativas que fez de sabotar oponentes.
“Felt entrou para a História, depois de conversar com seus filhos o que deveria fazer, se revelaria sua identidade ou levaria o segredo consigo quando morresse'', disse O'Connor. “Ele sofria ao pensar nas conseqüências de revelar sua identidade, achando que isto iria arruinar sua reputação. Ele seria visto como um vira-casaca ou um homem honrado?”.
Nos últimos tempos, sua filha Joan o persuadiu a ir a público e revelar quem era. Afinal, dizia ela, o repórter do Washington Post, Bob Woodward, iria até lucrar com a revelação, depois que Felt morresse. ''A gente pode ganhar algum dinheiro, que sirva para pagar algumas contas e dívidas que temos com a educação de seus netos'', disse Joan a seu pai, segundo o artigo da Vanity Fair. ''Vamos fazer isso pela família''.
A revelação encerrou uma das lendas de Wahington, que perdurou por mais de três décadas e atravessou o mandato de sete presidentes. Foi o mistério final de Watergate, o assunto de vários best-sellers e de um filme de sucesso, ''Todos os Homens do Presidente'', que inspirou uma geração de adolescentes a estudar jornalismo.