Fujimori é condenado por violar direitos humanos no Peru
O ex-presidente do Peru Alberto Fujimori, de 70 anos, foi condenado, nesta terça-feira (7), a 25 anos de prisão por quatro casos de violação dos direitos humanos durante o período em que governou o Peru, entre 1990 e 2000. Ele respondeu pelas mort
Publicado 07/04/2009 14:29
Fujimori foi considerado o autor intelectual das matanças de Barrios Altos, em 1991, que deixou 15 mortos, entre eles uma criança de 8 anos. O Grupo Colina, um comando militar que operou no país durante o seu governo, cometeu os assassinatos como parte de uma operação contra supostos extremistas.
O ex-presidente também foi considerado culpado pelos assassinatos ocorridos em La Cantuta, região serrana próxima a Lima. Em 1992, nove estudantes e um professor da Universidade Nacional Enrique Guzmán y Valle foram sequestrados e mortos.
Fujimori foi ainda considerado responsável pelo sequestro do jornalista Gustavo Gorriti e do empresário Samuel Dyer, mantidos reféns no porão do Serviço de Inteligência do Exército.
Durante o julgamento, que começou em dez de dezembro de 2007, foram realizadas 160 audiências e ouvidos os depoimentos de 90 testemunhas.
O ex-presidente negou todas as acusações feitas contra ele e disse considerar o julgamento um paradoxo. ''Quem livrou o Peru do terrorismo e da instabilidade está no banco dos réus'', disse.
A Suprema Corte considera que Fujimori criou um aparato de poder que promoveu duas estratégias paralelas de luta contra grupos subversivos, uma oficial e outra clandestina — esta última teria se baseado em uma guerra suja, com violações dos direitos humanos.
A sentença foi aprovada por unanimidade. Apesar disso, o parlamentar Renzo Reggiardo, que defende Fujimori, declarou hoje que o ex-governante apelará da decisão judicial.
“Parece-me desproporcional. Os crimes que lhe são atribuídos são desproporcionais”, opinou Reggiardo em entrevista ao portal do jornal peruano El Comercio, após o anúncio da sentença. O parlamentar disse que “a pena já está dada, é preciso acatá-la e recorrer às instâncias superiores”.
O ex-presidente continuará a enfrentar a Justiça. O próximo processo a ser julgado contra ele será por haver entregue US$ 15 milhões a Vladimiro Montesinos, chefe do Serviço de Inteligência durante seu governo.
Quando o ex-presidente foi eleito, o Peru vivia uma grave crise econômica e observava o auge da guerrilha Sendero Luminoso.
Apesar da condenação, Fujimori ainda tem milhares de seguidores no Peru. Sua filha, Keiko Fujimori, deve ser candidata nas próximas eleições presidenciais e lidera as primeiras pesquisas para o pleito de 2011.
Nesta terça, simpatizantes de Fujimori e um grupo de sindicalistas se enfrentaram do lado de fora do tribunal onde acontecia a leitura da sentença.
Os fujimoristas estiveram concentrados a cerca de 200 metros da sala judicial, de onde acompanharam a leitura da sentença por um telão, e reagiram quando viram se aproximar um grupo da Confederação Geral dos Trabalhadores do Peru (CGTP), que pedia a condenação do ex-líder.
Ao atravessarem a rua, os sindicalistas gritaram ''assassinos'', enquanto os fujimoristas responderam com ''terroristas'', o que deu início a uma briga que deixou vários feridos. Um simpatizante de Fujimori foi ferido na cabeça por uma pedra jogada pelos críticos o ex-líder.
A polícia presente na área separou os dois grupos e ficou entre eles para evitar que se enfrentassem novamente.
Fato histórico
A organização humanitária Anistia Internacional (AI) afirmou, nesta terça-feira (7), que a condenação de Alberto Fujimori “é um fato histórico” na luta pela justiça.
Para Javier Zuñiga, observador da AI no julgamento do ex-governante, a decisão do júri é “crucial na luta contra a impunidade no Peru e demonstra que ninguém está de fora da justiça”.
“Fez-se justiça no Peru. Este é um dia histórico. Não é todo dia que vemos um ex-chefe de Estado ser condenado por violações dos direitos humanos como tortura e sequestro”, destacou o observador.
“Esperamos que este seja o primeiro de muitos julgamentos, tanto na América Latina como no mundo”, reiterou. Segundo a instituição, “é vital que as pessoas responsáveis por violações dos direitos humanos sejam levados aos tribunais”.
Zuñiga ressaltou que os crimes pelos quais Fujimori foi condenado “não estão sujeitos a estatutos de limitações se forem cometidos de forma extensiva, como aconteceu no Peru”.
Com agências