Privatização de bondinhos divide opiniões em Santa Teresa
A reforma feita pelo governo estadual no sistema de bondes em Santa Teresa, bairro histórico do centro da capital, esquentou as discussões sobre a privatização do sistema, anunciada pela Secretaria de Transportes.
Publicado 05/04/2009 17:32
Perto de receber o segundo bondinho reformado, que deve deixar, no próximo dia 18, a oficina na cidade de Três Rios, no interior fluminense, moradores, turistas e funcionários tem opiniões opiniões divergentes sobre a questão.
Nas ladeiras de Santa Teresa, não é difícil encontrar pessoas contra a privatização. Em muitas janelas, estão penduradas faixas contra a investida do governo. A artesã Edinalva Silva, por exemplo, acha que, com privatização, a passagem, que hoje custa R$ 0,60, vai subir. Isso para quem vai sentado – em pé é de graça.
O estudante Neymar Quintino também acredita em aumento de preço, mas acha que a qualidade do transporte tende a melhorar. Segundo ele, faltam composições, e os bondes estão sempre atrasados. “Acho que boa parte dos moradores quer a privatização, mas tem uma gente conservadora, que os impede de se manifestar”, afirmou.
A vendedora Arlinda Maria atribui os problemas dos bondes à falta de investimentos do governo. Para ela, nenhum serviço de transporte privatizado no Rio funciona bem. Como exemplo, citou as barcas. “Conheço pessoas que ficaram à deriva, tem barcas com problemas, que também atrasam”. “Isso sem falar no metrô, que está sempre lotado, e daqui a pouco não vai dar mais conta do povo.”
O turista alemão Christian Höffer está hospedado em Santa Teresa, no estilo “Cama e Café”, no qual fica na casa de um morador do bairro e não em hotel. Hoffer aponta no sistema a vantagem de estar ao lado das pessoas que vivem no bairro e de ter a chance de, verdadeiramente, conhecer a vida por lá. “A privatização tende a separar turistas e moradores pela questão do preço”, avaliou.
Parte dos 116 funcionários do sistema, a maioria na área operacional, também é contrária a privatização. Temem não só as demissões, mas o fim dos bondes. Afirmam que a reforma dos trilhos ficou mal feita, a rede aérea está precária e os novos bondes não se adequam às curvas porque lhes falta mobilidade. Além disso, a nova tecnologia das composições requer reparos complexos, com os quais os mecânicos não sabem lidar.
“Quando dá problema, resolvemos aqui. Temos peças sobressalentes, marcenaria, sabemos mexer com a parte elétrica e com os motores”, disse um dos trabalhadores, há mais de 30 anos na oficina, mas que prefere não se identificar. “Os novos bondes [de aço] são mais frágeis que os nossos de madeira e vivem com problemas. Precisam de peças caras que não temos e pessoas que saibam lidar com essa tecnologia”, completou.
Em entrevista à Agência Brasil, em fevereiro, o secretário estadual de Transportes, Julio Lopes, disse que a concessão é uma tendência para o setor. Segundo ele, o governo não tem condições de continuar subsidiando o sistema que tem custo deficitário. Para ele, a concessão vai melhorar o serviço, atendendo bem moradores e turistas.